• Cuiabá, 10 de Julho - 2025 00:00:00

Economista Vivaldo Lopes analisa o Drex: uma nova era nas finanças globais 


Rafaela Maximiano

FocoCidade traz uma entrevista com o economista Vivaldo Lopes, que lança luz sobre o DREX, a revolucionária moeda digital do Banco Central. Autoridade no cenário econômico e político, compartilha sua visão sobre o significado e o impacto dessa inovação.  

A moeda digital DREX emerge como resposta à onda de digitalização nas finanças globais. Vivaldo enfatiza que bancos centrais mundiais, incluindo grandes nomes como China, Estados Unidos e nações europeias, estão atualmente desenvolvendo suas próprias versões de moedas digitais. Ele destaca que esta tendência é inevitável, considerando a necessidade de se preparar para um futuro digital. Também menciona o êxito do sistema de transações digitais brasileiro, o PIX, como um exemplo marcante desse avanço.  

O economista explica que, diferentemente das criptomoedas, o DREX é respaldado por regulamentações e reconhecimento. Ele esclarece que a moeda terá lastro, ou seja, sua emissão será garantida por ativos financeiros e regulada pelo Banco Central, garantindo sua circulação e aceitação nacional.  

No que diz respeito aos benefícios da digitalização financeira, sustenta que o DREX simplificará transações e reduzirá custos, abrangendo desde compras cotidianas até investimentos de grande porte e negociações de ativos. Ele revela que o Banco Central já iniciou testes com instituições financeiras, preparando-se para uma implementação gradual.  

Além da exploração do DREX, a Entrevista da Semana oferece também uma perspectiva enriquecedora sobre a situação econômica brasileira. Aborda o crescimento estável e as expectativas positivas, sustentadas por reformas econômicas, controle da inflação e a redução do desemprego.

No contexto global, pontua complexidades das relações internacionais do Brasil e destaca os possíveis constrangimentos provenientes de uma postura pró-Rússia, mas ressalta que o Brasil está colhendo benefícios significativos de investimentos estrangeiros.  

Boa leitura! 

O que é o Drex, a moeda digital do Banco Central e qual será o potencial impacto na economia brasileira?  

O DREX é uma moeda digital, emitida pelo Banco Central, seguindo a mesma rota dos bancos centrais das economias mais desenvolvidas. Todos esses bancos centrais, China, Estados Unidos, Canadá, países europeus, Japão, Coreia do Sul, estão em desenvolvimento as suas moedas digitais. Vejo como um caminho sem volta, os bancos centrais têm que se preparar para o mundo digital. O próprio PIX, desenvolvido aqui no Brasil pelo Banco Central, é um caso de grande sucesso e de que as transações digitais entraram na nossa vida e nos negócios de forma irreversível. O DREX é mais um passo do Banco Central brasileiro na inovação e desenvolver plataformas digitais seguras para facilitar os negócios. DREX significa D de digital, R de real, E de eletrônico e o X é para dar uma tonalidade moderna de inovação tecnológica.  

Importante esclarecer que ela não é uma criptomoeda, ela é uma moeda reconhecida como digital, na verdade é o nosso real, que hoje nós temos em papel e metal, em moeda, transformada em uma moeda 100% virtual. Então, ela não é uma criptomoeda, porque a criptomoeda não tem lastro, ela não tem uma circulação assegurada de uma autoridade monetária e ela não tem um reconhecimento como uma moeda de um país.  

No caso do DREX, não. Ele tem esses componentes. Ele vai ser lançado com base de lastro quando o Banco Central emitir. Ela tem a credibilidade do Banco Central, portanto tem uma regulação pela autoridade, no caso nacional, e ela vai ter reconhecimento como uma moeda oficial do país, mesmo no ambiente digital. Então, ela tem os componentes que uma moeda precisa. Terá circulação garantida, terá reconhecimento nacional e terá uma regulação por uma autoridade monetária, no caso do Banco Central. Além do que, ela vai ter lastro. Quando se lançar 1 bilhão de DREX, por exemplo, o Banco Central vai ter o equivalente de 1 bilhão em reais, em moeda ou em ouro ou em algum ativo financeiro que dê lastro àquela emissão.   

Avalia que teremos benefícios ou não, com a digitalização financeira?  

Sim, vai beneficiar porque vai facilitar e vai reduzir o custo das transações, quer seja para compras, para troca de ativos financeiros, como para investimentos e até para compra de imóveis, de carros, de produtos físicos que vão ser tokenizados, que é uma segunda fase.  

O Banco Central explicou que ele vai entrar em teste com os grandes bancos, com o sistema bancário brasileiro, financeiro, até o final de 2024. Então, ela começou agora, na segunda metade desse ano, vai até o final de 2024 no ambiente de desenvolvimento e teste com os bancos brasileiros. Só em 2025 o DREX começa a circular oficialmente.

Então, nós ainda estamos na fase de desenvolvimento. Assim como o PIX que começou a ser desenvolvido em 2018 e só foi implementado em novembro de 2020. Teve mais de dois anos de teste com os bancos, com o sistema financeiro, validação, todo mundo vai ficar na mesma plataforma de forma segura. Nessa primeira fase, o DREX, essa moeda digital, vai ser usado apenas pelo Banco Central e os bancos brasileiros. Vai ser uma moeda que a gente chama moeda no atacado. Quando um banco tiver que transferir um bilhão de reais de um banco para outro banco, ele pode usar essa moeda virtual sem ter que botar num carro forte um bilhão de moedas e tirar de um local e levar para outro. Então, vai ser uma moeda no atacado, que vai ser movimentada entre o Banco Central e os bancos brasileiros devidamente credenciados.   

Numa segunda etapa, os bancos que tenham emissão de moeda em DREX, validada pelo Banco Central, naturalmente, poderão tokenizar. O que é tokenizar?  É você pegar 100 milhões em DREX, repartir em 10, 20, 30 ou 50 reais e poder fazer transações com seus clientes no varejo. Então, a primeira etapa do DREX, ela vai ser uma moeda de transações no atacado, apenas entre bancos e o Banco Central. Numa segunda etapa, os bancos poderão utilizá-la para negociações com seus clientes.  

Como o modelo de garantia do Banco Central para o Drex se diferencia das criptomoedas em relação à estabilidade e confiança para os usuários?  

A plataforma, o sistema digital que o Banco Central vai utilizar é considerado o mais seguro do planeta, que é o sistema blockchain, que é utilizado pelas criptomoedas. O que é o blockchain? É um sistema que tem várias validações, é uma cadeia de computadores, que se chamam de blocos, que vão validando a emissão daquele ativo. A diferença do DREX com as criptomoedas é que a criptomoeda não tem lastro e não tem um emissor conhecido. Ninguém sabe quem emitiu determinadas criptomoedas, especialmente as primeiras. E no caso do DREX, não. A gente sabe quem emitiu, que é o Banco Central. Ela tem um lastro, o Banco Central, para emitir 1 bilhão de DREX, ele vai ter 1 bilhão, como eu já falei, em papel moeda ou em moeda metálica ou em ativos financeiros, como, por exemplo, títulos do Banco Central mesmo do Brasil, títulos do Tesouro Americano ou ouro, que é muito comum, ser utilizado como lastro pelos bancos centrais. Então, essa é a diferença.   

Agora, o sistema blockchain vai ser utilizado. Qual é a vantagem do blockchain? Lá no futuro, é que para você fazer uma movimentação, o blockchain é um sistema que permite a movimentação de ponta a ponta. Hoje, quando você vai fazer uma transição, por exemplo, de Pix, você vai emitir o Pix da sua conta para a conta de alguém. Você tem que entrar no aplicativo do banco, entrar na sua conta, usar o seu banco para transferir para a conta de uma outra pessoa no outro banco. Veja bem, você precisou de dois bancos, um que é o seu para retirar da sua conta e outro para creditar na conta de alguém, e pode estar no segundo banco. O sistema blockchain não, ele vai permitir que você mande o dinheiro, compre um carro, pague um imóvel, uma casa, mandando diretamente para a pessoa que você adquiriu, sem passar pelo banco central ou pelo banco seu. Esse é o sistema blockchain. Isso que é o sistema da moeda virtual que a difere, por exemplo, do Pix.  Então, ela é segura e, no caso, tem a validação do Banco Central, principalmente o lastro.  

Há conjecturas por parte de alguns analistas sobre a possibilidade do Drex ser considerado como uma moeda única para o grupo dos BRICS. Na sua opinião, seria uma proposta viável e quais seriam os principais desafios e vantagens de adotar o Drex como moeda de referência para esse conjunto de países?  

Não, não vejo a possibilidade.  Uma moeda, para ser única, tem que ter um grande sistema por trás e todos aceitam e confiam. O Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tem países como a China e a Rússia estão insistindo em não reconhecer nem o dólar, que é a principal moeda do mundo, imagina se eles se submeteriam a uma moeda de um país como o Brasil, que em termos de PIB é infinitamente menor do que o da China, por exemplo. E agora estão trabalhando para entrar no Brics países como Catar, Arábia Saudita. Então não vejo essa possibilidade de o Drex ser essa moeda padrão. Mas pode ser que lá na frente a China desenvolva uma moeda parecida com o Drex e que possa ser essa moeda unificadora das transações comerciais do Brics.  Não diria moeda única, mas uma moeda padrão das economias emergentes.  

Qual é a sua avaliação sobre a situação econômica atual do país e os principais fatores que estão influenciando a conjuntura do país?  

Olha, eu vejo que a economia estabilizou, entrou numa rota de crescimento baixo, mas voltou a crescer e as expectativas predominantes são de que nos próximos trimestres vai crescer de forma mais acelerada. O ritmo de crescimento do segundo semestre vai ser melhor do que foi o primeiro, e tudo indica que em 2024 a economia vai ter um desempenho melhor do que a de 2023. O governo fez o dever de casa, aprovou reformas importantes, como o novo regime de regulação fiscal; aprovou na Câmara a reforma tributária e deve encaminhar no próximo ano, acho, a segunda etapa da reforma tributária alterando a tributação sobre a renda e o patrimônio.   

Mas também o governo tranquilizou um pouco o país ao não implementar algumas medidas que o mercado temia, por exemplo, o governo falou que ia rever a privatização da Eletrobras, não fez isso. O governo indicava que ia interferir politicamente na gestão da Petrobras, também não fez isso. O governo deu a entender que alteraria o sistema de metas de inflação do Banco Central, também não fez, e quando fez, foi para aperfeiçoar. Ao definir que a meta é de 3% ao ano e pode ser atingida em dois ou três anos, não necessariamente dentro do mesmo ano civil. Apesar de gritar muito, o governo não alterou a lei de autonomia do Banco Central. Então, o governo acertou em algumas políticas que implementou por exemplo a reforma tributária e acertou também em não cumprir algumas ameaças na parte de política econômica. Assim, o país se tranquilizou um pouco em questões econômicas e dá sinais de que vamos retomar um crescimento leve ainda, mas com a perspectiva boa. Ao mesmo tempo, a inflação caiu. Nós começamos o ano com uma inflação de quase 6%, e agora está em torno de 3%. Com inflação declinante, redução da taxa de desemprego para 8%, uma das menores taxas dos últimos 10 anos, são sinais positivos para o cenário econômico de médio e longo prazo.  

Sobre a recente redução da taxa Selic pelo Banco Central: na sua opinião, essa diminuição foi adequada ou o Banco Central deveria ter implementado um corte mais significativo, considerando as projeções otimistas que a instituição divulgou?  

Entendo que a redução não foi tímida. Não é o que o governo esperava, mas está em sintonia com as expectativas dos principais agentes do mercado. A redução de 0,5 ponto percentual saiu até um pouco acima do que o mercado previa, que seria uma redução de 0,25 ponto percentual. A ideia do Banco Central é de reduzir meio ponto percentual agora e sinalizar que daqui pra frente, vai fazer sucessivas reduções de meio ponto percentual, significa que fecharemos o ano com a taxa Selic em 11,75%.  

Acho que foi tomada uma medida conservadora, talvez o Banco Central pudesse ter iniciado a redução da taxa de juros na reunião anterior. Poderia ter começado um pouco antes. Mas eles têm indicadores que sinalizavam um certo cuidado com a inflação, especialmente a inflação de serviços. Então, demorou um pouco a começar a redução, mas também já anunciou que vai, nas próximas reuniões, sempre reduzir meio ponto percentual, até chegar ao chamado “juro neutro” (taxa de juros que não impulsiona e nem trava o crescimento), algo entre 4,5% e 6,5%. Então o mercado se sentiu mais tranquilizado que agora iniciou-se um novo ciclo de redução dos juros e o país pode terminar 2025 com uma taxa de juros de 6,5% a 7,5%.  

Dentro do contexto econômico e político atual, como você enxerga as perspectivas futuras para o Brasil? Quais são os principais desafios e oportunidades que o país pode enfrentar nos próximos meses?  

O principal desafio é um cenário global que ainda está pressionando a economia brasileira. Os bancos centrais da Europa continuam aumentando suas taxas de juros para combater a inflação. Os Estados Unidos aumentaram a taxa de juros de 5,25% para 5,5% para combater a inflação. O Banco Central Europeu aumentou sua taxa de juros de zero para 3,25%. E quando o mundo está um pouco recessivo, sacrificando o crescimento para combater a inflação, esse mundo compra menos do Brasil, transaciona menos com o Brasil. Esse é o principal desafio que eu vejo.   

Por outro lado, o cenário ruim nessas economias desenvolvidas, europeias, algumas asiáticas e americana, faz com que um fluxo maior de capitais maiores venha para o Brasil. O primeiro semestre foi muito positivo. O Brasil teve uma entrada de investimentos estrangeiros bem maior do que era esperado. Então, tem um lado ruim, que é o fato de as economias estarem um pouco recessivas para combater a inflação, mas tem um lado bom que isso fez com que o Brasil, que está em uma situação mais estabilizada, a inflação caísse em 3% e atraísse um fluxo de investimentos maiores do que era esperado para o primeiro semestre.  

Também, temos uma agropecuária muito forte, que continua produzindo e batendo recordes. Isso ajuda o país a exportar mais e ajuda também o país com o aumento da produção de alimentos, e a redução da inflação de alimentos. A gente tem um cenário mais positivo na economia doméstica do que está o cenário externo, com a China ainda não retomando completamente o crescimento, Estados Unidos e o bloco europeu tendo que sacrificar o crescimento para reduzir as taxas inflacionárias. Então, eu vejo a perspectiva de um segundo semestre melhor do que foi o primeiro e vejo 2024 em uma situação melhor do que a economia em 2023. 

Ainda em relação ao cenário internacional, a questão da guerra, essas declarações e aproximações do presidente Lula a países como a China, a própria Rússia, isso pode causar alguma represália ao Brasil, por exemplo, os Estados Unidos deixarem de comprar ou reduzir as negociações?  

Eu não vejo que chegue a tanto o Brasil ser retaliado, mas uma coisa é verdade: a posição do Brasil favorável à Rússia tem causado fortes constrangimentos, tanto no ambiente econômico como no ambiente de relação diplomática com blocos europeus e com os Estados Unidos. Essa excessiva aproximação do Brasil com a China que apoia a invasão da Rússia à Ucrânia e o Brasil se manifestando, não ostensivamente, mas de forma indireta, apoio à invasão da Rússia, causa sim constrangimentos, tanto no aspecto econômico quanto no aspecto diplomático.  

Tanto que o presidente Lula, que poderia ser um grande protagonista na busca de um acordo entre a Rússia e a Ucrânia, já foi descredenciado para isso, porque há um entendimento dos países europeus, OCDE, como dos Estados Unidos, que o Brasil não tem a neutralidade, por demonstrar na prática posição mais favorável à Rússia do que de neutralidade. Então, ele acabou perdendo a condição de um possível mediador de um pacto de paz entre a Rússia e a Ucrânia.   

E, como Mato Grosso está nesse cenário econômico do país?   

Esse ambiente de crescimento baixo da economia brasileira, o destaque no cenário econômico do Brasil é a região centro-oeste. Os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso Sul e Goiás crescem bem acima da economia brasileira. E a força dessas três economias é justamente a agropecuária e a aceleração da agroindustrialização. Em Mato Grosso, puxado pela produção de biocombustíveis, especialmente o etanol, e a produção de alimentos. Mato Grosso do Sul se destaca pelo acelerado crescimento da indústria de celulose.  O grande fato positivo é a região centro-oeste crescendo mais do que as outras regiões, e Mato Grosso, Mato Grosso Sul e Goiás crescendo três vezes mais do que a média da economia do Brasil. O destaque positivo da economia brasileira é a região centro-oeste e os três estados, Mato Grosso, Mato Grosso Sul e Goiás. 

Como avalia que o Governo de Mato Grosso vai utilizar esse cenário de oportunidades? 

Eu vejo o governo se empenhando bem para atrair mais empresas aqui para Mato Grosso. Como ele está impossibilitado de implantar novos programas de incentivos fiscais, tem que contar apenas com programas que já estão em vigor. Mas eu vejo que os três grandes atrativos para empresas se instalarem em Mato Grosso são, primeiro, as vantagens econômicas. Mato Grosso tem vantagens competitivas e mercadológicas muito expressivas, e isso tem atraído empresas, especialmente nessas áreas que eu já falei: industrialização de biocombustíveis, como o etanol, entendo que logo virão indústrias de celulose para Mato Grosso também. Entendo que a indústria de couro também deve ser desenvolvida logo. E a indústria de têxtil e a de alimentos processados. Então, qual é o grande atrativo de Mato Grosso? Como ele está sendo supercampeão de crescimento, um grande campeão da agropecuária o próximo ciclo de Mato Grosso será a agroindustrialização. 

Isso está atraindo investidores nacionais e internacionais para trazer suas plantas industriais para Mato Grosso. Eu vejo que esse é o principal fator. Recapitulando, o primeiro fator é a grande produção agropecuária e atração das indústrias ligadas à agroindustrialização. O segundo fator é que a infraestrutura em Mato Grosso está avançando, tanto de rodovias quanto de ferrovias e isso também é um fator de vantagem competitiva. E o terceiro fator são as contas públicas equilibradas. Com dinheiro sobrando para investimentos, o mercado vê que esse dinheiro será revertido sob a forma de melhor infraestrutura. O governo está investindo em infraestrutura e principalmente, vai investir mais para melhorar a qualificação da mão de obra. Então, esses três fatores: contas públicas equilibradas, avanço na infraestrutura e a agroindustrialização em Mato Grosso têm sido fatores que atraem novos investimentos. 




Deixe um comentário

Campos obrigatórios são marcados com *

Nome:
Email:
Comentário: