• Cuiabá, 21 de Outubro - 00:00:00

No trânsito escolha a vida. Adriana Carnevale destaca plano para reduzir acidentes e mortes


Rafaela Maximiano

Dados nacionais do Ministério da Insfraestrutura mostram que cerca de 32 pessoas morrem por dia em acidentes de trânsito no Brasil, e que pelos menos, 72 acidentes por hora são registrados.  

O anuário estatístico de trânsito estadual mostra que houve aumento de acidentes com vítimas nas vias urbanas e rodovias de Mato Grosso. Em 2017, por exemplo, foram registrados 7.561 acidentes, sendo 568 fatais. Já em 2021 foram registrados 9.689 acidentes, sendo 574 fatais.   

Investimentos em engenharia de trânsito, educação para o trânsito e fiscalização, trabalhados em conjunto seriam a solução para reduzir as mortes e acidentes nessa categoria. A opinião é da diretora de Conformidade Legal e Educação para o Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MT), Adriana Carnevale.  

“Não se resolve só com a educação, nem só com a fiscalização e nem só com a engenharia que é a forma de sinalizar o trânsito e diminuir os acidentes. Tem que ser uma ação conjunta e intensificadas das três que são um tripé para um trânsito seguro”, pontua a gestora.  

Maio Amarelo é o tema da Entrevista da Semana, e ao FocoCidade, Adriana Carnevale destaca a importância da campanha para que as mortes no trânsito não sejam banalizadas.  

“Está tão banalizada a questão das pessoas morrerem no trânsito e quando uma pessoa morre por homicídio, por exemplo, as pessoas ficam chocadas e quando morrem no trânsito não têm mais esse mesmo impacto, vejo que está sendo banalizado. Por isso a importância da campanha que traz o assunto para ser discutido por todos”, avalia.  

Adriana também cita que nos três primeiros meses deste ano, 254 pessoas foram autuadas por dirigir veículo sem o Licenciamento e 150 por conduzir sem possuir habilitação durante as operações diárias realizadas em Cuiabá pelo Detran-MT.   

“Os flagrantes de inabilitados na condução de veículo e pessoas sem o porte do Licenciamento do ano infelizmente são recorrentes nas ações de fiscalização de trânsito”, cita. 

Adriana Carnevale é graduada em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), possui especialização em Marketing e mestrado em Administração de Empresas. É servidora efetiva do Detran-MT por 16 anos, com experiência na área de licitações e contratos, foi pregoeira do Detran e da Seplag. Trabalhou por 4 anos em comissão de processos administrativos e disciplinares do Departamento de Trânsito e há 8 meses está na gestão da Diretoria de Conformidade Legal e Educação para o Trânsito do Detran-MT.  

Confira a entrevista na íntegra:  

O que é a campanha Maio Amarelo e qual objetivo?  

É uma campanha internacional. Esse ano está fazendo 10 anos com o tema: “No trânsito escolha a vida”. Foi instituída pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2011 quando verificou-se uma preocupação por muitas mortes ocorridas no trânsito em todo o mundo. É uma campanha que tem ganhado volume e no mês de maio intensificam-se as ações relacionadas à conscientização dos condutores, pedestres e todos que utilizam o trânsito por uma segurança melhor, por transitar de maneira mais segura no trânsito.  

O objetivo é exatamente de conscientizar a população, a sociedade civil, o poder público também, as empresas privadas, sobre a importância de estar seguindo as legislações de trânsito e de estar discutindo mais sobre o trânsito. Porque está tão banalizada a questão das pessoas morrerem no trânsito e quando uma pessoa morre por homicídio, por exemplo, as pessoas ficam chocadas e quando morrem no trânsito não têm mais esse mesmo impacto, vejo que está sendo banalizado.  Por isso a necessidade de estar discutindo mais intensamente a respeito para que todos juntos todos os setores da sociedade se unam em prol de estabelecer estratégias, projetos que façam um trânsito melhor.   

Quais as ações previstas para este mês do Maio Amarelo? 

Nós tivemos a abertura do Maio Amarelo na Assembleia Legislativa onde vários representantes de órgãos estiveram presentes. Nós já começamos as ações, vai ter blitz em vários pontos nas avenidas onde ocorrem muitos acidentes em Cuiabá e Várzea Grande. Tais como Avenida da FEB, Historiador Rubens de Mendonça, Miguel Sutil e vários outros pontos. As blitze serão feitas com parceiros como a Semob (Secretaria de Mobilidade Urbana de Cuiabá) e a Guarda Municipal em Várzea Grande, e os Batalhões de Trânsito que nos ajudam também. Essas blitze ocorrem nos sinaleiros com abordagem direta dos condutores e pedestres, auxiliando e orientando de como utilizar melhor o trânsito, de forma mais correta.  

Além dessas blitze vamos fazer palestras, temos um cronograma cheio neste mês, são palestras em escolas, em empresas que nos pedem pois possuem frota de veículos e funcionários; palestras em parceria com o Sesc, Senac e a Seduc também. Importante ressaltar que temos no Detran uma Coordenadoria de Educação para o Trânsito e que o ano inteiro realizamos essas ações, esse papel educativo, com palestras em escolas, empresas e ações nas ruas, porém neste mês essas ações são intensificadas.  

Nas Ciretrans que representam o Detran nas várias localidades também teremos ações, em Sinop, Cáceres, Alta Floresta, Sorriso, Barra do Garças, Juara, Nova Mutum, em todas as localidades maiores as ações educativas serão intensificadas.   

Especialistas dizem que a maioria dos acidentes graves tem como principal causa a falha humana, é verdade?  

Sim. O ser humano é falho, mas mesmo assim as autoridades e instituições públicas, os gestores, utilizam as estatísticas de acidentes, de mortes em acidentes, para verificar quais as causas daqueles acidentes, e o que essas instituições podem fazer para diminuir essas ocorrências e erros humanos.  

Por exemplo, Várzea Grande está colocando várias lombadas eletrônicas de limite de velocidade, isso é uma ferramenta, porque as ocorrências de infração de trânsito hoje estão praticamente em primeiro lugar, andar em alta velocidade nas vias urbanas, não só nas rodovias. As motocicletas que são inúmeras hoje, principalmente depois da pandemia como opção de trabalho, e o tempo desses motociclistas correm contra o tempo, então eles andam em alta velocidade. Temos também muitas pessoas dirigindo sem CNH (Carteira Nacional de Habilitação). São duas principais falhas humanas que causam acidentes hoje, já nas rodovias é o excesso de velocidade e ultrapassagem indevida.  

Quais são as principais causas de morte no trânsito em Mato Grosso e, quais as vias mais perigosas atualmente?  

Aqui na região metropolitana são as avenidas Fernando Corrêa, Miguel Sutil, Historiador Rubens de Mendonça, Beira Rio e a Estrada do Moinho, são as principais, onde mais ocorrem acidentes e com mortes, infelizmente. Agora nas rodovias é a BR-163, a rodovia da Chapada que é a 251 também é perigosa, mas a 163 tem um tráfego muito grande, de caminhões inclusive, principalmente nos trechos de Nova Mutum, Sorriso até Sinop. E as principais causas de acidentes com morte são o excesso de velocidade e a ultrapassagem indevida.  

Mas ainda tem quem não utilize o cinto de segurança, principalmente nos passageiros no banco de trás, acham que o cinto de segurança só é obrigatório nos bancos da frente do carro e não é, quem está no banco traseiro tem que usar sim e é obrigatório. Muita criança morrendo porque colocam eles sem a cadeirinha, que também deve ser utilizada com o cinto de segurança, é extremamente importante. Muitas pessoas são atropeladas porque não se respeita a faixa de pedestre e aqui temos os dois lados: o pedestre que não atravessa na faixa e tem o condutor que não presta atenção e atropela o pedestre.  

A senhora citou a faixa de pedestre. O condutor mato-grossense respeita a faixa de pedestre? 

Eu vejo os condutores principalmente próximos das escolas, de hospitais, respeitam mais. Importante que o pedestre sinalize que vai atravessar. Não é porque tem a faixa que a pessoa atravesse de uma hora para outra, tem que sinalizar com a mão que vai atravessar. Além da faixa de pedestre é importante ter também o redutor de velocidade, próximo a escolas e hospitais, por exemplo, pois o volume de pedestres é maio. No caso a Semob em Cuiabá, que é responsável por isso, tem que verificar quais pontos tem mais acidentes e analisar o que será feito.  

Como está a ingestão de álcool pelos condutores de veículos em Mato Grosso? 

Com a intensificação da Lei Seca, onde todo mês temos uma programação de 12 operações na região metropolitana Cuiabá e Várzea Grande, fora no interior também, nas cidades maiores que são Barra do Garças, Sinop, Sorriso, Cáceres, Nova Mutum, etc, com menos frequência pois são cidades menores. E as pessoas já estão começando a ficar mais atentas com a operação Lei Seca, mas infelizmente ainda tem pessoas que não se conscientizaram que mesmo um pouco que se bebe não pode pegar a direção. Seja um copo, um gole, não pode pegar a direção.  

Fazemos toda semana a operação Amigo da Rodada, uma ação orientativa voltada para as pessoas que estão sentadas nos bares bebendo. Passamos orientações, levamos o etilômetro e fazemos o teste para mostrar, sem ter infração nenhuma, só orientando e enfatizando que quem está bebendo não pode pegar a direção.  

No caso do celular, todos sabem que é proibido falar ao celular e dirigir, mas hoje as pessoas ficam ligadas na tela e digitam, não somente condutores, mas também pedestres, como está sendo tratado esta questão?  

É uma das infrações que dizemos sem abordagem, porque é uma infração contatada não por abordagem, e sim por câmeras que flagram o condutor e vai a multa para ele. E é infração que ocorre demais, as pessoas se distraem e causam acidentes. Temos que ter respeito e responsabilidade não só para consigo mesmo, mas para com o próximo. Chamo a atenção aqui que falar ao celular, ou digitar, enquanto se dirige já está banalizado, as pessoas não respeitam e acham que é mais importante atender uma ligação ou responder uma mensagem do que prestar a atenção no trânsito.  

Na sua avaliação o que impacta mais na redução de acidentes: campanhas educativas ou a fiscalização e punição? 

Não se resolve só com a educação, nem só com a fiscalização e nem só com a engenharia que é a forma de sinalizar o trânsito e diminuir os acidentes. Tem que ser uma ação conjunta e intensificada das três que são um tripé para um trânsito seguro.  

Uma parceria que acredito muito que dará resultados positivos a médio e longo prazo que é uma parceria com a Seduc, que está colocando o tema trânsito nas escolas, já até adquiriram o material para trabalhar de forma interdisciplinar dentro do ensino fundamental e queremos também colocar no ensino médio a questão da parte teórica de trânsito, principalmente para os alunos que vão sair do ensino médio com aquela ânsia de completar 18 anos e tirar a CNH. Precisamos educar as crianças desde pequenas para termos cidadania no trânsito que é respeitar o espaço do outro, pois o trânsito não é utilizado somente por veículos, mas também por pedestres, passageiros e o maior tem que cuidar do menor, ter empatia e respeito com o próximo.  

Temos também o Pnatrans – Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, onde em setembro do ano passado o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, assinou um termo de compromisso com o Senatran e diversas instituições, com o principal objetivo de diminuir a letalidade no trânsito. Possui várias metas, mas a principal é de diminuir em 50% as mortes e lesões no trânsito até 2028.  




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