Fábio Granja
O mercado de trabalho formal em Mato Grosso tem apresentado uma resiliência impressionante, especialmente nos últimos anos. Desde dezembro de 2020, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), foram criados mais de 216.574 novos postos de trabalho, resultando em um crescimento significativo de 22,3%, o que resultou no fechamento de agosto de 2024 um total de 969.992 empregos ativos. Esse quadro positivo se torna ainda mais relevante quando consideramos os efeitos da pandemia de Covid-19, que durou cerca de três anos e trouxe desafios sem precedentes para a economia.
Em 2024, conforme também o CAGED, Mato Grosso já registrou a criação de 51.464 novos empregos, com destaque para os setores de comércio e serviços, que abrangem 48,1% das contratações. Em seguida, temos a construção (23,4%), a indústria (18,4%) e a agropecuária (10%). No entanto, apesar desses números alentadores, o cenário do mercado de trabalho em Mato Grosso e no Brasil revela um paradoxo preocupante: a escassez de mão de obra qualificada e de pessoas interessadas em atuar no segmento formal. Isso pode ser frequentemente atribuído a desafios enfrentados por empresas que tentam preencher vagas, não apenas devido à falta de candidatos, mas também pela deficiência de interesse genuíno em assumir compromissos em empregos formais.
Diversos fatores estão intimamente ligados a essa realidade, como a informalidade e o assistencialismo, temas que serão abordados em uma outra oportunidade, pois neste momento, quero focar nas diferentes gerações que compõem a força de trabalho, já que a Geração Z, composta por indivíduos nascidos entre 1997 e 2010, representa 59% do saldo acumulado de contratações em 2024 em Mato Grosso e 70% no Brasil, porém apesar dos percentuais apresentados, tem sido apontada por outras gerações como de difícil adaptação ao mercado de trabalho formal.
As gerações Baby Boomers, X, Y e Z possuem expectativas e valores distintos, criando um ambiente que muitas vezes gera desconforto. Estudos indicam que a chegada de novas gerações traz desafios, já que diferentes expectativas, modos de trabalho e prioridades frequentemente colidem. A Geração Z valoriza experiências de trabalho que não oferece apenas compensação financeira, mas que também promove o crescimento pessoal e um propósito significativo, enquanto as anteriores valorizam muito a disciplina, o cumprimento de horários, enfim, regras.
O cenário atual tem mostrado empregadores que citam uma juventude que descuida da disciplina, evita compromissos e não tem uma visão clara do futuro. Por outro lado, os jovens afirmam que valorização, autonomia e flexibilidade são essenciais para seu engajamento profissional.
Para construir um futuro sólido, é vital que empregadores e trabalhadores encontrem um terreno comum. A comunicação aberta e a disposição para entender as realidades uns dos outros são passos fundamentais nesse processo. As empresas se beneficiarão ao adotar práticas que promovam ambientes de trabalho flexíveis e reconheçam as contribuições dos jovens profissionais. Por sua vez, os jovens devem considerar a importância do comprometimento e da disciplina e refletir sobre como essas características podem impactar suas trajetórias profissionais.
Nesse contexto, a educação desempenha um papel crucial. É essencial que as instituições de ensino reavaliem suas metodologias, incorporando abordagens que conectem teoria e prática, oferecendo aos alunos experiências diretas com o mercado de trabalho. Iniciativas como programas de estágio, feiras de profissões e parcerias entre escolas e empresas podem atuar como pontes, facilitando uma melhor compreensão do que os espera no ambiente laboral.
Além disso, a transformação das culturas organizacionais é uma necessidade urgente. Empresas que promovem a diversidade intergeracional e valorizam a troca de experiências entre colaboradores mais jovens e mais experientes tendem a criar ambientes mais inovadores e produtivos. Essa colaboração pode transformar conflitos em oportunidades de crescimento, beneficiando todos os envolvidos.
A construção de um mercado de trabalho mais integrado e produtivo exige uma ação coletiva. Tanto o setor privado quanto o público precisam unir esforços para desenvolver estratégias que alinhem as expectativas dos empregadores e colaboradores. Isso não apenas facilitará a criação de novos empregos, mas também contribuirá para o desenvolvimento de uma força de trabalho mais comprometida e engajada.
Ao promover um diálogo sincero entre as gerações, investir em experiências de aprendizagem práticas desde a educação básica e fomentar ambientes de trabalho inclusivos, pode-se pavimentar o caminho para um futuro profissional mais harmonioso e produtivo. Os desafios podem ser muitos, mas, com empatia, flexibilidade e disposição para aprender uns com os outros, é possível construir um mercado de trabalho que potencialize o talento de todos, transformando a diversidade de ideias e experiências em uma vantagem competitiva.
Assim, o mercado de trabalho formal em Mato Grosso e em todo o Brasil não apenas poderá crescer, mas também evoluir para atender às novas demandas da sociedade, garantindo um futuro sustentável e próspero para todos.
Vale ressaltar que a Geração Alfa já está se aproximando do mercado de trabalho, o que requer que continuemos a adaptação e o diálogo entre todas as gerações.
Fábio Granja é Especialista em Gestão de Negócios.
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