Bolsonaro orienta sua política externa pela mesma visão primária que aplica na política nacional. Os resultados são erros, desacertos e isolamento. O episódio mais recente está na inoportuna viagem à Rússia em meio a uma crise internacional. Não será o último. De lá, a comitiva segue para Budapeste, epicentro de um populismo autoritário que aos poucos perde força, mas ainda encontra eco em alguns lugares do mundo.
O oportunismo eleitoral fala mais forte do que as oportunidades de negócios entre as duas nações. O objetivo desta viagem está mais dentro do Brasil do que fora. Bolsonaro busca registros de reconhecimento internacional para sua tentativa de reeleição e também para mobilizar sua tropa populista no rumo de assegurar uma vaga no segundo turno presidencial. Um movimento que diminui o tamanho da presidência do país.
Mais do que isso, a presença de Bolsonaro na Rússia neste momento torna a situação do Brasil ainda mais delicada na esfera internacional. Moscou busca tutelar seu antigo satélite da época soviética, a Ucrânia, que deseja integrar a OTAN e a União Europeia. O Brasil, entretanto, é um aliado preferencial extra-OTAN dos Estados Unidos e estamos em fase de ratificação do acordo Mercosul-União Europeia. Adentrar neste imbróglio diplomático pode fazer nosso país perder de todos os lados.
É preciso pensar de forma estratégica. O Brasil acaba de dar mais um passo na direção da OCDE e uma aproximação com a Rússia somente deixa nosso país mais longe de alcançar este objetivo. A opinião vem do próprio governo. Segundo Guedes, "a agenda (na Rússia) é uma fria e um gol contra o projeto do Planalto de entrar na OCDE". Como vemos, além de inoportuna, a visita é também indesejada por parte do governo.
Na verdade, esta viagem é mais um capítulo do modo Bolsonaro de governar. Orienta-se pela base radical, despreza os interesses do Brasil e pensa, acima de tudo e de todos, em seu projeto de reeleição. Talvez esteja vivendo seu derradeiro passeio internacional antes de entregar a presidência ao sucessor, um giro por nações classificadas por ele de conservadoras, mas que na verdade são apenas versões mais bem acabadas de uma nova vertente de um populismo autocrático que ele admira.
Do ponto de vista comercial, os resultados devem ser pífios. Sem um plano estruturado e de longo prazo e sem escritórios comerciais que forneçam apoio aos empreendedores brasileiros, qualquer movimento ficará perdido no tempo. No período que dirigi a Apex, desenhamos uma ousada estratégia de presença na Ásia Central e no Leste Europeu. Mais uma iniciativa que deve estar perdida entre outros planos e novas gestões. Fato é, se não pensarmos em longo prazo, não serão viagens presidenciais que funcionarão para solucionar nossos problemas.
Estamos diante de uma viagem que nada mais é do que um capítulo antecipado de um processo eleitoral que já começou. Uma jornada que pode trazer muitos problemas em outras frentes onde precisamos avançar. Infelizmente Bolsonaro deixa o país a reboque de suas aventuras, enquanto precisamos de forma urgente resgatar nossa economia. Uma viagem inadequada, inoportuna e indesejada que passa longe de nossas prioridades, necessidades e realidade como nação.
Márcio Coimbra é Presidente da Fundação da Liberdade Econômica, cientista Político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.
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