O céu estava aberto, alegre e risonho. Ficou assim durante certo tempo. Nada parecia mudar esse cenário-fotográfico. O arco-íris continuava como símbolo da promessa divina. Ao longe, uma música a ecoar, e ecoava-se a ponto de ser ouvida cada vez mais. Pois se tinha ali a presença da liberdade. Esta não era uma sensação, nem uma doce ilusão, tampouco uma simples vontade, mas a certeza de ser vivida. E a vivia em toda a sua plenitude, sem que houvesse quaisquer empecilhos, nem mesmo em sonhos, embora alguns destes sequer pudessem ser realizados. Ainda assim o sempre querer sonhar, a exemplo de uma espécie de alimento. Vai ver, era mesmo. O alimento da autoestima, a qual jamais poderia ser outra, senão o que cada qual se sente por si mesma, como determinação de suas realizações e de suas supostas potencialidades, casando assim as pretensões e os sucessos, conforme tão bem se expressou Willian James, em 1885, e, deste modo, foi massificado pela psicologia, ainda que não seja consenso, pois há quem a tem e a vê de maneira distinta.
Isto é salutar. Opiniões diversas sobre uma dada coisa ou situação são imprescindíveis, é bom que se diga. Não apenas na psicologia, mas em todas as áreas do conhecimento e setores da vida. O que realça o viver livre, sem amarras, destituído das correntes utilizadas para a manutenção de alguém no fundo da caverna, lembrando aqui Platão, em um de seus mais famosos textos. Mesmo que tenha, e sempre há quem defenda o não escapulir-se, mas a permanência neste tipo de prisão, figurado ou não. Aliás, não fora por ocaso à criação do Índice dos Livros Proibidos, dos momentos na história em que se queimaram livros, dos ataques a autonomia da Universidade, ou, pior ainda, da imposição de mordaça ou da peia para impedir-se a movimentação espontânea e livre no interior dos educandários.
Todas estas situações foram, e são desastrosas tanto para o indivíduo quanto para o conjunto deles. Seus países se encolheram, assim como o botão que não chegou a se abrir, embora fosse seu destino se transformar em uma bela rosa; igualmente se deu com a terra completamente arrasada pelo processo erosivo, não aquele natural que ocorre de forma lenta e gradual e causa também mudanças no relevo e na vegetação; da mesma forma que aconteceu com os córregos que, no passado, cortavam a região onde se construiu a cidade.
De repente, não se mais ouvia a música, o céu ficou carrancudo, desapareceu também o tilintar dos sinos imaginários. Foi embora a luz. Parou o elevador no meio do caminho. Tudo escuro. Havia esquecido o celular em casa. Apalpando aqui e acolá, por fim, um dos botões. Foi acionado. Então, a voz do porteiro. Anunciava que muito em breve haveria o retorno da energia. Não havia outro jeito, senão esperar. Preso a uma gaiola, tal como a um pássaro, impedido de voar, embora pudesse cantar, e cantava, mas seu canto, mesmo bom aos ouvidos humanos, emitia notas de desilusão, de saudade, quase ao banzo, que atacava aos escravos. O calor era aterrorizador. O suor escorria, fazendo-se colar a camisa ao corpo, e deixava o rosto todo melado. Foram quatro minutos. Novamente a voz do porteiro, a avisar que a luz já tinha voltado, mas o elevador ali, como uma mula empacada, não se movia. O porteiro, então, sugeriu que tentasse apertar um dos botões, quaisquer dos andares, e isto foi feito, e, enfim, aquela estrutura de ferro deu seu “ar da graça”. Cumpriu inicialmente o primeiro comando, e, só depois, o segundo, em direção ao térreo. Sua porta se abriu. Ufa!... Sensação incrível! Nada é melhor do que ser livre. Mas esta condição só depende de cada pessoa, e, também, do conjunto delas, em afastar quaisquer tipos de mordaça. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
E-mail: Lou.alves@uol.com.br.
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