O mês de agosto é utilizado para promover diversas ações e iniciativas, e, dentre elas, debater fortemente a respeito dos relacionamentos íntimos e da violência contra a mulher, por meio da campanha intitulada “Agosto Lilás”.
Antes de tudo isso é necessário entender que relação abusiva é quando uma das partes exerce extremo poder sobre a outra, criando dependência e modificando comportamentos, percepções sobre si e até mesmo sobre determinados valores.
Ao contrário do que muita gente pensa, relacionamentos abusivos não incluem necessariamente apenas a violência física, mas diversas formas de agressão que muitas vezes começam de forma sutil, e, aos poucos vão destruindo a autoconfiança da pessoa que sofre abusos psicológicos ou emocionais, por isso fica ainda mais difícil identificar.
Além disso, é válido ressaltar que nem sempre é o homem que exerce esse papel de opressor ou abusador, a mulher muitas vezes desempenha este triste papel. Apesar de ser bem menos frequente e menos revelado, muitas mulheres estabelecem relações abusivas com seus parceiros, manipulando, ofendendo, criando dependência e levando a sérios prejuízos emocionais.
Eu, no trabalho que desenvolvo não responsabilizo apenas os homens, pelo caos que esse problema social tem afetado às nossas famílias, pois a situação é muito mais complexa.
Vejo que todos nós contribuímos de certa forma para esse resultado, consciente ou inconscientemente, pois trazemos essa referência abusiva de nosso sistema familiar.
Eu superei uma relação abusiva, na qual eu sofri todos os tipos de violências, da física a sexual, financeira, patrimonial e psicológica.
E quando eu estava presa naquele ciclo de violência e dependência emocional, a única coisa que eu queria de verdade, era uma receita que me fizesse controlar a minha mente, pois eu sabia o quanto aquilo tudo me fazia mal. As campanhas nem sempre eram atrativas, pois geralmente eram muito técnicas e superficiais.
Os debates midiáticos eram rasos não me atraiam, na maioria das vezes, promoviam efeito contrário, me faziam eu me sentir ainda pior, culpada, envergonhada, como se aquilo acontecesse somente comigo.
Por isso, quando criei o Projeto Supere-se, desenvolvi um programa que fala com quem está envolvido no ciclo da violência, mostrando um caminho, uma saída. Não basta só falar, é preciso ação. Por isso, o meu desejo, é transformar esse programa em uma grande política pública.
Desta forma a pergunta que eu faço é, se a forma que o tema vem sendo abortado no “Agosto Lilás”, é de fato efetiva para a pessoa que está inserida no ciclo abusivo? Será que investir grandes valores para colorir fachadas de prédios, promover debates entre uma minoria, por exemplo, resolve?
É fato que o “Agosto Lilás”, traz à tona o tema, assim como em outros meses, outros assuntos recebem esse olhar. Temos hoje um ano colorido, mas até que ponto essas ações estão apresentando uma solução para os problemas?
Eu acredito que precisamos de fato implantar políticas adequadas que resultem em saúde mental, em atendimento e segurança para as vítimas.
Penso que o debate é importante, pois traz a reflexão, mas o que de fato resolve é propor e implantar políticas públicas voltadas ao combate à violência, além de claro, promover a mudança de consciência das pessoas.
O enfrentamento às situações de violência contra a mulher, não se resolve somente com a implantação de leis, até porque o Brasil é campeão em leis, e, por muitas décadas estes atos de violência foram naturalizados por conta das nossas raízes sistêmicas familiares e culturais.
Como sociedade, precisamos avançar na direção do respeito às diferenças e na igualdade de direitos, superando preconceitos e discriminações. Ofertar de fato um sistema de apoio no que tange a violência doméstica.
Como indivíduos estamos, mais do que nunca, conscientes de que merecemos ser felizes, construirmos relações harmoniosas, expandirmos nossa criatividade e nossas habilidades.
Após superar uma relação abusiva, como advogada eu pensei que iria ajudar as pessoas por meio do meu trabalho e conhecimento de leis, mas eu percebi que era a minha experiência com a dor e as minhas formações em autoconhecimento, que de fato ajudavam mais e mais pessoas, fortalecia quem ainda estava dentro daquele ciclo da violência, e assim, hoje somos milhares de mulheres Brasil a fora superando relacionamentos abusivos.
O primeiro passo é olhar para o seu relacionamento e se você reconhecer que esse lugar não está te fazendo feliz, seja qual for o papel em que se viu, de vítima ou de abusador, precisa buscar ajuda, pois sozinho é muito difícil, o projeto “Supere-se” é uma poderosa ferramenta de apoio e superação.
Se todos fizermos a nossa parte não precisaremos de cores para nos lembrar que uma vida digna é possível, basta que cada um faça a sua parte com respeito, empatia e amor.
Sirlei Theis é advogada, gestora pública, treinadora comportamental, consteladora familiar e candidata a deputada federal.
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