As manifestações promovidas no último domingo (12) pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pelo VPR (Vem Pra Rua), em várias capitais do país, foram um fiasco. O movimento enfrenta resistências, tanto da direita quanto da esquerda. E ainda padece com a falta de coesão discursiva, bem como com a falta de uma plataforma política bem elaborada.
Apesar da adesão de alguns partidos e grupos de esquerda aos movimentos de domingo, a principal resistência se dá no PT, que ainda guarda mágoas com os dois grupos organizadores pelos protestos em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). E o que poderia servir de contraponto às manifestações pró-Bolsonaro do último dia 07, se transformaram em mera chacota.
Consciente das dificuldades que enfrentará para se reeleger, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) havia decidido ir pro tudo ou nada no último dia 07, focando seu discurso na suposta fraude das urnas eletrônicas e no Supremo Tribunal Federal (STF). Seria esta a fórmula encontrada para calçar a justificativa de sua - cada vez mais iminente - derrota.
Os principais institutos de pesquisas apontam para uma vitória do ex-presidente Lula (PT) em segundo turno. Muito embora o petista goze de mais de 40% de rejeição, enquanto Bolsonaro amargue 60%, os grupos mais ao centro seguem perdidos na elaboração de um discurso de terceira via.
Sem uma plataforma e um discurso alternativo claro, resta a retórica de um país dividido entre esquerda e direita. E olha que existe grande espaço para isso. Sobretudo se considerarmos que este governo acabou antes do tempo. Sem qualquer projeto consistente para o país, sequer um programa de governo – apenas remakes de programas de gestões anteriores renomeados como Casa Verde Amarela (Minha Casa, Minha Vida) e Auxílio Brasil (Bolsa-Família) – ele padece em meio à crise econômica e sanitária.
O discurso basilar é “tudo culpa dos governadores, prefeitos, do STF e Congresso Nacional”. E a solução. Ah, essa é mais simples ainda. Basta centralizar o poder nas mãos do “aspira”, para evitar que o comunismo seja implantado no Brasil, restabelecendo a governabilidade perdida.
Enquanto isso, debates sobre 2021 como o combate ao desemprego, a redução da inflação de mais de 9% no acumulado dos últimos 12 meses, em que pese uma alta de mais de 60% nos somente nos combustíveis, seguem renegadas. E o preço do gás de cozinha? Alguém se lembra daquela promessa deste governo de reduzir o gás pela metade?
Isto sem entrar no mérito da gestão da pandemia, ou na falta de gestão, já que até o momento seguimos sem um Comitê de Gestão de Crise. Assim como no dia em que a justiça libertou Lula da prisão, as manifestações com falas antidemocráticas e de insubordinação do presidente Bolsonaro ecoaram mal na Bolsa de Valores do Brasil, registrando uma das piores quedas dos últimos anos, no último dia 08.
Aqueles que endeusam os mercados e defendem uma política neoliberal, prestem atenção no alerta. Ouçam o que dizem os mercados. Ou será que eles também decidiram se unir ao “complô instalado” contra o presidente? O país precisa de estabilidade política e jurídica. Precisa colocar fim à crise institucional. Para – só assim – voltara crescer.
Quem deverá ser essa figura de coalisão, que conseguirá unir direita e esquerda em torno de um projeto maior para o Brasil: Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (PV), Eduardo Leite, João Dória ou Tasso Jereissati (PSDB) ou Simone Tebet (MDB)? Essa bolsa de apostas segue à base das especulações.
*Hugo Fernandes é jornalista, especializado em Comunicação Estratégica e Marketing Político.
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