Final de ano é época de listas. Para esquentar os corações natalinos, fiz uma sobre filmes protagonizados por mulheres que pode ser utilizada para discutir empoderamento feminino, posição das mulheres nas artes plásticas e processo criativo de modo geral, algo repleto de mistérios, segredos e fascínio. Aqui vão as obras selecionadas:
Camille Claudel (1989) - Direção: Bruno Nuytten
Nesta obra, é privilegiada a relação da escultora (Isabelle Adjani), com o mestre Auguste Rodin (Gérard Depardieu). Após 15 anos de um jogo amor/ódio, ele a afasta. Deprimida e com reações imprevisíveis, é internada pelo irmão mais novo, o poeta Paul Claudel, num hospital psiquiátrico. Ser diferente gera dores interiores terríveis.
Camille Claudel, 1915 (2013) - Direção: Bruno Dumont
A narrativa se passa em 1915, com a escultora, interpretada agora por Juliette Binoche, já internada. Ela deseja sair argumentando que é mentalmente sã, mas, enquanto isso, convive com todo tipo de psicótico, tendo como única esperança aguardar o retorno de uma carta enviada ao irmão Paul Claudel. Enfoca o drama de uma espera num ambiente hostil.
Carrington - Dias de Paixão (1995) - Direção: Christopher Hampton
Na Inglaterra, em 1915, a pintora Dora Carrington (Emma Thompson) se apaixona pelo escritor gay e 15 anos mais velho Lytton Strachey (Jonathan Pryce). Durante 17 anos, é estabelecido um universo complexo, em que ela e ele mantém amantes em paralelo, mas sem deixar de manter o extremo afeto um pelo outro e carreiras nem sucedidas.
Artemisia (1997) - Direção: Agnès Merlet
Artemisia Gentileschi (Valentina Cervi), embora filha de pintor, conviveu, no século XVII, com uma sociedade que não lhe permitia entrar na Academia. Ao passar a ter aulas com um artista, é estuprada. Move então um processo. É torturada, sai vencedora, mas o agressor nunca cumpriu a pena. A impunidade vem de longe!
Frida (2003) - Direção: Julie Taymor
Foca a vida da conturbada pintora Frida Kahlo (Salma Hayek). Um dos principais nomes da arte no México, é mostrada em seus casamento aberto com Diego Rivera, no romance com Leon Trotsky e nos elos com várias outras mulheres. Tudo isso em meio às terríveis dores que a acompanharam desde um terrível acidente de trânsito. Que biografia!
A Pele (2005) - Direção: Steven Shainberg
A fotógrafa Diane Arbus (Nicole Kidman) consagrou-se ao mostrar imagens que enfocavam o bizarro, o inusitado e o diferente. O filme trata da série realizada com um portador de tricotomia, uma disfunção caracterizada pelo excesso de pêlos em todo o corpo. O filme revela a possibilidade de desenvolver um trabalho belo, autoral e delicado.
Grandes Olhos (2015) - Direção: Tim Burton
É a história da pintora Margaret Keane (Amy Adams), um sucesso comercial dos anos 1950. Célebre pelos retratos de crianças com olhos grandes, teve que lutar contra o próprio marido no tribunal, já que o também pintor Walter Keane (Christoph Waltz) afirmava ser o verdadeiro autor de suas obras. É uma aula de autoconhecimento como artista e mulher.
Maudie (2016) - Direção: Aisling Walsh
Desde sua juventude, a canadense Maud Lewis (Sally Hawkins) sofre com artrite reumatoide, que causa deformações, inflamações e dores insuportáveis. Ela trabalha como empregada doméstica e, em paralelo, pinta, tornando-se uma arista conceituada em seu estilo naif. A mescla de rebeldia, resignação e humanidade comove.
La Danseuse (2016) - Direção: Stéphanie Di Giusto
Conta história de Loïe Fuller (1862 - 1928), artista norte-americana radicada na França. Interpretada por Soko, foi uma das pioneiras da dança moderna. Criou uma forma de apresentação revolucionária, com extremo esforço físico, trajes elaborados e recursos de iluminação nunca antes vistos, tornando a dança não uma diversão, mas uma arte.
Manifesto (2016) - Direção: Julian Rosefeldt
Com figurinos e sotaques diferentes, em diferentes cenários, a atriz Cate Blanchett vive 13 personagens, interpretando trechos de movimentos artísticos, que vão do 'Manifesto comunista' (1848), de Marx e Engels, às 'Regras de ouro para filmar' (2002), de Jim Jarmusch, passando pos textos dadaístas e surrealistas. Simplesmente um espetáculo!
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Oscar D'Ambrosio é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, onde atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa.
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