Nosso caráter é o resultado da nossa conduta.
É fantástico ouvir a revolta dos corruptores contra a corrupção. Isso se explica porque na média o brasileiro é apaixonado por corrupção. A revolta é apenas contra os corruptos que estão fora de seu grupo de representatividade.
A gíria "passar pano" significa "limpar a sujeira" de alguém, ou defender uma pessoa que cometeu (ou comete) erros. Esta evidencia está presente no duelo binário que se estabeleceu entre os governos do PT (Lula e Dilma) e o de Jair Bolsonaro.
Em um escalão mais baixo sabemos que a corrupção divulgada, veiculada, explicada e comprovada nunca foi obstáculo ou empecilho para político se eleger ou se reeleger no Brasil. Vide as eleições para preencher os cargos legislativos. Quanto maior a folha corrida, mais chances de vitória no pleito.
As falas absurdas do ex-presidente Lula, de que não viu, não sabia e não era com ele é facilmente assimilada pela militância e reproduzida a exaustão, ignorando o envolvimento de aliados, de ministros, do seu filho e da esposa.
O mesmo procedimento se repete em doses cavalares no mandato de Jair Bolsonaro. Apesar de os crimes serem evidentes e robustos com os amigos, o vizinho, os aliados de primeira e última hora, os filhos, ex-esposa e até a atual esposa, a militância passa pano sem dó nem vergonha e ainda usa o resto para lustrar a face.
Barão de Montesquieu (1689-1755) afirmou que a “corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios”. O Marquês de Maricá (1773 a 1848) já explicava que “um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto”. Por essas afirmações conseguimos entender o amor, a corrupção e o ódio apenas a alguns corruptos.
Elemento moral do próprio cidadão fica evidente dentro de um cotidiano também oneroso, mas menos perceptível: eu posso furar a fila; eu até ajudo um amigo, um conhecido ou um parente ser atendido de forma privilegiada, sem precisar passar na fila, mas fico muito chateado, nervoso e até faço barraco se alguém que não pertence ao meu grupo passar na frente ou receber algum privilegio.
Os ataques ao STF, que já vêm de muito longe, se intensificou quando o Supremo, sob a batuta do ministro Joaquim Barbosa, começou colocar na cadeia os réus do mensalão e potencializou com o ministro Alexandre de Moraes quando reagiu para estancar as fábricas de Fake News gerenciadas com financiamento inclusive de dinheiro público (uso de verbas de gabinetes) com o mero intuito de destruir reputações dos concorrentes e perpetuarem um novo grupo no poder.
Se o brasileiro na média tiver identidade ou for beneficiado pelo corrupto ele apaixona, transforma em santo, mito, fenômeno e aí passa pano. Passa tanto pano que a corrupção gosta e dá cria!
João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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