• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

De armadilhas

Cuiabá, 26 de outubro de 2013. Sábado morrinhento, intercalando chuva com vento e céu nublado. Chego ao hospital. Sou atendido pelo cardiologista Carlos Carretoni, que ali estava em visita a pacientes e com horário reservado para mim. Examina dali e daqui, Carretoni incluiu um tópico novo e para sempre no meu cotidiano: caminhar. Incialmente meia hora e mais adiante 50 minutos.

No domingo, 27, chego cedo ao Parque Mãe Bonifácia. Ensaio o trajeto da pista externa, naquele momento entupida por gente em busca de qualidade de vida. Desanimo. Não vou além de uns 200 metros. Em casa reflito sobre a necessidade da caminhada e tento encontrar um estímulo para cumprir a ordem do cardiologista que abaixo de Deus salvou minha vida quando sofri um infarto. Penso: coloquei quatro stends farmacológicos, o colesterol mantém obstrução significativa nas veias vitais ao meu coração. Mesmo sabendo a importância da caminhada para meu sistema circulatório e para reforçar minha luta contra os problemas de saúde que me afligiam, não sabia como começar, porque o meu astral estava bem abalado com as duas cirurgias a que me submeti e o período em que passei num leito hospitalar em Cuiabá.

Segunda-feira, 28 de outubro. Bem cedo, quando o sol ainda não aquecia nossa Cuiabá e a chuva de final de ano dava trégua, resolvi caminhar nas vielas do lugar onde moro. Percorri um trecho ainda menor do que o primeiro, no Mãe Bonifácia. Retornei para casa. Fui recebido com festa pela minha cadelinha Quiquina, que saltava sem parar como se pedisse para sair um pouco. Peguei a corrente com a coleira para um duplo atendimento: ao Carretoni e a ela.

Saímos juntos: eu e ela. Não tive tempo para desânimo, porque a vontade de correr dela era tanto, que não conseguia pensar em outra coisa senão apertar o passo para acompanha-la. A caminhada passou um pouco de 30 minutos. No dia seguinte repeti a dose e nunca mais deixei de caminhar, sempre acompanhado pela Quiquina.

Quiquina é vira-lata com sangue de poodle. Seu nome foi escolhido por minha neta Ana Júlia, por influência de uma novela infantil que tinha uma personagem chamada Maria Joaquina apelidada Quiquina. O que meus netos decidem, decidido está e a escolha da minha cuiabaninha Ana Júlia, filha dos meus filhos Jeisa e Agenor, não foi discutida por ninguém da família.

O mundo tem pressa e as pessoas estendem as mãos cada vez menos ao semelhante. O cão, no entanto, continua amigo fiel, levando a vida na mansidão, sempre pronto a oferecer um carinho, de coração aberto para amar aqueles que o acolhem. Quiquina é um anjo de quatro patinhas que Deus botou na minha vida. Hoje, celebramos quatro anos de cumplicidade e de entrega mútua nessa terra lamentavelmente cheia de armadilhas humanas.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista.

eduardogomes.ega@gmail.com



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