• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Armas, crise, golpe, política

            Esta semana foi particularmente crítica na onda de crises que assolam o governo Bolsonaro. A saída de seis ministros. Mas a saída dos três ministros das três armas e a do ministro da Defesa abriu uma brecha de raciocínios dentro das Forças Armadas e a sua relação com o governo. Contudo, ao analisar todos os fatos, acende-se uma luz no fim do túnel. Confesso que vinha até aqui muito pessimista. Passo a prestar atenção a partir de agora.

            Vamos pela ordem didática, na tentativa de montar um raciocínio realista:

1-      O presidente Bolsonaro sempre foi contou com o apoio das forças armadas para eventualidades políticas na sua gestão. Até mesmo para um eventual movimento de força. Os militares que se afastaram do governo disseram que as Forças Armadas estão acima de governos e são órgãos de Estado. Posição muito lúcida:

2-      Em 1964 foram levados ao poder pela força das circunstâncias políticas e da ingovernabilidade do presidente João Goulart. Fortíssimo apoio da sociedade na época. Vivi essa época como estudante em Brasília;          

3-      Em 2001 e 2002 dei palestras para oficiais da Escola de Comando e Estado Maior do Exército em Cuiabá. Nas duas vezes, jovens oficiais majores e tenentes coronéis me indagaram longamente como foi o período dos governos militares. Conheciam muito pouco e se sentiam desconfortáveis a respeito. Concluo que a geração de generais atuais se formou nas três armas depois do fim do regime militar que acabou em 1985. Estudaram outro tipo de ação como armas de apoio do Estado e não como armas da política. Resumo: nada de governar de novo! Isso explica a saída dos militares do governo Bolsonaro e o desejo de  restringir as forças armadas aos quarteis. Portanto, não existe mais o risco de um golpe militar na atualidade:

4-      Ora, o presidente Bolsonaro vem de conflito em conflito com um mundo adverso dentro do próprio governo, com o Congresso, com o STF, com os partidos de oposição e com a mídia. Sem a possibilidade de contar com as forças armadas, terá que se acertar com o mundo da política. É um exercício longo e difícil. Cheio de voltas e vindas;

5-      Agora a parte que me anima neste imbróglio. O omisso Congresso Nacional percebeu que agora ou nunca ele pode ser o mediador da democracia, do governo e da estabilidade nacional. Dois presidentes mineiros na Câmara dos Deputados e no Senado. Ambos conhecem a engenhosa cultura mineira tradicional do diálogo, dos vais-e-vens da política e trazem a história da mediação em tempo de crises. Numa boa e obrigatória articulação com o Congresso salva-se o governo Bolsonaro. Volta a estabilidade política ao país. Recoloca-se o ambicioso STF no seu lugar de judiciário e não de político-ideológico. Acalma a mídia que não sai do samba de uma nota só, e restabelece um diálogo que o presidente sozinho não consegue restabelecer;

6-      Com esta pacificação política, com o amansamento do presidente Bolsonaro, com o afastamento das forças armadas do cenário político, com a barreira do Congresso ao STF, a mídia não terá outro caminho senão enxergar a realidade da nação e sair da trincheira anti-Bolsonaro;

7-      Esta seria uma das poucas formas de se reconstruir a democracia de forma natural. Sem aventuras políticas. Em política não existe arma mais eficiente e poderosa do que a conversa. Mesmo que seja longa e penosa.

Me animei de novo com o Brasil!

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br



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