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Os modelos mentais

  • Artigo por Gonçalo Antunes de Barros Neto
  • 23/08/2021
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            O pensamento mais vivo é sempre inferior à mais remota sensação. Esta sentença resume em boa parte o pensamento de David Hume (Investigação Sobre o Entendimento Humano), pensador britânico (nascido na Escócia), que se tornou célebre pelo seu empirismo radical e ceticismo filosófico.

            Prossegue Hume afirmando que, embora nosso pensamento pareça ser imensamente livre, verifica-se que ele está preso a limites bastante reduzidos e que todo poder criador da mente não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais fornecidos a cada um pelos sentidos e pela experiência.

            Contudo, é necessário frisar que a mistura e composição (unidade, sentido, conexão) dos elementos do pensamento dependem da mente e da vontade. “Todas as nossas ideias ou percepções mais fracas são imitações de nossas mais vivas impressões ou percepções” (idem).

             Há, então, um princípio de conexão entre os diferentes pensamentos ou ideias da mente humana que, ao se apresentarem à memória ou à imaginação, se inserem mutuamente com certo método e regularidade.

            Conclui o citado pensador afirmando haver somente três princípios de conexão entre a ideias, a saber: o de semelhança, de contiguidade (no tempo e espaço) e de causa e efeito. Esta última é a que mais se materializa nesta reflexão.

            Sendo as pessoas racionais, buscam sempre um propósito ou intenção, como a paz, a felicidade ou ainda o conflito, se este estiver introjetado no seu modus de vida, considerando aqui aspectos oriundos das sensações externas e internas (impressões e percepções) que passou ao longo da própria existência.

            É possível mudar a trajetória de uma pessoa beligerante, hostil, que vive na defensiva e faz da conflituosidade um campo particular de tentativa de solução das próprias divagações existenciais?   

Os modelos mentais que fundamentam uma opção pessoal são dos mais variados, obrigando a Filosofia (Psicologia, Psiquiatria, Sociologia e Ciência política) desde Platão e Aristóteles até os dias atuais a debruçar sobre o SER, ENTE etc., corpo, alma, mente, desejo, vontade e paixão.   

A tarefa não é fácil, antes, da mais complexa e árdua. Não é só o ambiente e os conflitos experimentados pelo indivíduo ao longo da sua trajetória de vida, mas as percepções sobre eles, impressões, sentimentos, desejos e vontade, esta última já na condição de resultado, diria, no caso, até vítima, já que, apesar de atuar no campo da racionalidade e da consciência, a sua origem é influenciada pelos demais.

Como trabalhar uma existência assim “formatada”? Se se começar pelas causas, o tempo e as variantes desencorajariam qualquer tentativa. Pelo resultado (efeito), ter-se-ia que passar pelo convencimento, primeiro, minimizando e “repaginando” a cada instante a vontade do “indócil” vivente.

Quem se aventura?

A partir daqui nascem as soluções de matizes extremas. Começam as tentativas de fazer do complexo, panaceias de retórica matemática, como a política de aviltamento de honras e instituições, prisões e fuzilamentos, que desaguam em fundamentalismo e terrorismo.  

Meus caros, quando a maré sobe os peixes mais inteligentes e preparados acabam por confundir necessidade com protagonismo suicida, e, por incolumidade e sobrevivência moral, fogem do terreno pantanoso, de “corixos” sempre habitados por cobras venenosas.

É por aí...        

    

Gonçalo Antunes de Barros Neto (Saíto) é magistrado e tem formação em Filosofia pela UFMT (bedelho.filosofico@gmail.com).           



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