Quando nos encontramos nos aeroportos, rodoviárias, mercados, na praia, no shopping, nas ruas ou nos bares da vida e a conversa é Brasil, temos a falsa sensação que os brasileiros tem os mesmos interesses e pensam semelhante. Ledo engano. Porque a única coisa em comum é a insatisfação. No meio destas contradições e interesses nem sempre republicanos, há os governos estaduais e o federal, que foram eleitos sob o manto das reformas necessárias.
O país é feito e dominado pelas corporações que se tornaram super fortes no pós Constituição de 1988. Sejam elas de funcionários públicos ou privados, patronais, empresarias, comerciais, rural ou agro, segmentada ou ideológica, e até as confessionais. E todas estão representadas nas Assembleias Legislativas estaduais e no Congresso Nacional. Assim é o modelo de Estado que temos.
Logo, o presidente da República e os governadores, se quiserem avançar para a construção de um modelo mais justo nas questões tributárias ou administrativas, terão que fazer obrigatoriamente governos impopulares e correrem o risco de serem execrados ao final do mandato para serem reverenciados na história. Não há sinais de que alguém queira perder seu quinhão.
Governos com desejos de reeleição e populismo baratos, como foram os antecessores tanto no estado quanto na União, não farão nada além de remendos frágeis e de pouca durabilidade. Ameniza temporariamente a queda, mas não alavanca a economia e nem resolve os problemas sociais e estruturais existentes.
Se cada setor ou grupo econômico quer um país exclusivo para si e a serviço somente de seus interesses, não há possibilidade de consenso. Não proponho uma imposição, mas um enfrentamento para além dos interesses segmentados do próprio umbigo de cada setor. Isso tem um preço político chamado desgaste.
A reforma é um movimento social que tem em vista a transformação da sociedade mediante a introdução de reformas graduais e sucessivas na legislação e nas instituições já existentes afim de torná-las mais igualitárias. Reformas distinguem-se dos movimentos sociais, principalmente os mais radicais, como movimentos revolucionários. Estes tem seus heróis. Ao contrário dos revolucionários, os reformistas são vistos como algozes no momento em que estão gestando.
Existe uma ira que toda mudança provoca em todos aqueles que são atingidos por ela. Esta ira foi presenciada inclusive por grandes personagens da história ou grupos de pessoas, de hamurabi à Jesus, de Lutero às feministas do século XX.
Tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o governador Mauro Mendes tem uma tarefa dura pela frente: ou desagrada a todos e fazem história ou entram para a história como mais dos mesmos tantos que prometem na campanha e afinam na gestão. Cada um deve escolher como quer entrar para a história. No máximo em meados de 2022 já saberemos.
João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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