• Cuiabá, 03 de Dezembro - 00:00:00

2022, ano do Jumanji a brasileira

Jumanji é um filme de ficção cujo enredo da sua história apresenta um grupo de quatro estudantes que encontra um game que se passa na floresta, para onde eles acabam sendo transportados. A única forma de escapar é vencendo os desafios do local.

Na saída de 2021, já vislumbrando o ano de 2022, conversei com várias pessoas sobre as eleições de outubro próximo, que elegerá deputados estaduais e federais juntamente com um senador, mais governadores e, principalmente, presidente da República. Constatei que o sentimento da imensa maioria é binário, em que o combustível de suas escolhas passa pelo medo e pelo ódio. Maquiavel já afirmara que “o homem ofende ou por medo ou por ódio”. Teremos muitas ofensas!

Entre uma escolha e outra é perceptível que o ano de 2022 se apresenta como se fosse um filme de ficção (Jumanji), onde o game promove uma batalha entre viver ou morrer ou, na melhor das hipóteses, ser escravizado, pois traz consigo um desafio para uma parte considerável de brasileiros que não conseguem se desapegar das narrativas binárias e histéricas que promovem o medo e o ódio. Por falar em filme, Yoda afirmou que “o medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento”. O brasileiro já está sofrendo!

O ano de 2022 que chega já traz um desafio para os brasileiros que não conseguem se desapegar nem do medo e nem do ódio, para uma imensa maioria destes eleitores é como se o tempo tivesse parado numa guerra de narrativas fictícias, pois estão presos em um jogo de vídeogame que se dá entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da silva e o atual presidente Jair Messias Bolsonaro.

O eleitor que escolhe o Bolsonaro sabe das suas fragilidades, grosserias e insensatez, mas recorre a ele por puro medo ou ódio do Lula, onde o inimigo se apresenta como um combo:  PT, comunismo, esquerda e etc. Ele voltar a presidência significa para os bolsonaristas que ele transformará o Brasil em um país comunista, ou mesmo socialista (os que conversei não sabem a diferença), e vão invadir as propriedades privadas, destruir as famílias, proibir a religião e manipular o cérebro das crianças através de uma educação de ideologia de gênero e, para fechar, depois vendem a pátria para a China.

O eleitor que vai de Lula também reconhece os problemas inclusive de má gestão, de moral e sabem da corrupção que houve. Sabem dos erros cometidos pelo ex-presidente e sua trupe, mas sentem tanto ódio e até medo do Bolsonaro, imaginam que com ele no comando que nós seremos um país com políticas e regimes fascista, nazista (estes sabem a diferença), com ditadura militar, destruição do patrimônio público (privatização desenfreada), fim da cultura historicamente acumulada, fim de todos os direitos fundamentais, destruição dos empregos e, para fechar, que ele vai entregar o Brasil para a iniciativa privada através dos grandes grupos corporativos do mercado mundial e por fim o Tio Sam dará as ordens.

Uma vitória neste jogo de videogame (eleição) para qualquer lado representa uma final de campeonato, sendo seu time campeão em cima do principal desafeto. Uma vitória em cima daquilo que mais sinto ódio e medo. Será o jogo do vale tudo, pois o que vier depois será comemoração pela vitória e nada mais. Neste cenário não há espaço para mais ninguém, quanto mais para uma terceira via! Tem um sentimento que não haverá vida no pós-eleição para o grupo derrotado.

Embora as minhas perguntas não representem um pesquisa e nem uma amostragem confiável, analisar o contexto das contradições nas respostas é interessante. Os Lulistas, por exemplo, em sua maioria defendem o direito ao aborto e a eutanásia, mas são rigorosos quando o assunto é vacina e, pasmem, com o argumento de que devemos defender a vida em qualquer situação. Já os bolsonaristas são contra o aborto e contra a eutanásia porque, segundo eles, defendem a vida acima de tudo, mas são contra a obrigatoriedade da vacina. Falam que as pessoas tem o direito de escolher se querem viver, morrer ou contaminar os demais. Não veem problemas, pois defendem a liberdade de forma irrestrita. Como assim, caras pálidas? Vocês enlouquecem o psiquiatra deste jeito!

Como afirmara Simone de Beauvoir, “atroz contradição a da cólera; nasce do amor e mata o amor”.  Neste sentido, cada grupo é uma caricatura perpétua das suas próprias convicções; e a cada momento ele é discurso e contradição do que pretende ser. Vidas em bolhas! Só para constar, Jumanji é um filme muito ruim.

Enquanto um dos poucos brasileiro sem medo e sem ódio e ainda esperançoso, eu fico com Charlie Chaplin, pois “creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror” destes nefastos pensamentos binários!

 

João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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