• Cuiabá, 11 de Dezembro - 00:00:00

A quem interessa?


Luciano Vacari

Finalmente após longos 25 anos de negociação, diálogo, um pouco de corpo mole e muitas viagens, representantes dos países do Mercosul e da União Europeia chegaram a um acordo em relação ao tratado de livre comércio entre os blocos. É claro que ainda falta muita coisa, por exemplo a votação por parte dos países europeus, e sobretudo colocar o acordo em prática.

Estima-se que o impacto no volume financeiro deste acordo seja da ordem de 95 bilhões de reais, somente para o Brasil, sem contar o tamanho do mercado consumidor, 720 milhões de pessoas, ou seja, o maior bloco de livre comércio do planeta. Entretanto, os cidadãos do velho continente são mestres em negociação, afinal, fazem isso a milênios. E aí temos um ponto de atenção, ou melhor, vários pontos.

Não por acaso é que daqui para lá vão, por exemplo matéria prima para ração animal (11,6%) e minérios metálicos e sucata (9,8%) ao passo em que compramos produtos farmacêuticos e medicinais (14,7%) e máquinas em geral e equipamentos industriais (9,9%). Este acordo coloca o Mercosul, principalmente o Brasil em uma situação privilegiada, afinal, somos grandes produtores de alimentos, os maiores e por que não os mais competitivos, e alimentos é uma coisa muito desejada na Europa, e levado muito a sério.

Nesses últimos 25 anos vimos de tudo quanto foi jeito os europeus inventarem motivos para não comprar, ou taxar nossos produtos. Tivemos problemas com a carne bovina, com o suco de laranja, com o café, com o açúcar e por aí vai. Ano após ano apareciam novas barreiras comerciais disfarçadas de barreiras sanitárias, e por último, barreiras ambientais.

E aqui começa nossa oportunidade.

O Brasil é o maior produtor de alimentos, fibras e energia do mundo. Somos reconhecidos interplanetariamente pela qualidade da nossa carne bovina, e mais, pelo volume e preço extremamente competitivos. Mas só isso não basta, afinal exportamos commodities, e quando se fala em commodities, a lei da oferta e demanda sempre prevalece.

Temos que ter um diferencial. Uma marca, uma garantia que além da qualidade nos torna únicos.

Imaginem o selo “FEITO NO BRASIL” em todas as etiquetas de nossos cortes mandados daqui para lá? Uma etiqueta que remeta aos aromas e sabores nacionais, com todas as garantias sanitárias, de qualidade, de boas práticas de produção e livre de desmatamento? Nenhum país do mundo tem essa oportunidade, o Brasil tem!

Está muito mais fácil do que se imagina, afinal temos um dos controles sanitários mais rígidos do mundo. A qualidade da nossa carne é invejada por todos. Produzimos com respeito social e bem estar animal, e não temos mais necessidade alguma de esconder nossos índices de desmatamento, aliás, não temos necessidade de sequer desmatar mais alguma coisa para produzir. Só precisamos mostrar e demonstrar nossos processos, isso se chama rastreabilidade.

Mas aqui fica uma pergunta. Se temos 66% de nossa área totalmente preservada, sendo que 25% dessa área pertence ao produtor rural, e mais, nossos índices de desmatamento são os menores da história, a quem interessa não termos ainda um sistema de rastreabilidade individual no rebanho bovino brasileiro?

 

*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.




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