O Brasil precisa cuidar mais da sua própria estruturação e consolidação em um mundo cada vez mais global.
O país precisa definir suas prioridades e tratar seus problemas com clareza, enfrentando as causas e não os efeitos.
A polêmica da indústria frigorífica versus pecuaristas é um fato que se arrasta ao longo dos anos sem nada ser feito.
Nesta indústria há um desequilíbrio de forças, pois existe uma perniciosa diferença de tratamento entre os diferentes sistemas de inspeções e pior ainda, ocorrem os abates clandestinos com sérios riscos à saúde humana.
Há também na pecuária alguns velhos hábitos de uma parte de produtores que insistem em sistemas de produções superados.
O Estado, que deveria ser mediador e impulsionador, nem sempre age desta maneira.
Exemplo claro disto é quando se contestam fábricas paradas, sem estudo econômico para tal contestação.
Outro exemplo, na contramão deste assunto, são as liberações de exportação de "boi vivo".
Um simples olhar pode esclarecer pontos fundamentais.
Um certo país importa animais vivos e não produtos acabados, alegando questões de sanidade do rebanho. Vergonhosa alegação acatada pelas autoridades brasileiras.
Em outro caso a importação de animal vivo tem uma alíquota para entrar no país, enquanto o produto acabado tem uma taxação excessivamente maior. Assim o importador pode pagar aqui pela arroba mais que a indústria local, porque ao levar o produto acabado (a carne) para o mesmo país, terá uma carga tributária muito alta.
Desnecessário se faz comentar a carga tributária direta e indireta de produzir algo no Brasil. E aí se vão muitos reais na comparação com o comércio internacional.
Vemos hoje uma arroba no Brasil muito mais baixa que no resto do mundo.
O dever de casa do Estado seria o enfrentamento do problema com a abertura de novos mercados, na manutenção dos atuais e no aquecimento da própria economia.
A solução não está no ataque às consequências com liberação da exportação de animais vivos. Pelo contrário, tal ação desestruturará a indústria, para não dizer dos milhões de divisas das quais se abre mão, e de milhares de empregos diretos e indiretos que deixam de existir.
Estamos dando um passo em direção à década de 50, quando nossa política atendia elites em detrimento de populações.
Não haverá uma pecuária forte sem uma indústria forte.
O grave problema no desequilíbrio da montagem de fábricas acima da oferta de animais trouxe o convívio de uma capacidade ociosa instalada, com a qual a indústria hoje, tem dificuldade de lidar.
Uma liberação de exportação de animais vivos sem equilíbrio e sem condições em "troca" podem amenizar situações presentes, mas trazem um futuro incerto.
O comércio internacional é livre e precisa ser respeitado, porém a responsabilidade do futuro de todo um setor depende de estratégias que estão sobre nossa responsabilidade.
Cabe ao governo ser o juiz deste impasse e esperamos dele equilíbrio.
Paulo Bellincanta é presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo-MT)
email: contato@sindifrigo.com.br
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