O período em que vivenciamos a pandemia da COVID-19 e os impactos que essa pandemia trouxe para nosso sistema educacional nacional e, porque não dizer, mundial, são inegáveis e evidentes. Nunca ficou tão claro o papel e a importância da instituição escolar e dos professores e educadores em geral para a formação das nossas crianças, jovens e adultos.
Nesse processo de elevado reconhecimento da importância do espaço escolar como muito mais do que apenas um "templo do saber", outro fator gerou inúmeras discussões, debates e constatações ao longo dos últimos 18 meses: a necessidade de adaptação dos professores ao momento emergencial que vivenciamos e também a elevada importância desses mesmos educadores no contexto formativo de boa parte da sociedade, direta ou indiretamente.
No contexto reforçou-se uma discussão que vem de longa data no Brasil, que é a discussão sobre a valorização do professor - ou da profissão docente, mais especificamente - muito focada anteriormente nas questões relativas à remuneração, mas que, atualmente, ampliou bastante a conceituação do que seria "valorização" e de como isso deveria (ou poderia) impactar na aprendizagem dos estudantes e no progresso das suas vidas e da sociedade.
Todas as mais recentes experiências educacionais bem sucedidas globalmente (Cingapura, Finlândia, Coreia do Sul, Austrália, etc), ainda que fundamentalmente diferentes em seus projetos nacionais, tinham como um sustentáculo inegociável a valorização dos professores em diversas dimensões, a saber:
• A dimensão da remuneração e carreira: definitivamente não se espera que a profissão docente seja uma das profissões mais bem remuneradas do mercado e isso não é um padrão nem um consenso mundial. No entanto é fundamental que a remuneração seja atraente o suficiente para que jovens talentos ainda em idade escolar básica se interessem pela docência e possam optar por ela ao invés de uma profissão de mercado/indústria/comércio, sem prejuízo futuro em termos de ganhos materiais e projeção de carreira;
• A dimensão do reconhecimento social: valorizar o professor deve ser parte de uma lógica intrínseca à política pública do Estado e tratado como ação corriqueira de marketing social. É extremamente importante que a sociedade enxergue a docência como uma carreira aspirável, um trabalho realizador e justo e uma posição de destaque no hall de profissões consideradas "modelo". Afim de que as crianças se inspirem em seus professores e os adultos os respeitem como guias e orientadores;
• A dimensão da formação: a profissão docente se tornou ainda mais complexa com a contemporaneidade, especialmente pela velocidade das transformações digitais, sociais e tecnológicas, bem como a própria nova dinâmica da aprendizagem surgida ao longo dessa pandemia. Assim, destinar recursos relevantes e selecionar um projeto formativo significativo, prático e aplicável à realidade brasileira também deveria fazer parte de um projeto nacional de valorização docente e de melhoria contínua do fazer pedagógico dentro das escolas e universidades;
• A dimensão dos recursos materiais: entendemos que bons e ótimos professores conseguem produzir aprendizagens em contextos complexos, porém se conseguirmos ter bons e ótimos professores em contextos organizados e bem estruturados a aprendizagem não só ocorrerá com mais frequência como numa velocidade maior. Por isso mapear corretamente as necessidades de infraestrutura e recursos pedagógicos para as escolas em geral é importante para poder extrair dos professores o máximo de sua capacidade de facilitar e promover a aprendizagem.
Imaginar uma política de Estado centrada na valorização docente nessas quatro dimensões pode ser um projeto de governo duradouro, altamente defensável do ponto de vista político, econômico e social e, sem sombra dúvida, seguro para o futuro de longo prazo. E é isso que desejamos nesse momento para o Brasil e para os professores do nosso país.
Juliano Costa é Vice-Presidente de Produtos Educacionais da Pearson LATAM.
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