• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Ventos externos

O trágico ano de 2020 caminha para o seu final com os ventos externos dando sinais de uma retomada da prosperidade em 2021, após as gravíssimas sequelas causadas pela pandemia da covid-19. O mundo contabiliza mais de 1,5 milhão de vidas perdidas e uma paralisia da economia mundial nunca vista, nem mesmo nos períodos de guerras mundiais.

De forma inédita na história da humanidade, a ciência conseguiu criar, testar e produzir em escala massiva, mais de um tipo de vacina para combater um vírus até então desconhecido. O início de programas de vacinação em massa em vários países desenvolvidos e, ao que tudo indica, de boa parte da população mundial no decorrer do primeiro semestre de 2021, contribuem para trazer otimismo sobre o desempenho da economia global no próximo ano.

A troca de guarda na presidência dos Estados Unidos ajuda a reforçar essa percepção animadora dos mercados. O presidente eleito, Joe Biden, deve implementar política externa diferente do isolacionismo trumpista, reconstruindo pontes com os aliados históricos dos EUA e com as instituições multilaterais, como a OMC e OMS. O novo líder americano sinaliza que, mesmo com as já conhecidos imperfeições e falhas cometidas nas últimas décadas por esses organismos, tais falhas somente podem ser superadas por uma aliança global que estabeleça as condições para que todos cumpram as regras comuns do jogo ou arquem com as consequências. A volta do multilateralismo não vai retirar totalmente da política externa americana seus componentes protecionistas, mas indica o reconhecimento de que é instrumento importante para o crescimento e aumento da produtividade da economia americana, ainda que a globalização, sem alguns freios, deixe sequelas sobre emprego e distribuição de renda. Biden já anunciou que dará prioridade à política de estímulos fiscais. A escolha da competente economista Janet Yellen para o posto de Secretária do Tesouro, é entendida por todos os analistas como garantia de que a política estimulativa é realmente duradoura.

O outro grande motor da economia mundial, a China, retoma sua trajetória de crescimento acelerado, após anunciar ao mundo ter controlado a disseminação do vírus em seu território. Continuará aquecendo o consumo mundial e avançando em sua política expansionista de investimentos em outros continentes, passando a competir com os Estados Unidos nas áreas do conhecimento e da tecnologia de última geração, como é o caso da internet de quinta geração (5G). Principal parceira comercial do Brasil, a retomada do crescimento da China traz impactos positivos diretos para nossa economia, especialmente nas exportações de commodities como petróleo cru, ferro, soja, milho e carnes.

A economia brasileira também conta com cenário positivo para 2021, com expectativa de crescimento de 3,5%, ainda que no primeiro trimestre o país ainda ressentirá alguns efeitos do quarto trimestre de 2020 que crescerá com menos força que o terceiro, em razão de algumas incertezas residuais na área política e combate assertivo à covid-19. A tração econômica deve surgir a partir do segundo trimestre de 2021.

No campo da política externa, seria muito salutar o Brasil entender não ser sensato se desentender com seus principais parceiros comerciais, China, Estados Unidos e países da zona do Euro. Melhor é aproveitar os bons ventos que soprarão do exterior para solucionar nossos problemas internos, implementando as reformas nas áreas fiscal, tributária, ambiente de negócios, infraestrutura, sustentabilidade social e ambiental. Aproveitar o momento para abandonar a ridícula e infrutífera vassalagem aos Estados Unidos, interromper as ostensivas, gratuítas e repetidas hostilidades à China e dialogar com os europeus que nos cobram mais atenção para as questões de direitos humanos,  proteção ambiental e social. Enfim, colocar os interesses do país como a grande prioridade nacional.

 

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Empresarial-FIA/USP  (vivaldo@uol.com.br)



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