• Cuiabá, 06 de Dezembro - 00:00:00

Indústria em declínio

Nos últimos 4 anos, 17 indústrias fecharam as portas a cada dia no Brasil. Ao todo, no período, foram 25.376 unidades industriais fechadas, como aponta levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Já o IBGE mostrou que a produção industrial brasileira caiu 1,2% em novembro passado, configurando o pior resultado para o mês desde 2015. O resultado referente a todo ano de 2019 ainda não foi fechado, mas, com certeza, mostrará uma queda. De janeiro a novembro, a produção industrial recuou 1,1%.

Um exemplo dessa redução é a indústria calçadista de Franca (SP) - um dos principais polos fabricantes de sapatos do país. Esta semana foi divulgado que o setor encerrou 2019 com uma baixa histórica nos números, os piores em duas décadas. Em 2012, foram 39,5 milhões de pares de sapatos produzidos, já em 2019 esse número chegou a apenas 24 milhões de pares. Em 2019, a Ford fechou as portas de sua fábrica mais antiga em São Bernardo do Campo (SP). Se a situação está ruim para as grandes indústrias, imagine para os médios e pequenos industriários.

Especialistas apontam que a situação da indústria brasileira nunca foi tão grave. Não é alarmismo, os números mostram: a indústria brasileira está em declínio. O país está se desindustrializando. E um país sem indústria é um país pobre. É na indústria que estão mais empregos, melhor qualificação, melhores salários.

Os fatores para a crise na indústria brasileira precisam ser analisados detalhadamente, não é apenas resultado da crise econômica que atingiu o Brasil a partir de 2013. São muitos os problemas estruturais antigos que prejudicam a nossa competitividade. Um deles é a complexidade do sistema tributário brasileiro. Muitos impostos e outras exigências burocráticas fazem com que o empresário acabe desistindo de produzir aqui. Problemas graves de logística também tornam a produção nacional cara e, muitas vezes, inviável.

O Brasil parece estar ficando cada vez mais distante da conjuntura internacional. Enquanto economias desenvolvidas estão retomando as políticas industriais de grande porte, o Brasil não tem um plano estratégico de industrialização. E, mais grave, o país não tem sequer empresas preparadas nem escolas que preparem pessoas para a assimilação do próximo paradigma tecnológico: a indústria 4.0. 

Alguns setores industrias estão praticamente desaparecendo com o advento de produtos importados a custos extremamente baixos, como aqueles produzidos na China. Como exemplo, podemos citar nossa indústria têxtil. Não digo que devemos ter mecanismos de proteção à indústria que barrem importações e tornem nosso mercado fechado. Isto é impensável na economia global que vivemos, mas um programa de industrialização é necessário e urgente.

O presidente Donald Trump é duramente criticado por outros governantes pela guerra comercial que trava com alguns países, principalmente a China (novamente a China), mas o que ele está fazendo, algumas vezes de forma truculenta, é proteger a produção americana como um todo. Os próprios EUA viram sua indústria automotiva quase desaparecer devido à concorrência estrangeria.

Enquanto isso, desmontamos nossos mecanismos de fomento. Se não houver um choque de estímulos, o declínio continuará. A pergunta é, até que ponto? Seremos um país apenas produtor de matérias primas? Vamos nos conformar em exportar soja, algodão e outras commodities e importar alimentos industrializados, ração, tecidos, roupas, carros? Nossos trabalhadores ficarão presos a empregos precários, de baixa qualidade e renda?

Não basta apenas os governos (federal e estaduais) confiarem no crescimento econômico que se inicia e, assim, nossa indústria passará a se recuperar. É preciso organizar um projeto de industrialização para as próximas décadas.  Isso passa pela modernização tecnológica das fábricas, capacitação profissional, um novo e moderno sistema tributário, incluindo a revisão das leis trabalhistas e linhas de créditos com juros baixos, entre outros.

 

Margareth Buzetti é presidente da AEDIC e da Associação Brasileira do Segmento de Reformas de Pneus.



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