• Cuiabá, 21 de Outubro - 00:00:00

Obra de João Carlos Vicente Ferreira desvenda: Filinto Muller - A Verdade por Trás da Mentira


Rafaela Maximiano

Na Entrevista da Semana, o renomado escritor e historiador João Carlos Vicente Ferreira, autor do livro "Filinto Müller - A Verdade por Trás da Mentira". Obra inédita que promete desvendar um enigma da história brasileira, lançando luz sobre a vida controversa de Filinto Müller e buscando limpar sua reputação manchada ao longo dos anos.  

O livro, segundo o autor, traz à tona uma nova perspectiva sobre a figura enigmática de Müller. Com detalhes intrigantes e evidências cuidadosamente coletadas, João Carlos nos leva a questionar as narrativas predominantes que ‘pintam’ Filinto como um personagem vil e implacável durante o período do Estado Novo.  

Durante a conversa, João Carlos compartilha os motivos que o levaram a se dedicar a essa pesquisa minuciosa e revela como a investigação dos relatos de pessoas próximas a Filinto Müller desempenhou um papel fundamental na construção dessa narrativa histórica. Além disso, o autor afirma desmascarar as “fake news” e difamações que cercaram o nome de Müller ao longo dos anos, destacando a influência de Assis Chateaubriand e do jornalista David Nasser na construção dessa imagem distorcida.  

“É importante repensar nosso entendimento sobre a história brasileira e nos confrontar com a importância de buscar a verdade por trás das narrativas pré-estabelecidas”, pontua João Carlos que também é membro da Academia Mato-grossense de Letras e ex-secretário de Cultura de Mato Grosso.

Boa Leitura!  

Quais foram as principais fontes de pesquisa que você utilizou para escrever o livro sobre Filinto Müller?  

Usei como base para a produção de textos que compõem essa obra entrevistas com conhecedores dessa história; imensa bibliografia; pesquisa em documentos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro e principalmente análises de fatos que envolvem Filinto Müller, muitos dos quais são falsos.  

O que o motivou a escolher Filinto Müller como tema para sua obra literária?  

Tenho trabalhado com a produção de livros de história, etimologia, toponímia e biografias. O personagem Filinto é enigmático, sempre suscitou debates. Numa dessas conversas sobre a história do Brasil ouvi a sua importância para a história política, social e econômica brasileira e mato-grossense. Observei que eu não sabia nada sobre a vida desse cidadão. Busquei sabê-lo, daí, então, foram apenas uns poucos passos para me dedicar a trabalhar um recorte de sua biografia.  

Como você descreveria a importância histórica de Filinto Müller no contexto brasileiro? 

Filinto foi um dos homens públicos mais importantes em seu tempo. Além, óbvio, de ter se destacado no Exército Brasileiro. Todas as pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-lo, partícipes na vida política, nas atividades de trabalho na polícia do Distrito Federal no Rio de Janeiro, na vida política, sejam correligionários ou adversários políticos, de diversas origens e de credos políticos iguais ou distintos, tinham como ponto comum o caráter firme, a fidalguia do trato, o respeito pelas pessoas independentemente de origens de qualquer espécie, social, econômica e política. Filinto buscava tratar a todos de maneira igualitária e justa. Sempre pronto ao diálogo, à conversa. 

Quais foram os maiores desafios que você encontrou ao pesquisar a vida e as ações de Filinto Müller?  

O povo de Mato Grosso, notadamente os mais antigos, tem gratidão pela figura de Filinto, no entanto, parte da sociedade brasileira não aprecia a biografia de Filinto. Estão contaminados por leituras de livros, artigos e de filmes que o criticam e o veem como o homem mau do Estado Novo. Na verdade, essa pecha negativa na história de Filinto vem de uma sórdida vingança, urdida por Assis Chateaubriand e levada a efeito pelo jornalista David Nasser.  

Durante sua pesquisa, você descobriu algum fato surpreendente ou pouco conhecido sobre Filinto Müller que gostaria de compartilhar?  

Muitas foram as surpresas. Filinto tinha paciência e conversa igualitária com os jovens, sempre curioso em saber o pensamento da juventude em relação aos assuntos da modernidade de então. Filinto foi muito generoso com jovens mato-grossenses ao longo de sua vida na cidade do Rio de Janeiro, onde colaborou de forma incisiva para que dezenas deles conseguissem os seus diplomas universitários e ajudassem a fazer um Mato Grosso melhor.  

Como você aborda o conceito de "verdade" em relação a Filinto Müller na sua obra?  

O filósofo alemão, que na verdade era prussiano, mas nasceu onde hoje é a Alemanha, Friedrich Nietzsche, nos ensina que a verdade é relativa e, da mesma forma que a mentira, não passam de uma construção social que dependem do contexto em que se inserem. 

Quando o jornalista David Nasser escreveu o livro Falta Alguém em Nuremberg - Torturas da Polícia de Filinto – 1947 –, ele estava criando uma notícia falsa, a famosa fake news, como é conhecida essa tramoia feita em 2023. Nasser ficou famoso por elas.  

E essa mentira seria repetida inúmeras vezes ao longo dos anos seguintes em livros, artigos, ensaios, mídias sociais e se tornaria uma verdade. Colocando Filinto Müller no banco dos réus ao lado dos nazistas, sem apresentar nenhuma prova e sem dar voz ao outro lado, Nasser mostra que ele não era jornalista, mas um romancista frustrado que ficou famoso por construir histórias mirabolantes que ajudavam a vender jornais e revistas.  

Quais são as principais características da narrativa em "Filinto Müller - A Verdade por Trás da Mentira"? 

Em 1924, ocorreu uma revolução de militares que se insurgiram contra o governo do presidente Arthur Bernardes. Foi a Revolta Paulista de 1924. Dessa revolução fez parte Filinto Müller. Depois de muita refrega em São Paulo, os insurretos se refugiaram na região sudoeste do Paraná, na cidade de Catanduvas, lá foram derrotados por forças legalistas e se retiraram à cidade de Foz do Iguaçu. Muitos dos oficiais e soldados que não se entregaram, pretenderam sair do país a serem presos. Outros decidiram seguir Luís Carlos Prestes e Miguel Costa, que lideraram uma Coluna de militares a enfrentar o governo bernardista. Filinto não seguiu com essa Coluna, apesar de ter sido convidado. Por não atender esse pedido de Miguel Costa e Prestes, ocorreu um dissídio entre esses oficiais. Por razões que a própria razão não explica, saiu difamação de Filinto ter subtraído recursos financeiros da Coluna à qual pertencia, e ter desertado da cidade de Foz do Iguaçu, à qual ficara de ser a sua sentinela.   

Na verdade, tudo isso foi falácia: Filinto não roubou dinheiro de ninguém, nunca pertenceu à Coluna Prestes e não desertou de lugar algum, visto que a praça de Foz do Iguaçu foi evacuada por oficiais e soldados insurretos: alguns seguiram junto à Coluna de Miguel Costa e Prestes e outros rumo ao Paraguai e Argentina, em busca de exílio. Essa é uma das mentiras que buscamos elucidar no livro. Outra mentira foi de que Filinto deportou Olga Benário. Não é verdade. Ele prendeu, isso sim. Ela atentou contra o Estado de Direito. Pretendeu matar o presidente da República. O que se espera de quem faz isso? Oras, a prisão. No entanto, ela era uma terrorista procurada em sua terra natal, a Alemanha. Foi deportada com autorização do Supremo e do presidente Vargas, jamais de Filinto. Tem muito mais, as piores, na verdade foram ditas pelo jornalista David Nasser.  

Você teve a oportunidade de entrevistar pessoas que tiveram algum contato direto com Filinto Müller? E, como esses relatos contribuíram para a construção do livro?  

Conversei com inúmeras pessoas sobre a vida de Filinto. Selecionei três entrevistas e as coloquei no livro: Maria Luíza que é sua filha, Fred Müller seu sobrinho e o amigo e afilhado Júlio José de Campos. Seus relatos contribuíram sobremaneira para que o livro fosse produzido. A maior parte das referências bibliográficas que temos somente trazem críticas a Filinto. Não procurava alguém que falasse “bem”, não era isso, mas, que não dissesse mentiras. Pois vi que textos vindos de David Nasser haviam feito a cabeça de muita gente.  

Como você vê o papel da obra literária no resgate e na divulgação da história de figuras importantes como Filinto Müller?  

Ali coloquei informações que julgo importantes para desfazer equívocos e trazer à tona uma série de contrapontos à série de mentiras produzidas sobre Filinto Müller. Peço que essa obra seja lida, da primeira até a última página, só isso. Quem ler certamente terá uma outra compreensão da história desse grande cuiabano.  

Quais são suas expectativas para o lançamento do livro e qual mensagem você espera transmitir aos leitores através dessa obra?  

Espero que o público leitor compreenda o objetivo dessa obra, que é mostrar o mal que mentiras podem fazer a qualquer cidadão ou cidadã. Filinto viveu num período em que a mídia tinha nos jornais impressos, revistas e no rádio a sua principal força de comunicação com a massa popular. Temos inúmeros casos do que as atuais mídias sociais, através de fake news, podem fazer. Cito exemplo de linchamento ocorrido em Santos, no estado de São Paulo, após mentiras serem ditas através de falsas e mentirosas acusações... No mínimo uma reflexão que foi e o que falaram dele é esperado de nosso público leitor. Muitos compreenderão o porquê desse trabalho.  

Onde as pessoas podem comprar o livro?  

O livro será distribuído gratuitamente no dia de seu lançamento, em 11 de agosto, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Também serão distribuídos em escolas públicas. Pelo menos nessa primeira edição não teremos um ponto de venda. No entanto, existe o desejo da 2ª edição dessa obra. Vamos aguardar. 




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