• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Deixai-me sem cura

Diante das repercussões sobre a decisão em sede de liminar do juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara de Brasília, que liberou a realização de terapias para reversão sexual por meio de tratamentos psicológicos, não poderia deixar de fazer a seguinte reflexão.

É imperioso destacar que a decisão preliminar ainda pode ser contestada em instâncias superiores. Mas a discussão envolvendo a possibilidade de “cura gay” já foi tema de grande repercussão no país. Não vou me limitar ao que todos estão a dizer, que a homossexualidade não tem cura, afinal isso é muito óbvio, afinal não se trata de doença.

Quero apenas fazer um convite a todos que acreditam que a vida pessoal alheia é fonte de desconforto a si próprio. Reflita caro interlocutor, qual é o mal que o sexo alheio lhe provoca?

Estou convencido de que a doença mais perigosa que existe é a ignorância, seja sobre si mesmo, seja sobre outrem. Ah se aqueles que ora criticam soubessem quão suave é ser livre, logo abandonariam os grilhões da incredulidade.

Sim, pois não aceitar a diversidade, e pior de tudo querer mudá-la, só pode ser um autoflagelo motivado por uma escuridão que interrompe as conexões neurais básicas da inteligência e racionalidade humana.

Aos que defendem o conservadorismo heteronormativo como única forma de existência tenha meu respeito, mas não me queiram entre vocês. Afinal, o quadro da vida que desenho é colorido, tem cores festivas, alegres e que sempre me dão a graça do movimento. Ser gay é uma questão de honra. É a manifestação de uma essência que fica à flor da pele.

Aos homossexuais, transexuais, transgêneros entre outros grupos que por ventura, estejam insatisfeitos com a própria condição, também apoio e indico: procurem um psicólogo sério, idôneo e ético, não para que lhe ministrem a cura, mas para que o ajudem a esclarecer a pergunta filosófica mais importante que um ser humano pode fazer: quem sou eu?

É bem verdade que muitos homossexuais passam por diversos transtornos ao longo da vida, principalmente na fase da puberdade, quando existe o autodescobrimento. Estes transtornos são parte de uma realidade bastante peculiar, afinal se perceber gay em uma sociedade com predominância patriarcalista é sem dúvidas um grande desafio. Não há mente que permaneça intacta ou estável.

Um gay quando está no armário precisa enfrentar uma série de obstáculos seja na igreja, na escola, na faculdade, no mercado de trabalho, na própria família ou no círculo de amigos. Por isso, que é inafastável celebrar o orgulho, não no sentido de oposição em ser hetero, mas sim em oposição ao medo e a vergonha que são sensações provocadas dentro de um armário existencial abarrotado de conceitos incapacitantes e fechado.

Aos que ainda insistem em estabelecer a premissa da homossexualidade como uma “patologia” reafirmo o convite para que continuem a refletir sobre o que de fato é essencial à existência humana. E se mesmo em última ratio comprovarem que a essência humana é uma patologia, peço por gentileza, jamais me ofereça a cura. Descobri que é melhor morrer com alegria do que viver escondido na tristeza!

 

Vinícius Bruno é jornalista.

E-mail: viniciusbrunojornalista@outlook.com



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