Não é de hoje que o discurso político é tema desta coluna. Artigos que se multiplicaram aqui por anos, e, certamente, devem prosseguir. Isto sem falar na publicação de livros (9). Discurso político que se afasta do objeto, do fato em si, para se sustentar na retórica sem conteúdo.
Ponto em comum com o discurso jurídico. Situação que, aliás, foi assunto de um artigo científico (Revista Jurídica UNIC/EMAM). O que atrapalha e dificulta o entendimento da grande maioria da população sobre uma dada questão propriamente dita. É isto que se presencia agora, em torno da Operação Carne Fraca.
Não se fala no crime, naquilo que foi investigado por mais de dois anos pela Polícia Federal, e que resultou na referida operação. Nesta toada às avessas, a Polícia Federal foi criticada e teve seu trabalho-investigativo colocado em xeque-mate. Gente de o governo Michel Temer trouxe vários questionamentos.
Nada ou quase nada, porém, a respeito do crime cometido por alguns poucos empresários ligados ao agronegócio.
Tem-se a impressão, para não dizer a convicção, que há um quê de "proibição", um tabu na publicação das irregularidades e/ou as críticas estão relacionadas a agentes deste setor.
Aliás, tal tabu e esse quê de "proibição" ficaram bastante claros no estardalhaço que foi feito, ecoado pela mídia e pelas redes sociais, em razão de um samba-enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense (RJ).
Esta escola foi violentamente combatida, quando, na verdade, ela denunciou, no carnaval deste ano, a agressão ao meio ambiente, à natureza.
Como se o carnaval não pode ser um espaço de denúncias, e esta agressão jamais acontece, ou os índices das queimadas no campo, costumeiramente divulgados, são frutos da imaginação de alguém alheio à realidade vivida.
Talvez seja isso a razão de tanto bombardeio.Tabu e o quê de "proibição" que são reforçados agora, em relação à Operação Carne Fraca. A Polícia Federal, que é e deve ser uma polícia de Estado, transformou-se em vilã de uma hora para outra. Situação não presenciada como resultado da Operação Lava-Jato.
Não com a mesma intensidade. Pois vozes discordantes e revoltadas sempre são registradas, até mesmo contra a prisão (algemas) do ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, pela Operação Satiagraha (2008).
O discurso político, hoje, recheia-se todo pela tese de diminuição das vendas no mercado externo, e, em razão desta, pelo desemprego no agronegócio (diminuição e desemprego que são verdadeiros).
Os brasileiros carentes são, aqui, utilizados de forma errada. A Frente Parlamentar da Agropecuária, por exemplo, vai pedir a instalação de uma comissão geral no Congresso Nacional para debater e propor soluções para "os problemas criados com a divulgação por parte da Polícia Federal". Há, aqui, um grande equívoco.
Equívoco porque coloca a Polícia Federal como a causadora, a responsável pelo crime. Crime que foi cometido por alguns empresários. Trocar estes autores tonar-se muito, mas muito estranho.
Pois os problemas de que fala a Frente Parlamentar Agropecuária foram provocados por quem cometeram o crime, e não pelos investigadores. O sigilo, com a investigação concluída, seria antidemocrático, uma vez que agride o interesse público. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político
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