• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Não Abuse da Sorte

Um governante deve programar e planejar suas ações, além de antes ter sabido montar sua equipe. Mas não só isso. Ele precisa igualmente ter sorte. Às vezes, muito mais do que se possa imaginar, especialmente em períodos de crise. Crise como a vivida agora. O governador Pedro Taques pecou na montagem de seu secretariado, falhou no que tange a planejamento e programas e errou na condução da administração. Pode-se dizer, no entanto, que ele tem bastante sorte. Sorte, caso aproveitada, poderá virar o jogo que lhe é altamente desfavorável. E isto, claro, poderá lhe ajudar muito em uma disputa a reeleição.  

A disputa de 2018 não será igual à de 2014. Na eleição deste ano, o candidato, hoje governador, teve muitas facilidades, pois os grupos adversários se posicionaram no tablado completamente desorganizado, e, o que é pior, sem discurso algum, além de ter sobre suas costas todo o peso do desgastado governo Silval Barbosa. A situação da época, erradamente, se desmembrou em duas candidaturas, dividindo também os votos. Aí ficou fácil. Vitória em primeiro turno. Diferentemente da disputa vindoura. A gestão Pedro Taques, agora, é a vidraça, e, ao longo dos últimos três anos, cometeu os mais variados desacertos. Desacertos que serão martelados pela oposição. Tanto que lhe faltará resposta para todas as questões. Somadas as promessas ainda não cumpridas, sem falar de gabinetes desnecessários, criados para contemplar quem o ajudou na campanha de 2014, tal como o Gabinete de Transparência e Combate à Corrupção (GTCC), uma vez que o Estado já possui um órgão com as mesmas funções que passaram também a ser desempenhadas pelo dito Gabinete. Perda de tempo e de dinheiro.

 Igualmente se pode dizer com relação ao tamanho da máquina da administração pública estadual. Vinte e duas secretarias, contando com os gabinetes. Número que deveria ser reduzido para catorze, sem prejuízo algum para a gestão. Prejuízo que não ocorreria se o governo diminuísse a quantidade de secretários adjuntos de cada pasta, bem como a de superintendências. Cortes que, por certo, deixariam as pastas mais enxutas e mais dinâmicas. Mas, infelizmente, nada disso foi veiculado, apesar de ter defendido reformas administrativas.

Nada, neste sentido, porém aconteceu. O Estado ficou pesado, lento e mais burocrático. Faltou dinheiro. Chegaram a atrasar folha de pagamentos, repasses para os poderes e as transferências da saúde para os municípios. Atrasos de transferências já ocorridos em governos anteriores. Mas isto, claro, não subtrai a responsabilidade (ou a falta dela) do atual governo. Desastres que se somaram as desastrosas negociações com o funcionalismo, referentes ao RGA. Aliás, este foi um dos fatores que contribuíram para a derrota do candidato do governador e do PSDB para a prefeitura de Cuiabá. Derrota que não teve a reflexão devida. Nem mesmo os desgastes do próprio governo foram para a mesa de discussão. Resultado: mais erros. Erros que poderiam ser evitados caso o governo tivesse em suas fileiras um articulador, dialogador e negociador. Ausência agravada com a falta de tato do próprio governador. O que realça a imagem de que ele seja alguém “arrogante”, “prepotente”. Imagem que também pode ser repicada na disputa vindoura.

Portanto, não serão fáceis as coisas para o governador-candidato à reeleição. Ainda que ele seja, e é, o mais forte dos candidatos em 2018. Aliás, uma pesquisa recente do IBOPE revelou exatamente isso. Divulgada em boa hora. Igual momento em que o governo recebe montantes consideráveis, a exemplo do FEX e das dívidas da CONAB e da ENERGISA, acrescida da folga possibilitada pela aprovação da PEC do Teto. Cadê o planejamento e a programação dos gastos? Não se pode abusar da sorte. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor e analista político.



0 Comentários



    Ainda não há comentários.