A ferrovia estadual vai chamar Ferrovia de Transporte Autorizado Olacyr de Moraes ou senador Vicente Vuolo? Muitos querem que continue o nome do senador, outros aceitam a mudança e um terceiro grupo se mostra indiferente.
A coluna aproveita a discussão do momento e envereda por alguns fatos históricos que levam ao sonho de ter uma ferrovia nesta região.
Um dia a ferrovia chegou ao estado, lá em Campo Grande. Também a Porto Esperança no caminho para Corumbá. Cuiabá, capital do estado, ficou de fora. Tem um motivo geopolítico para a vinda daquela ferrovia para MT.
A alternativa de comércio daquele antigo Mato Grosso era tudo pela hidrovia Paraguai-Paraná. Cuiabá se beneficiava dela com ligações dos rios locais até o rio Paraguai. A hidrovia passava em países da Bacia do Prata, como Argentina e Uruguai.
O comércio do estado era ativo com essa região. Existiam inúmeras casas comerciais que faziam essa ligação e até funcionavam como casas bancárias. MT tinha mais atividade econômica com esses lugares do que com o Brasil do litoral. Tinha até dinheiro da Argentina e Uruguai em saladeiros ou carnes salgadas aqui no estado.
O governo federal estava com receio dessa ligação crescente daqui com aqueles países, principalmente a Argentina, rival regional do país.
Uma vez, lá atrás na história, MT se sentia tão isolado do Brasil que se tentou criar aqui a chamada República Transatlântica ou outro país. Os ingleses defendiam essa separação e a criação desse novo país.
Voltando à ferrovia. O governo Federal, com receio daquela ligação maior do estado com os países do Prata, trouxe, de forma até rápida, uma ferrovia que chegou, como já dito, a Campo Grande e região de Corumbá. A intenção era estancar aquele relacionamento com os argentinos. Carga daqui e outros lugares do estado desciam agora pela hidrovia até a altura de Porto Esperança e daí por ferrovia para São Paulo, não mais pelo Prata.
Cuiabá ficou fora da ferrovia. Criou um clima de frustação local. Ferrovia era o sinal maior de progresso. E, pior, acendeu a luz amarela de que a capital um dia poderia mudar para o sul do estado.
Essa insatisfação grudou na alma local ou o desejo forte de se ter uma ferrovia aqui também. Vuolo, que tinha sensibilidade política, incorporou o fato e soube explorar politicamente muito bem isso em Cuiabá e região ao longo do tempo.
A ferrovia já não seria uma extensão de Campo Grande para cá ou coisa parecida. Viria também de São Paulo, mas pelo lado do rio Paraná. A construção da ponte ali seria o início. Entram Olacyr, governador Mário Covas, Vuolo e até que enfim a desejada ferrovia vai um dia passar por esta cidade. Um sonho acalentado pelos mais antigos por mais de um século.
Qual o nome que vai ficar? Um em lei e outro nos documentos, contratos e tratados dos donos da ferrovia? A Baixada Cuiabana usará um nome e o Nortão outro? Sei lá.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.
E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com
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