• Cuiabá, 07 de Setembro - 00:00:00

Covid e dengue: infectologista alerta sobre riscos da corrente antivacina 


Rafaela Maximiano

A crescente preocupação em torno da nova variante do vírus da covid-19 no Brasil trouxe incertezas sobre sua transmissibilidade e gravidade. Já as perspectivas com a vacinação contra a dengue foram positivas, mas também geraram dúvidas na população. Sobre esses temas o FocoCidade conversou com Tiago Rodrigues, infectologista e professor, que destaca a importância da vacinação em ambos os casos. 

Sobre a nova variante do vírus da covid, Rodrigues enfatiza que a alta capacidade mutagênica era esperada, comparando-a a outras síndromes respiratórias como a gripe. “Ainda não é possível determinar se a nova variante é mais infecciosa, transmissível ou causa doenças mais graves devido à falta de dados suficientes”, salienta o especialista lembrando da importância de monitoramento contínuo pelas autoridades de saúde e pela OMS (Organização Mundial de Saúde). 

Rodrigues assegura que as vacinas atuais são eficazes, independentemente do surgimento de novas variantes e que a população não deve deixar de se vacinar anualmente. 

“Já sobre a nova vacina japonesa contra a dengue é importante dizer que pode ser administrada em pessoas de quatro a 60 anos, exceto em casos de gravidez, condições imunossupressoras e alergia à primeira dose”, afirma o especialista. 

E, também alerta: “a população não deve relaxar nas medidas contra o mosquito da dengue, já que a vacinação inicial abrangerá apenas algumas regiões. As medidas coletivas para evitar criadouros continuam sendo cruciais”. 

O entrevistado conclui destacando a importância de confiar nas vacinas, desmistificando boatos e alertando sobre os perigos da corrente antivacina. Ele reforça que as vacinas são seguras, eficazes e essenciais para salvar vidas, conclamando as pessoas a combaterem informações falsas e a se vacinarem, especialmente as crianças, para evitar arrependimentos futuros.

Desejamos a todos uma leitura esclarecedora e consciente. 

Confira na íntegra: 

Como você descreveria a nova variante do vírus da COVID-19 identificada recentemente no Brasil? Já há evidências de que ela seja mais transmissível ou cause casos mais graves? 

Primeiro quero falar da denominação, acho mais interessante falar exatamente como você citou: essa nova variante, e não ficar dando nomes com siglas e letras, identificando cada uma... Ela era esperada, essas síndromes respiratórias que tem essa alta capacidade mutagênica, a exemplo de outras como o vírus da gripe que todo ano tem variantes e não está sendo diferente com a covid. 

O fato é que a gente não tem ainda condições de falar se essa nova variante é mais infecciosa, ou seja tem maior infectividade, que as variantes já conhecidas, ou se ela é mais transmissível ou gera doença mais grave. Isso porque poucas pessoas ainda foram identificadas com ela e não vimos o comportamento dessa variante para dizer se é mais preocupante ou não. 

Toda vez que a gente tem uma nova variante ela precisa ser acompanhada de perto, pelas autoridades de saúde, vigilância, até chegar nas instâncias da OMS (Organização Mundial de Saúde).  Então, a gente precisa de tempo.  Até o momento não dá para falar se é o mais transmissível ou se gera uma doença mais grave.  

E, deixar claro que as dúvidas em relação a vacinas que se criam por fake news, por boataria - toda essa corrente antivacina burra, elas devem ser sanadas por estudiosos na área das vacinas, e não por qualquer pessoa.

As vacinas atuais são eficazes contra essa nova variante? 

Com relação à vacina, a gente já sabe que a vacina é eficaz. Importante dizer que as pessoas não precisam esperar ter uma nova variante para vacinar.  Até porque os vírus antigos, já cobertos pela vacina, estão aí e a vacina funciona. 

Todos esses vírus, eles são semelhantes.  A vacina de infecção variante, ela é um pouquinho diferente da outra.  Então, a vacina, por semelhança, ela tem, sim, efetividade. A gente não consegue falar isso em números, porque pela mesma razão da resposta anterior.  A gente precisa de tempo para analisar as pessoas infectadas e utilizar a vacina para ver se, de fato, diminui a transmissão ou diminui a gravidade.

E, há duas razões para vacinar: primeiro, que as variantes antigas ainda continuam circulando e podem matar. Segundo, que as subvariantes, elas são semelhantes ao vírus original, aos vírus antigos. Então, tem proteção sim, a gente não só não consegue catalogar esses números por conta dos motivos que já citei.  Mas, sim, tem que se vacinar, todos os vírus da covid, suas variantes, continuam circulando e têm potencial de matar. 

As vacinas, elas são extremamente confiáveis e elas salvam vidas.

Além da vacinação, quais medidas preventivas são essenciais para conter a propagação dessa subvariante? 

Então, as medidas, elas são as que a gente recomenda para todas as doenças virais, contagiosas, e que são transmitidas por vias aéreas. Evitar aglomeração, se a pessoa estiver com algum sintoma deve ter cuidado para não infectar os demais. Diante de sintomas gripais, quaisquer sintomas gripais, você tem que evitar aglomerações, usar máscara, higienizar a todo momento suas mãos e em casa se for necessário usar a máscara também para não contaminar as pessoas do convívio.

A máscara, ela diminui a quantidade de partículas virais que você lança na atmosfera, então, matematicamente, isso reduz o risco de você infectar os demais. Então, evitar ambientes fechados com muita gente e diante de outra pessoa com sintomas gripais orientar essa pessoa a fazer os exames e isolamento. São comportamentos que diminui a transmissão das doenças virais em geral, são aquelas regras básicas que já estão extremamente difundidas.  

As pessoas têm que começar a combater essas boatarias e voltar a se vacinar, principalmente vacinar seus filhos. É muito cruel depois ver o seu filho enfrentando uma doença porque você tomou uma decisão baseada em fake news. Pode ser um arrependimento para a vida inteira.

Pode nos fornecer informações sobre a eficácia e segurança da nova vacina contra a dengue anunciada pelo Ministério da Saúde? 

Primeiro ela não foi produzida no Brasil. Ela é chinesa. Ela é japonesa, é semelhante à que a gente já tinha. Ambas são de vírus vivo atenuado, que é um vírus que está vivo, mas ele é incapaz de se replicar.  Essa é a vacina de tecnologia de vírus vivo atenuado, a tecnologia mais primitiva que a gente tem nas vacinas e que costumam ser as com mais eficácia. Temos por exemplo, com grande eficácia no nosso calendário vacinal a vacina contra a febre amarela, que é a vacina de vírus vivo atenuado, talvez a nossa vacina mais antiga.

Então, essa nova vacina mostrou boa eficácia contra o dengue do tipo 1 e principalmente do tipo 2.  Do tipo 3 e tipo 4 teve a sua análise, mas não teve os mesmos resultados, principalmente a dengue do tipo 4, porque quando da testagem da vacina quase não houveram casos de testagem da vacina.  Mas na dengue do tipo 1 e do tipo 2, ela é excelente.

Essa vacina, ao contrário da que a gente já tinha, ela pode ser usada por pessoas que já tiveram e que não tiveram dengue.  Porque a vacina antiga só podia ser utilizada se você já teve contato com o vírus da dengue. Se você nunca teve contato, você não poderia usar a vacina. Você tinha que fazer um exame antes para saber se você tinha contato com a dengue. Se o exame fosse positivo, aí você poderia vacinar. Essa nova vacina não precisa disso. 

Quem são os grupos prioritários para receber essa vacina contra a dengue? Existe contraindicação? 

A vacina é segura pode ser aplicada em um público de quatro a 60 anos de idade, que foi a faixa etária testada. A vacina só não pode ser utilizada por mulheres grávidas e nem por pessoas que tenham condições imunossupressoras e ainda por pessoas que tiveram alergia à primeira dose. Se a pessoa teve alergia à primeira dose, a pessoa não pode usar a vacina porque ela está contraindicada também. 

O senhor mencionou que a gente já tinha uma vacina contra a dengue aqui no Brasil e que ela só poderia ser utilizada se a pessoa já tivesse tido a dengue – contato com o vírus. Esse é o motivo por ela não ter entrado no calendário vacinal antes? 

Sim, mas também tem as políticas de saúde pública, elas fornecem critérios para adotar uma terapia ou uma vacina para a população. Você tem que analisar o custo-benefício, qual será o esquema de vacinação, a quantidade de doses e o público beneficiado, porque isso tudo implica no custo.

A primeira vacina contra a dengue que tivemos aqui no Brasil não contemplou as faixas etárias mais jovens, crianças e adolescentes, por exemplo, que é o público-alvo para uma vacina, inclusive, atenuada, porque estima-se que essas vacinas tenham proteção duradoura.  Então, é melhor você vacinar as gerações mais jovens e que essa imunidade o se perpetuar ao longo da vida. 

Por segundo, levando em conta do seu custo, a vacina anterior eram três doses, um custo bem elevado. Foi preferível aguardar, ela estava disponível somente na rede privada.  Já essa vacina atual, ela tem um custo-benefício muito bom, é eficaz para as crianças e adolescentes, que é o público-alvo inicial, inclusive. Os primeiros a serem vacinados são crianças até 14 anos.  

Quais recomendações para a população em relação à prevenção da dengue, além da vacinação? 

A população não deve relaxar em relação aos cuidados contra o mosquito da dengue pelo fato de iniciar a vacinação, até porque a vacina não vai ser para todo mundo, somente 16 estados e algumas cidades desses estados, as cidades com mais de 100 mil habitantes receberão aí essa primeira leva da vacina.  As medidas coletivas de como evitar os criadouros continuam sendo muito recomendadas.

Também porque vai demorar muito para a gente ter uma parte significativa da população brasileira vacinada. A gente tem que sempre lembrar que vacinas, elas ajudam muito, salvam vidas, de fato. Mas não são todos que respondem de forma igual à vacina. A maioria das pessoas terá uma resposta imune significativa após a vacina, mas, a parte da população, parte muito pequena, não consegue responder àquela vacina. Então, essas pessoas ainda continuarão vulneráveis. O mosquito ainda deve ser evitado. 

Considerações finais...

A minha consideração é que vacina é um assunto médico-científico. Um assunto muito complexo, requer muito estudo. Geralmente, as pessoas que se debruçam sobre esse assunto são virologistas, são imunologistas, infectologistas e assim por diante. E, deixar claro que as dúvidas em relação a vacinas que se criam por fake news, por boataria - toda essa corrente antivacina burra, elas devem ser sanadas por estudiosos na área das vacinas, e não por qualquer pessoa. 

Médico não entende de vacina. Quem entende de vacina é quem estuda vacina. E quando uma vacina é recomendada pela autoridade de saúde, quer seja pela Anvisa, quer seja pela OMS e assim por diante, qualquer uma dessas competências, é uma vacina que já foi submetida a sérios estudos. Os critérios são muito rigorosos. Se uma vacina chega à população obedecendo todos esses critérios, ela é uma vacina de fato segura e eficaz. 

As vacinas, elas são extremamente confiáveis e elas salvam vidas. As pessoas têm que começar a combater essas boatarias e voltar a se vacinar, principalmente vacinar seus filhos. É muito cruel depois ver o seu filho enfrentando uma doença porque você tomou uma decisão baseada em fake news. Pode ser um arrependimento para a vida inteira. Então, eu queria finalizar reforçando a importância de se vacinar e de combater essa corrente antivacina. 




Deixe um comentário

Campos obrigatórios são marcados com *

Nome:
Email:
Comentário: