Basta lermos os noticiário estadual, ou acompanhar os boletins epidemiológicos municipais, bem como a taxa de ocupação dos leitos de unidade de terapia intensiva, ou mesmo verificar que cada um de nós neste momento conhecemos pessoalmente alguém ou mais pessoas infectadas com Covid, para concluir que alcançamos o pico novamente, se é que dessa vez a curva não foi mais alta e o tombo será maior.
Só nas últimas 24h, considerando apenas os números oficiais, afora as subnotificações, Mato Grosso registrou mais de mil casos e tombou com vinte e cinco mortes. Preste atenção: "essa margem cruel foi batida em um único dia".
Porém, em que pese isolamentos em domicílios, internações em leitos comuns e outras tantas em UTI's, incontáveis sequelas e óbitos todos os dias, a impressão que dá é que as autoridades lavaram as mãos e deixaram o povo à própria sorte, até estimulando a livre circulação e aglomerações, ou pelo menos não as impedem.
Talvez a omissão estatal no país deva ter sido crucial para o resultado da pesquisa do Lowy Institute de Sydney, perscrutando mais de 100 países, tendo catedraticamente classifivado o Brasil, dentro do ranking, como executando a pior gestão pública de combate à Pandemia do Mundo, sobretudo o Governo Federal.
Entretanto, esse diagnóstico distópico salta aos olhos em diversas unidades da Federação, a exemplo de Mato Grosso, quando o governo Mauro Mendes resolve determinar o retorno dos profissionais da Educação Pública do Estado às unidades escolares, já nos primeiros dias de fevereiro de 2021, promovendo aglomerações, sem EPI's, tampouco adequação na sua infraestrutura para elevar o nível de segurança desses ambientes.
Trata-se de uma necropolitica, que atenta contra a saúde coletiva, a dignidade e cidadania desses servidores, submetidos a estado de risco iminente de virarem estatísticas no boletins epidemiológicos.
Logo depois de patrocinar um ano torturante aos profissionais da Educação em 2020, com um sem número de providências arbitrárias e desorganizadas, quase sempre em prejuízo de todo sistema de ensino, trabalhadores e toda comunidade escolar, agora, depois de um vai-e-vem de indefinições e instabilidade, flerta com a morte.
Enquanto isso, a chanceler alemã, Angela Merkel, acaba de anunciar que não é hora de retomar as aulas, mesmo lá em que o fator endêmico está muito mais e melhor controlado do que por aqui.
E a pergunta, para quê? Vão querer convocar os alunos também?
Segundo estudo recente e inédito da Universidade da Flórida, publicado na revista científica Lancet, aferiu que crianças tem 60% de mais potencial de serem vetores do vírus, que já tem uma mutação brasileira mais rápido no contágio e letal no resultado.
Enfim, o que deveria ser feito é canalizar as riquezas e infraestrutura estatal do país para voltar a ser exemplo mundial de vacinação em massa, via SUS, para só daí pensar em ações que relaxem ainda mais o cenário atual de absoluta falta de compromisso com a defesa da vida, em primeiro lugar.
O vínculo escolar pode ser constituído de outras formas neste momento. E mesmo que não venha a ser, pode ser reparado, reposto ali na frente. Todavia, o vínculo com alguém que for abatido fatalmente pela Covid não pode ser ressuscitado. Não tem equivalência, tais conexões.
É como se numa guerra, alguém estiver mais preocupado em fazer um curso de línguas, debaixo de bombas, mísseis e rajadas de metralhadora e tiros de fuzil, do que em sobreviver.
Paulo Lemos é advogado especialista em Direito Público Administrativo.
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