Vive-se sob processos de escolhas; a cada dia as opções se apresentam como caminhos a engendrar satisfação, alegria, alento e encanto. A tantos tais, contudo, prescindem dos masoquistas, que preferem dor e desencanto.
Escolher também é negar. Nega-se o outro que não o escolhido. E nesse negar, quantos caminhos, situações e detalhes deixam de ser apreendidos (conhecidos) que poderiam tornar-se referenciais? Somente àquele a que se revela já tem seu destino e o que se conhece antecipadamente é tão somente isca (pista) do projeto traçado.
Por que alguns cantam e outros dançam? E o pior, felizes o são, satisfeitos, resignados na existência; insatisfação é para os intelectuais, adoram a cachaçaria (ambiente) dos sisudos e circunflexos.
Mas, ao escolher, se está a assumir a responsabilidade advinda dessa liberdade? Ao menos deveria. Sabemos que não, nem sempre, talvez alguns.
Há algo muito mais interessante a ser observado nesse processo de escolha e arrisco a afirmá-lo com Schopenhauer – “Depois da escolha, depois de saber o que decidimos, é que ficamos sabendo quem de fato nós somos’... Todo ‘sim’ está também encaixado à firme negação de seu oposto e assim nos assevera o conhecimento de nós mesmos” (por Rüdiger Safranski).
Isso, verdadeiramente, nos faz cumpridores do mandamento do Templo de Delfos – conhece-te a ti mesmo-. Em tempo, assim também te conhecem.
Da mesma forma, não adianta jogar cartas com seu ‘Gênio Maligno’ (Descartes), crendo que ele, de você, esconde a bondade que carregas. Não, em absoluto. Suas escolhas dirão o quanto de bondade ou de maldade divide teu coração. O que prevalece, o que fica. Em resumo: não passarás da observação de terceiros, sempre ávidos por juízos axiológicos.
Certa vez, um conhecido general francês teria afirmado que o Brasil não é um país de homens e mulheres sérios, e, por incrível, não se conheceu reação à altura. Considerando esse contexto histórico, quando vimos (terceiro observador) caminhões de cargas acidentados sendo atacados por brasileiros, numa clara demonstração de corrupção humana e covardia, joga-se às favas a indignação, de Gaulle queda-se (ou ergue-se?) absolvido.
Essas escolhas e permissividades nos fazem conhecidos lá fora. Afinal, quem somos nós e para onde queremos ir? Chegaremos? Cada um, e cada do todo, conhece a si mesmo? Quais alternativas têm em mente o nosso povo e delas escolherão exatamente o que? O bem ou o mal?
Agostinho, ao responder se a justiça é desigual e mutável, afirmou que não; os tempos que ela preside não caminham da mesma forma. Dessa forma, torcemos para que o criador possa, em tempo de muita graça e expiação, descer seu olhar na horizontal e, ainda assim, crer na criatura, posto que, quanto aos animais “irracionais”, já foram aprovados.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito e escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com).
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