Eduardo Cardoso
A Igreja Católica ganhou, no Dia da Independência do Brasil, seu primeiro santo millennial dos tempos da internet. Carlo Acutis, 15 anos, foi canonizado no domingo (7), na Praça São Pedro, em cerimônia presidida pelo Leão XIV. É o primeiro nascido nos anos 1990 a integrar o cânon da Igreja. Sinal para uma geração conectada. No altar, traz consigo a simplicidade de uma gola polo, mochila nas costas, tênis e calça jeans.
Carlo nasceu em 1991, em Londres, e cresceu em Milão. Amava Assis, cidade de São Francisco. Ia à missa, rezava o terço e falava de Deus com linguagem simples. Gostava de música, cinema, videogame e do Homem-Aranha. E programava. Apaixonado por tecnologia, aprendeu sozinho design e programação. Com 11 anos, já dominava ferramentas que muitos adultos achavam complexas. Em vez de buscar autopromoção ou diversão, criou um site para catalogar milagres eucarísticos reconhecidos pela Igreja. Levou a fé às telas sem perder o pé no real.
A santidade dele tem rosto cotidiano. Ajudar os pobres. Defender colegas alvo de bullying. Consolar amigos cujos pais viviam o divórcio. Entregar o próprio tênis e voltar descalço. Recusar novos sapatos quando já tinha um par. “Santo de casa” fez, sim, milagre: converteu primeiro os de casa. Sua devoção tocou a mãe, que voltou aos sacramentos e estudou teologia para responder às perguntas do filho.
Os milagres reconhecidos vieram do Brasil e de além-mar. Em Campo Grande (MS), a cura de um menino com malformação rara no pâncreas após oração e contato com uma relíquia. Na Itália, a recuperação de uma jovem que se acidentou de bicicleta, após súplica junto ao túmulo do rapaz, em Assis. A beatificação ocorreu 2020, pelo papa Francisco, e esses casos abriram a porta da canonização.
Carlo não inventou atalho para o céu; apontou a estrada. Na autoestrada da vida, caminho e velocidade importam. Ele escolheu a via rápida do amor concreto. Foi catequista aos 11 e fez a Primeira Eucaristia aos 7. Era amigo dos simples e discreto no uso do dinheiro, apesar da boa condição da família. Organizou um acervo digital de milagres para dizer o essencial: “Jesus está vivo na Eucaristia”. Partiu cedo, vítima de leucemia, e quis repousar em Assis. Morreu com fama de santidade, e atraiu dezenas de moradores de rua e pessoas em vulnerabilidade durante seu velório.
A lição cabe em um post e numa vida inteira: santidade é possível no ordinário. Fazer o simples, com amor. Estudar, trabalhar, ajudar, rezar. Cuidar do próximo antes do “próximo clique”. Carlo integra a tradição sem nostalgia. É ponte entre o Evangelho e a nuvem de dados. Um santo de jeans que mostra que a rede também pode pescar gente. Para quem navega sem rumo, ele lembra: a prioridade é o céu.
Em 12 de outubro de 2006, Carlo Acutis morreu. Era o dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, país que testemunharia seu primeiro milagre reconhecido pela Igreja. Outra forma de dizer que estamos conectados. Aliás, também é do Brasil a primeira igreja dedicada ao santo que tinha o notebook numa mão e terço noutra.
Chamam-no “padroeiro da internet” ou “influenciador de Deus”. O rótulo importa menos que o recado. Sua história desafia o mundo moderno e mostra que a santidade não ficou nos séculos passados, não saiu de moda. Já dizia um teólogo, o Evangelho é mais atual do que o jornal que será publicado amanhã.
*Eduardo Cardoso é jornalista em Cuiabá.
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