Por muitos anos acreditou-se que o ovo por ser rico em colesterol teria uma influência muito importante no colesterol plasmático.
O fato é que vários estudos publicados nos últimos 10 anos mostraram que a manteiga, companheira frequente do ovo, seria o grande problema. Ao contrário da manteiga, rica em gordura saturada, o ovo tem cerca de 40% de gordura saturada e 60% de gordura insaturada.
Estudo liderado pelo Prof. Victor Zhong de Chicago e publicado na prestigiosa revista JAMA em março de 2019 soma-se à vasta literatura sobre o tema, cujos principais achados divergem de estudos anteriores.
Nesse estudo, os investigadores mostraram associação positiva do ovo e colesterol com risco cardiovascular. O resultado foi obtido pela avaliação de 6 coortes, totalizando a participação de 29.615 indivíduos adultos. Entre as coortes, houve a participação de: Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study, Coronary Artery Risk Development in Young Adults (CARDIA) Study, Framingham Heart Study (FHS), Framingham Offspring Study (FOS), Jackson Heart Study (JHS) e Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis (MESA). Os pacientes foram seguidos por 17 anos e meio.
Os investigadores identificaram que o risco de desenvolvimento e morte por doença cardiovascular, incluindo doença do coração, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca aumentou nas pessoas que regularmente consumiam colesterol e ovo. Para cada 300mg de colesterol de consumo de colesterol, o risco de doença cardiovascular aumentou em 17% e a mortalidade em 18%.
O consumo de ovo não foi associado com doença cardiovascular e mortalidade após ajuste do consumo total de colesterol. O aumento de meia unidade de ovo diariamente aumentou o risco de doença cardiovascular e mortalidade inclusive nos indivíduos que consumiam uma dieta saudável, do tipo dieta do mediterrâneo ou a Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH), que significa abordagem dietética para interromper a hipertensão, em uma tradução livre.
É fato que alguns estudos mostraram a falta de relação direta entre o consumo de ovo e o colesterol plasmático.
O estudo Nurses´ Health and Health Professionals’ Studies com mais de 100 mil profissionais mostrou um efeito nulo do consumo de ovo no risco cardiovascular dos participantes. Este resultado foi replicado por Rong Y et al. em metanálise que reuniu mais de 3 milhões de participantes. O maior consumo de ovo não foi associado com o aumento do risco de doença arterial coronária ou acidente vascular cerebral.
Recentemente Chenxi Qin e cols. avaliaram a relação entre o consumo de ovo e risco cardiovascular em cerca de 500.000 participantes chineses. Neste estudo, o consumo de até 1 ovo diariamente foi associado com menor risco de doença cardiovascular, independente da presença de outros fatores de risco.
O posicionamento atual sobre o Consumo de Gorduras e Doença Cardiovascular (2021) chama a atenção de artigo de revisão sistemática em população específica, portadores de Diabetes Mellitus 2 , a DM 2. Neste grupo, o consumo diário de 1 ovo ou mais aumentou em 69% o risco para o desenvolvimento de Doença CardioVasculares - DCV quando comparados com indivíduos que ingeriram menos de 1 ovo/semana, sem associação com aumento de mortalidade.
Com algumas divergências, as pesquisas não conseguiram estabelecer a relação de causa e efeito do consumo de ovo e doença cardiovascular ou qual seria a quantidade ideal de sua ingestão para determinados grupos populacionais. O seu consumo, portanto, deve ser incentivado como parte de uma dieta com padrão alimentar adequado, atentando-se ao seu consumo diário por indivíduos com DM 2.
Max Lima é médico especialista em cardiologia e terapia intensiva,conselheiro do CFM, médico do corpo clínico do hospital israelita Albert Einstein, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia de Mato Grosso(SBCMT), Médico Cardiologista do Heart Team Ecardio no Hospital Amecor e na Clínica Vida , Saúde e Diagnóstico. CRMT 6194
Email: maxwlima@hotmail.com
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