O término de um, começo de outro. É este o vai-e-vem dos anos. Sempre foi, é e será assim. O tempo não espera por ninguém. Mesmo que as pessoas reclamem da rapidez dos ponteiros, da transformação do dia em noite, e desta naquele. Ciclo irreversível. Natural. Não apenas comum. Nada há, aqui, de estranho. Nem quando se depara com uma cena preconceituosa. Até porque inexiste pessoa que não seja preconceituosa. Ainda que se apresente como cristã, pois se recusa a praticar uma das lições de Cristo: a tolerância. E isto agride a democracia. E, estranhamente, cobra-se mais e mais democracia. Estranho, na verdade, é ainda a dificuldade dos brasileiros no viver democrático.
Viver que não se resume a ação de votar. Vai muito além da palavra “Fim” que aparece no visor da urna, tão logo se conclui a votação de cada eleitor. Embora muitos não estivessem, e não estão nem aí para o que acontece depois. Ficam alheios a tudo. Dias depois, esquecem-se até para quem votaram. Distanciam-se dos negócios públicos, das coisas públicas, sempre com a igualzinha desculpa, e, estranhamente, estufam o peito para dizer de boca cheia: “não gostarem de política”. Não percebem o óbvio: inexiste ser humano sem a política. Praticam-na até na cama. Desde que se está acompanhado, claro. Pois ela se dá entre as pessoas, nunca dentro de cada uma delas. E, desse modo, todos são desejantes. Por isto se diz, e é preciso repetir ao longo deste texto, que a política é a gestão dos desejos contraditórios e incompatíveis. Portanto, jamais poderia se restringir a meia dúzia de felizardos, escolhidos a dedo por determinação de Deus, mesmo que os tais sujeitos tenham sido escolhidos via eleição, com o fim de representarem os representados, de administrarem os negócios coletivos.
Embora estes senhores procurem, e muitas vezes conseguem transformar o público em extensão do privado. E, quase sempre, infelizmente conseguem. Aliás, as delações dos executivos da Odebrecht, de um dos donos da JBS, a do Pallocci e a do ex-governador Silval Barbosa estão repletas desses casos, onde até projetos de Leis foram pensados, elaborados, aprovados e sancionados para beneficiarem empresário-pagadores de propinas. Isto não seria possível se o interesse público estivesse sempre acima dos particulares. Não seria igualmente se os órgãos fiscalizadores cumprissem de fato seus papéis. Não daria se caso a sociedade civil resolvesse também cumprir sua tarefa, a despeito da não efetivação da Lei de Acesso a Informação. Criada, porém não respeitada por quem jamais deveria desrespeitá-la. E por aí vai.
Volta-se, então, ao ponto de partida. Retomada necessária. Imprescindível. Afinal, a política tem um espaço apropriado para que ela se dê, e este espaço não é outro, senão o essencialmente humano. Pois nunca se viu pardais deliberando (caso estejam neste estado, não se saberia, pois desconhece a sua linguagem). Delibera-se com os pares. Sempre com liberdade. Até porque a ausência e a presença desta só se notam em contato com os demais, nunca quando se está sozinho. Só, cabe dizer, se és apolítico, e em hipótese alguma político. Condição que depende dos demais. É assim na democracia. Esta não vem em uma bandeja como presente, e nem vem pronta e acabada, mas se encontra sempre em crescimento. Daí a importância da participação de todos os integrantes da comunidade, da sociedade. Verdade que se deve defender. Não apenas em ano político-eleitoral. Oh!.. 2018 se tem disputa eleitoral. É importante aqui ser cidadão, não torcedor. É isto.
Obs.: Esta coluna deseja aos leitores, bem como a todos os seus familiares, 2018 cheio de coisas boas e de realizações, e que a luz divina continue a servir-lhes de guia nessas suas caminhadas.
Lourembergue Alves é professor e estudioso do jogo político.
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