• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Óleo de peroba por atacado

Gilmar Mendes veio passear em sua terra natal e saiu daqui embasbacado. Voltando à capital federal, reclamou do flagrante ataque à ordem jurídica em Mato Grosso, por conta do "festival dos grampos", da "grampolândia pantaneira" instalada aqui, clandestina e sorrateiramente. Faltou dizer que as coisas por aqui estão mais esculhambadas do que em Brasília, mais libertinas do que no samba ou na lambada, depois das três horas da madrugada.

A sociedade aguarda o desfecho do caso, vigilante, para ver se a verdade virá à tona, ou se darão um jeito de parecer que tudo ocorreu por obra do acaso ou do arbítrio de alguns policiais militares. Como daquele cabo que teria afirmado ter alugado uma sala comercial e comprado o equipamento para as escutas marginais, por iniciativa pessoal, financiando do próprio bolso, como se fosse uma fortuna o soldo de um policial da patente dele e normal um praça sair adquirindo maquinário de interceptações telefônicas por conta própria.

É óbvio que ninguém crê nessa versão sem pé nem cabeça. Ela só gera mais certeza de que gente muito forte, peixe grande, está manipulando tudo para não cair na rede. Se até documento protocolado foi renegado, imagina o resto!?

As vendas de óleo de peroba devem ter aumentado muito, principalmente lá pelas bandas do Centro Político Administrativo, do Paiaguás. Logo, não será de admirar se ocorrer um processo licitatório para comprar o mencionado insumo por atacado. Fica mais barato!

Tudo isso seria cômico se não fosse trágico. Outro dia um humorista disse que estava muito difícil de concorrer com a realidade dos fatos, nem sempre assumida, embora esteja latente e ululante na frente da gente.

Afinal de contas, quem é o mandante? Quem se beneficiou com os grampos alienígenas? A troco do quê um cabo da polícia militar colocaria na berlinda sua carreira, com provável perda da farda, puxando a responsabilidade para si, assumindo a bronca toda solitariamente, de algo que era de manifesto interesses de terceiras pessoas com cargos públicos e outras que imediatamente bateram em retirada da "casa", com desculpa esfarrapada?

O dia que esse cabo não for mais útil para quem usou e abusou dele, simplesmente será descartado, como um caroço que é cuspido, depois de comida a massa, digerida e defecada.

Enquanto isso, sequer sabemos ou temos a segurança de que não continuamos sendo grampeados. Quem garante que não? Quando é que poderemos acreditar termos retomado a regularidade democrática e o funcionamento juridicamente escorreito das instituições de segurança pública, nos termos da Constituição? E falar sobre isso, por o dedo na ferida, gera retaliação? Estamos lidando com mocinhos ou bandidos?

São perguntas que continuam no ar, sendo que, do silêncio das autoridades responsáveis por dar uma resposta rápida, crível e convincente à população, estamos quase todos surdos, alguns cegos e outros mudos. Do jeito que a coisa está feia, se não morrer ninguém, já é lucro, para esse povo que, segundo "Santo Cristo" da música "Faroeste Caboclo" do cantor e compositor "Renato Russo": "só faz sofrer!"

Não podemos aceitar passivamente tanta patifaria, um Estado de Exceção operando na nossa frente, ou, melhor, pelas costas da gente. Isso viola todos os princípios da administração pública inscritos no caput do artigo 37 da Constituição Federal da República, configurando crime e improbidade. É gravíssimo! É um atentado à democracia e ao fundamento da cidadania.


Paulo Lemos é advogado e ex-chefe de gabinete da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso, na gestão do secretário Mauro Zaque.
 



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