Certamente o poeta mineiro Carlos Drumond de Andrade não pensou pro seu poema outro uso que não fosse o deleite do espírito. Mas a pergunta cabe agora neste momento em que o Brasil naufraga fragorosamente: “E agora, José?” Uma história de 517 anos vai morrendo dia após dia. O sistema político naufragou junto com o naufrágio da economia. Lentamente, quase sem que percebêssemos o país foi se desmontando graças à ação de um malvado sistema político construído anos após ano, governo após governo.
Em 1988 a Constituição Federal promulgada com toda a pompa escondia um mar de contradições de legisladores que misturam sentimentos e intenções. Fora uma poderosa incompetência pra enxergar o mundo daquele tempo. Muito menos de imaginar que o mundo futuro evoluiria.
A Constituição virou uma colcha de retalhos de todas as cores e não serve mais senão pra criar confusões e proteger um sistema maldito de poder. Na esteira dessa Constituição construiu o corporativismo dos poderes, a proteção extrema dos privilégios e direitos, o corporativismo dos burocratas que servem ao serviço público. E as leis subsequentes foram elaboradas à sombra protetora da tal Constituição.
Pra onde vamos? Perguntaria o poeta. “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu a noite esfriou, e agora, José? e agora, você?” Nada de resposta. A mídia murmura declarações desencontradas. Denúncias forjadas. Denúncias mal faladas.
Militares dariam conta de governar? Não. Civis? Muito menos? Políticos? Nem pensar. Economistas? Erram demais? Gestores? Perderam a compostura. Povo? Como? Analfabeto político.
Angustiados, nós brasileiros só temos o poeta pra nos consolar: E agora, José?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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