O tempo não é um dado do mundo, mas uma percepção subjetiva de cada qual. Tentaremos explicar esta assertiva sem adentrar na profundidade do pensamento de Berkeley, Foucault ou de Clóvis de Barros Filho.
Quem determina um ritmo? Quem exerce poder.
Se o tempo considerado pelo sujeito não estiver sob seu controle, que o vive e pratica, mas de um comando externo (como marchar, cantar determinado hino ou mesmo realizar uma tarefa, sem que o agente tenha qualquer controle de seu início e fim), então é exercício de poder, do qual derivam dois tempos, de quem o exerce e daquele que obedece.
O tempo é curto ou longo conforme a imaginação de cada sujeito, portanto, é criação da mente. É curto para quem dele quer se livrar e longo para aquele que o tem por indiferente em dada circunstância, presente.
Não existe um tempo do mundo, objetivo e universal. O que há em se cuidando de corpo é deterioração, não tempo, mesmo porque a morte (significado maior de deixar de existir) alcança cada qual em estágio diferente. Não é o tempo vivido, mas células, matéria, se decompondo. Explico.
Um acidente automobilístico envolvendo duas pessoas, um acontecimento no mundo fenomênico. O tempo da sensação, da afetação dessa causa em cada sujeito será diferente, ainda que ambos tenham sofrido iguais sequelas, na mesma proporção física. O envolvimento temporal desse fenômeno, suas consequências psicológicas, terá duração diferente em cada acidentado. Cada um terá seu tempo, sua criação temporal de dor e sofrimento, nada se tem quanto a possível existência de um dado ‘tempo objetivo do mundo’.
Nesse mesmo exemplo, o fenômeno em si fica lá para trás, como uma fotografia tirada do acontecimento, enquanto os sujeitos, dentro de seus tempos criados, imaginados, terão sensações além, imanentes e diferentes entre eles, a perdurar por cada qual. Não interessa aqui se há uma convenção social quanto a um tempo do mundo. Essa convenção não alcance esse tempo criado, somente possível no ‘eu’ da existência.
Radicalizando, seria dizer que o mundo está em cada qual, o mundo é cada um, não existem pedaços do mundo percebidos por cada sujeito.
Imaginem, leitores, alguém que pretenda ser dinâmico e ‘ligeiro’ numa faculdade de Filosofia. Com certeza, dele não se esperará profundidade. Ali não é sua vocação. O ritmo desse aprendizado exige reflexão, comparação, resultados amadurecidos por pensamentos dialéticos.
Fiquemos, por ora, assim: ‘Toda a ordem dos céus e todas as coisas que preenchem a terra - em suma, todos aqueles corpos que compõem a enorme estrutura do mundo - não possuem nenhuma subsistência sem uma mente’(George Bekerley).
Para finalizar, o ritmo é imposto por quem tem poder. Subverte isso e descobrirá liberdade na existência.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito pela UFMT, autor da página Bedelho. Filosófico do Face, Insta, Twitter e YouTube, e escreve aos domingos em A Gazeta.
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