• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Meras reflexões sobre a democracia

Segundo Aristóteles, “a democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si”. Daí a confusão entre o que é certo e o desejo individual de cada um ou de um grupo do que é certo.

Os incultos, ao serem empoderados pelo processo democrático, assumem seus desejos em nome da democracia como se suas verdades fossem inquestionáveis e seus pensamentos fossem formulações atemporais da história e da ciência. A internet tem colaborado muito para isso. Tanto que o cineasta brasileiro Arnaldo Jabor já afirmou saber “que a internet democratiza, dando acesso a todos para se expressar. Mas a democracia também libera a idiotia. Deviam inventar um "AntiSpam" para bobagens”.

Assim vão atropelando os que pensam diferente e submetendo os conhecimentos científicos e historicamente acumulados em meras narrativas pejorativas. Forma clássica de descredenciar e desqualificar os oponentes apenas porque não atendem seus propósitos. Tanto que George Bernard Shaw escreveu que “a democracia muitas vezes significa o poder nas mãos de uma maioria incompetente”.

Portanto, não é a democracia que está em crise, mas as pessoas antidemocráticas que com a possibilidade de gerenciar se alvoroçam no uso de suas prerrogativas impositivas e no desejo de manipular e transformar os que supostamente tem pensamentos diferentes em algo excludente e nefasto. Isso é mais mercantilista que idealista. Basta só visitar os países de governos ditatoriais, seja qual for, qual cor ou de qual ideologia couber.

O dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues foi ao extremo quando, nos anos 60, escreveu que “a maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são a maioria da humanidade”. Esta frase é um reflexo dos assanhamentos para um período obscuro da sociedade brasileira, mas é bom lembrar que foi com o apoio de parte considerável da sociedade.

Platão, que era mais dado a inspiração parmenidiana e, portanto, com a chamada dialética platônica, afirmava que “a democracia é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade indiferentemente a iguais e a desiguais”.

Por isso temos a sensação que entendíamos mais de democracia quando nós não a possuíamos, uma vez que sem ela queríamos uma democracia para todos. Daí o valor da frase atribuída ao pensador francês Voltaire: “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.

Hoje que temos a democracia e não precisamos lutar por ela. Utilizamos as prerrogativas conquistadas com a democracia para impor sobre os demais nossos desejos como se de todos fossem. Isto levou o cartunista brasileiro Millôr Fernandes a dizer a democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim”. Frase esta que reflete de forma cruel o momento vivido.

Bem, eu prefiro ficar com Winston Churchill que afirmou que “ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.

 

João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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