Jacqueline Cândido
Você já sentiu a sua alma encolher? Como se cada palavra dita, cada gesto feito, fosse uma armadilha invisível pronta para te ferir? Aquela sensação de estar sempre no fio da navalha, tentando decifrar o humor alheio para evitar a próxima tempestade? Minha alma se compadece ao imaginar que, talvez, você conheça essa dor íntima.
A dor de se perguntar, em silêncio: "Será que sou eu? Será que estou enlouquecendo?" Esse sussurro angustiante costuma ser o eco de um abuso emocional. E você não está sozinha nessa sombra.
Ele não chega com a força de um furacão, mas como a névoa que lentamente encobre a paisagem. De forma quase imperceptível, começa a te despir de si mesma. Primeiro, são as "brincadeiras" sobre sua inteligência, as críticas veladas à sua aparência, a desvalorização dos seus sonhos. Depois, a teia se aperta. Você passa a ser controlada, isolada, culpada por tudo. "Você é dramática demais", "Ninguém vai te amar como eu", "Você me faz ter essas reações." Frases que se tornam feridas abertas, corroendo sua confiança, sua alegria.
Sua voz interior, antes tão clara, transforma-se num mero sussurro. Cala-se, anula-se, perde-se no labirinto de quem acredita que deveria ser para ele. O amor, que deveria ser um jardim florido, vira um deserto onde sua sede nunca é saciada.
É crucial que você entenda: essa dor não é um capricho seu. Esse nó na garganta não é invenção. O que você vive tem nome — e é uma das faces mais cruéis da violência: o abuso psicológico e emocional. Ninguém, jamais, tem o direito de roubar sua paz, de calar sua voz, de te fazer duvidar da mulher forte e inteira que você é. Ninguém.
Essa realidade tem nome, e, felizmente, também tem uma lei que a reconhece e combate. A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é um farol para nós, mulheres. Ela define com clareza a violência psicológica como aquela que "cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões."
Veja bem: cada tentativa de te controlar, de te diminuir, de te fazer acreditar que você não vale nada, é uma violação do seu direito mais sagrado — o de ser você mesma, plena e livre. Se a pergunta "Será que estou sendo vítima de abuso emocional?" te persegue, é sua alma gritando por ajuda. Confie nessa voz, nessa intuição. Ela é a semente da sua verdade. Não se isole. Busque o abraço de uma amiga, a escuta de um psicólogo, ou o apoio de organizações especializadas em violência contra a mulher.
Saiba que existem mãos estendidas, corações abertos, prontos para te guiar para fora dessa névoa. Você merece um amor que regue sua alma, não que a seque. Um amor que celebre sua essência, que veja em você a beleza que o espelho, por vezes, esconde. Você merece sorrir de novo, sem medo.
É hora de desatar os nós, de reencontrar sua força, de florescer novamente. Sua paz não é negociável. Você não está sozinha. Em caso de violência, disque 180 ou procure a Delegacia da Mulher mais próxima.
*Jacqueline Cândido de Souza é advogada, servidora pública e militante ativa na defesa dos direitos das mulheres e no enfrentamento da violência de gênero.
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