• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Velho Refrão

Muito se fala do distanciamento da população do jogo político-eleitoral. Políticos e partidos, contudo, nada fazem para que este quadro venha mudar. Eles até gostam disso. Pois, quanto mais distantes estiver, bem mais fácil à enganação, e, uma vez enganada, nenhuma pressão ocorre para que haja mudança. Até porque é a pressão que pode obrigar os agentes políticos e públicos a tirarem o bumbum da confortável cadeira, onde se encontram sentados. E, ao se levantarem, serão obrigados a pensarem em uma ou outra resposta a um dos muitos problemas existentes.

Ainda que a tal resposta seja temporária. Temporária, já seria alguma coisa. Mas, nem isso, porém, eles estão realmente dispostos a fazê-los. Mesmo assim, afirmam: “trabalhar para e pelo povo”. Frase de efeito cantada e decantada em prosa e verso, como parte de uma peça de propaganda, de marketing. “Script” de um filme antigo. Reprisado por anos, por décadas. Ainda que um ou outro ator tenha mudado de cara, de roupa ou de partido. Mudou-se, sem ter mudado realmente, ainda que venha a se posicionar como alguém mudado.  

Nada disso. Trata-se de disfarce. Disfarce para se parecer, aos olhos do eleitorado, o que nunca foi, nem teve intenção de sê-lo. “Parece, mas não é”. Tal como a uma antiga propaganda de shampoos. Há todo um trabalho de marketing, muito bem feito, de modo que muitos acabam por “comprar” o produto candidato. Seduzido não pelo conteúdo, mas pela retórica, destituída de quaisquer substancias.

Pipoca-se o rosário de promessas. Promete-se de um tudo. Tudo que jamais será cumprido. Pois, passadas as eleições, o prometido é esquecido no escaninho da disputa. O que se vê, depois da posse, é bem outra coisa. O que se combatia antes, na época da campanha eleitoral, passa a ser prática diária do vitorioso. Prática negada, e há, neste particular, todo um aparato para desmentir o óbvio. Nem todos, porém, notam o óbvio. Isso, por outro lado, ajuda a encobrir o que está descoberto. Negado por uma corrente de torcedores. Torce-se, e descarta qualquer leitura contrária. Descarta-a com violência. Violência que, em alguns casos, chegam à agressão física, extrapolando a simples ameaças.

Ameaças, acusações e agressões que são feitas sob o cântico da liberdade de expressão. Ações que nada tem a ver com a liberdade de expressão. Esta é bem outra coisa. Em nada se assemelha com aquela. Tampouco deveria se assemelhar, até porque a liberdade de opinar-se não dá o direito de alguém agredir ou ameaçar o interlocutor. Aliás, em recente pesquisa, o IPEC registrou que 83% dos jovens entre 16 a 34 anos, consideram o debate político no ambiente virtual agressivo e intolerante.

A intolerância mata com a democracia. Uma vez morta, esfacela o que há de mais rico no viver democrático: a pluralidade. Plural própria das comunidades. Inabalável, ainda que uma ou mais delas venham a ser submetidas à ditadura, que força a uniformidade, sem, no entanto, ter êxito. Tanto que assim que se tem o fim da ditadura, o brilho do plural é o primeiro a aparecer no fundo da caverna. Brilho que clareia o antes escuro, embaçado. Claridade que requer a ajuda de todos, até para que continue firme e viva. Não apenas de meia dúzia de pessoas.

Aliás, são os movimentos sociais os agentes de mudanças no ambiente coletivo. Equivocam-se os que pensam contrariamente. Detalhe sabido. Até mesmo pelos políticos e partidos. Estes, no entanto, procuram sempre ignorar isso. Ignoram, até mesmo para não se verem em maus-lençóis, afinal, fazem tudo, e um pouco mais, para não perderem os privilégios. Valem de velhos e surrados refrão. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.



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