• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Alheamento

No Brasil, mal termina a publicação dos eleitos de uma eleição, já se fala em articulação, em alinhavar um ou outro nome para a próxima disputa eleitoral. Sempre foi assim. Não seria diferente agora. Mesmo por conta da pandemia, que causa dor e preocupação em grande parte da população. Conversas nessa direção veem se dando de algum tempo. Não pararam, ainda que os números de mortes sejam alarmantes. Lideranças se encontram, confabulam e traçam planos para emplacarem seus apadrinhados, eles próprios e quem estão apoiando.  

Outro dia, a imprensa divulgou a notícia de que políticos se organizam para viabilizarem o movimento “Direita Mato Grosso”, formada pelo PSL, Podemos, PSC, PRTB e Patriota, com vistas a unirem os “direitistas”. Quando, na verdade, visam à união dos chamados “bolsonaristas” no Estado. E tem no radar as eleições de 2022, com a construção de chapas fortes para as disputas das cadeiras da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal, além, é claro, a construção de candidatura ao Palácio Paiaguás, com a figura de um empresário que tenha transito livre pelos corredores da Presidência da República.

O próprio presidente, aliás, há quem diga, já escolheu deste grupo o nome que virá concorrer ao Senado. Única vaga, cujo titular hoje deve mesmo concorrer à reeleição. Apoiado, talvez, quem sabe, pela “corrente municipalista”. Embora haja, na tal corrente, resistência ao seu nome, e não é pequena, em razão do interesse do governador, também o de seu grupo. O que está obrigando o senador a tentar arrebentar as porteiras governistas. Porteiras estas entreabertas para o indicado do PP que, em reunião com membros do PSD e do governo, na residência de um deputado estadual, carimbou-o como principal nome.

Nem tudo, porém, são flores. Pontes devem ser implodidas. Afinal, o vice-governador já ensaiou entrar na disputa, e isto pode dificultar um pouco para o “progressista”, apadrinhado por um ex-governador. Bem mais quando se sabe das vontades e ambições nas cartas da manga do paletó do atual inquilino do Palácio Paiaguás. Inquilino pressionado por sua base na Assembleia Legislativa, que igualmente tem interesse individual, afinal, já não é mais permitido aliança para proporcional. Impedimento que pode ameaçar um ou outro de seus nomes.

Perigo sempre há. Não foram de graça as críticas internas do DEM, contra o seu presidente. Está em jogo a formação de chapas. Os oposicionistas, embora em lado oposto, não estão em melhores condições. Sofrem as duras marcas de seus primarismos, de suas inabilidades políticas. Inabilidade também percebida nos chamados partidos de centro, com suas reais divisões. Divisões registradas em todas as siglas partidárias. Inclusive dentro do PSL, que se acha naufragado pelas ondas turvas do ser oposição ou ser partidário do governo estadual, ainda que tenha a chefia do escritório de representação do Executivo regional em Brasília.

As correntezas do divisionismo ameaçam a esquerda, apavora o PSDB, poda o DEM e deixa capenga o MDB, que tem uma das mãos no cravo e a outra na ferradura. Articulações e desarticulações recheiam os bastidores da política. Falam apenas em nomes. Jamais em projetos alternativos de governo. Governistas batem cabeças com a briga pela indicação do vice-governador na chapa do governador. Cúpulas, tanto o dos partidos como o do Parlamento regional, também estão de olho na dita vaga. Falam, confabulam e plantam notícias.

Enquanto isso, infelizmente, de maneira passiva, assiste o eleitorado. Alheio a tudo que acontece. Distante das conversas. Apenas plateia de um espetáculo em que poderia ser bem mais, se não fosse à indisposição que o asfixia, aprisiona e o transforma de refém, ao mesmo tempo marionete nas mãos de políticos, lideranças e candidatos. Depois, sem saber o porquê, vê-se trocado, ao passo que seus anseios são substituídos pelas vontades de alguns segmentos, reforçados por frentes que se formam no Parlamento, da noite para o dia, sem qualquer proveito dele. Alheamento crônico. Inadmissível. Abominável. Perdem-se o Estado e a imensa maioria da população. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.          



0 Comentários



    Ainda não há comentários.