• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Grampos e confiança

            Há cerca de um mês está rolando com crescentes desdobramentos a estória dos grampos de telefones em Mato Grosso. Ficou conhecida como “grampolândia pantaneira”. Trago o assunto aqui porque está tomando proporções de uma novidade que não é verdadeira.

            Começo recordando o folclore dos antigos telefones de qualquer cidade brasileira. Lembro-me de estórias que me foram contadas por cuiabanos antigos. Na Travessa Joao Dias, no centro de Cuiabá existia uma central telefônica pra pouco mais de 100 assinantes. A telefonista atendia sempre que o assinante tirava o telefone do gancho. Atendia chamando pelo nome o assinante que lhe pedia pra falar com fulano/a. Quase nunca ela pedia o número do telefone. Ela sabia de cor todos os números e o nome de todos os assinantes. Não era incomum ela responder: “a dona fulana não está em casa. Brigou com o seu fulano, que bebeu muito ontem e chegou em casa tarde. Tá na casa da mãe dela. Tá braba que nem uma jararaca...” Fazia parte da rotina da cidade esse serviço semi-personalizado, meio fofoqueiro. Era ou não era um grampo à antiga?

            Portanto, essa estória de grampos é coisa antiga. Com o surgimento dos celulares esparramou-se. Mas já no tempo dos governos militares o antigo Serviço Nacional de Informações – SNI, grampeava, ainda que mais primitivo, os telefones de quem  fosse indicado por razões de segurança ou de simples arapongagem. Tudo em nome da segurança. Mais recentemente, em tempos de internet grampear ficou moleza. Grampea-se em todos os níveis e na maioria das instituições públicas. Cada uma com seu sistema de grampos. O Gaeco grampea, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça, a Assembléia Legislativa, as polícias Militar e Civil, o governo, fora instituições privadas que possuem os seus próprios sistemas de segurança e também grampeam. Tudo em nome da sua segurança. A deles, é claro!

            Aí, não é de estranhar que num determinado momento os grampos se cruzem e causem um curto-circuito como agora. Não tem anjo e nem santo nessa estória da “grampolândia pantaneira”. Ninguém sabe onde começa e nem onde termina. Cada uma das pontas se diz vitima da outra e achar um culpado geral pra servir de guarda-chuvas está virando uma paranóia. Pode ser que no final, muita gente saia arranhada e pra se livrar das suas culpas entregue outros “inocentes”. Tipo as delações de criminosos. Vira uma rede em cascata e pega gente que aparentemente estaria numa boa do lado de fora do problema. O ruim de tudo isso, é a perda de confiança nas instituições. Porém, neste momento, todas as instituições públicas brasileiras vivem a paranoia de se verem dissolver como sabão em pó!

            Ao cair em 1992, o ex-presidente Fernando Collor disse: o tempo é o senhor da razão”, tentando justificar a sua inocência. Quem sabe agora também?

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofrreribeiro.com.br  www.onofreribeiro.com.br          

           



0 Comentários



    Ainda não há comentários.