Para começo de assunto, faço ao leitor uma declaração: sou um apaixonado por esporte e um entusiasta de como ele pode ser transformador na sociedade.
Então, hoje, em primeiro lugar, quero destacar este momento tão especial vivido pelo futebol mato-grossense, e particularmente cuiabano, com a ascensão do Cuiabá Esporte Clube à Série A do Campeonato Brasileiro que começa a ser disputado em maio de 2021. Com efeito, pode parecer das mais meteóricas a trajetória do Dourado em seus 20 anos de existência, com 13 títulos regionais no período e culminando com a subida para a elite do Brasileirão ao final do segundo ano de disputa da Série B. Meteórica parece e, de fato, é. Não há dúvida.
Mas.
Mas se este é o estopim para me animar a falar do tema, ele não é o todo. Obviamente. Porque a história do futebol de Cuiabá e, por extensão, de Mato Grosso, é muito maior. Numa rápida pincelada, basta lembrar que antes do Cuiabá E.C., outros clubes da Baixada Cuiabana já tiveram esse privilégio: Mixto e Dom Bosco, da capital, nas décadas de 1970 e 1980; assim como um representante da vizinha Várzea Grande, o Operário Várzea-grandense, que tinha sido o último, até então, a representar Mato Grosso no Brasileirão Série A, no ano de 1986.
O prefeito Emanuel Pinheiro, antenado com essa ideia de potencializar a conquista atual, há poucos dias, em entrevista a um site de notícias da capital, depois de desejar sorte ao Cuiabá E.C., destacou o apoio que pretende oferecer àqueles que, no seu entender, tanto ajudaram, e ajudam, a dignificar a história do futebol cuiabano: o Dom Bosco (do qual, por sinal, é torcedor) e o Mixto.
Dentro desse mesmo propósito partilhado, há poucos dias recebi, com muita alegria, os amigos Márcio Alencar, do Mixto Esporte Clube, juntamente com Mauricio Dias e Romildo Silva, do Clube Dom Bosco, para tentar entender melhor o momento deles e contribuir com ideias visando ao crescimento desses tradicionais times cuiabanos. Com a ascensão do Cuiabá E.C., é muito importante que todos cresçam juntos fortalecendo a cena do esporte local.
Mas, conforme disse já no início, futebol é importante, é o esporte mais apaixonante para o brasileiro, mas não é tudo. Por isso, minha grande intenção, aqui, vai nesta direção: a de poder contribuir para fortalecer o esporte mato-grossense num sentido amplo, nos dias que seguem: ir além do óbvio deste momento de glória e chamar a atenção não exatamente para os grandes, aliás neste momento, tão bem representados pelo Dourado e suas indiscutíveis conquistas. É ele a nossa vitrine, claro. Mas quero falar aqui “da outra ponta”, do reflexo possibilitado por essa vitrine em termos de horizontes.
E não somente destacando aspectos esportivos como também socioeconômicos, culturais, de impacto em nossa cidade: da periferia ao centro; dos campinhos de várzea aos miniestádios espalhados pelos bairros de toda a cidade, por todo o nosso município.
Já que a economia é sempre tão importante para o bom funcionamento de toda e qualquer cadeia de negócios, destaquemos aqui o aspecto da movimentação financeira. Segundo dados (relativos a 2018) da consultoria em finanças Ernest & Young, a pedido da CBF para analisar toda a cadeira produtiva e impacto do futebol, o futebol movimenta um total de R$ 52,9 bilhões na economia, o que representa 0,72% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Mas só gera arrecadação de R$ 761 milhões em impostos, isto é, 1,4% do total. No total, o estudo apontou que CBF, federações e clubes respondem por R$ 11 bilhões de movimentação da economia, e outros R$ 37,8 milhões são de efeitos indiretos. Por fim, somam-se ainda valores de salários, encargos sociais e impostos para chegar ao número final.
Nesse sentido, é preciso encontrar novos mecanismos para garantir competitividade perante outros mercados internacionalizando campeonatos, fair-play financeiro entre clubes e principalmente a difusão de boas práticas de gestão e governança entre clubes e federações. Utilizar mais ainda a Arena Pantanal e o Dutrinha, que será entregue em breve reformado e apto a receber competições nacionais e internacionais, assim como o Centro Oficial de Treinamento (COT) da UFMT, com sua pista de atletismo já inaugurada e pronta também para abrigar disputas em alto nível.
A profissionalização do esporte acarreta mais investimentos para o futebol, clubes bem estruturados têm maior potencial para receber novos investimentos.
A tecnologia será também catalisadora potencial para o crescimento da indústria do futebol em Mato Grosso. O tradicional hábito de assistir jogos pela televisão está mudando incentivado pelas novas plataformas de transmissão e o maior acesso à banda larga. A pandemia e a permanência forçada em casa aumentam esse consumo. Novos protagonistas de transmissão estão concorrendo para adquirir diretos de transmissão aumentando as possibilidades financeiras para os clubes e novas plataformas de transmissão geram maior interatividade com os fãs e maior possibilidade de monetização aos mesmos.
O cenário futuro para o futebol e os demais esportes em Cuiabá é, pois, bastante animador. Mas é necessário que os atores envolvidos neste complexo sistema trabalhem de forma conjunta e organizada para, assim, aproveitar o conjunto de oportunidades.
A hora e a vez do esporte em Cuiabá é agora. Pode ser agora. Só depende de nós, de nossa disposição e capacidade de trabalhar para que esse nobre objetivo seja alcançado.
Maestro Fabrício Carvalho é diretor artístico da Orquestra Sinfônica da UFMT e foi pró-reitor de Cultura, Extensão, Esporte e Vivência.
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