• Cuiabá, 05 de Setembro - 2025 00:00:00

Pandemia, crise na saúde e planejamento estratégico sob análise do presidente da Unimed


Rafaela Maximiano

As crises, por um lado geram desafios, ameaças e problemas graves, por outro, abrem oportunidades. Do enfrentamento de eventos catastróficos como a pandemia do coronavírus, guerra e crises econômicas, pode surgir o aprendizado individual e coletivo, mudanças de atitudes, gerando saltos de qualidade nas políticas públicas, no comportamento empresarial e no relacionamento humano e social.  

Pelo menos esse é o ponto de vista de Rubens Carlos de Oliveira Júnior, médico patologista, presidente da Unimed Cuiabá e diretor de mercado da Unimed Brasil.  

Na Entrevista da Semana ao FocoCidade o especialista avalia o atual momento de pós-pandemia, o sistema público e privado de saúde, a crise econômica vivida pelo país, a guerra no mundo e como isso afeta o sistema suplementar de saúde, entre outros assuntos.  

“A pobreza aumentou muito... as consequências são muito nefastas, mas a sociedade, o ser humano é muito resiliente, forte, então eu vejo que apesar de todas as intempéries nós sairemos mais fortalecidos de todo esse cenário”, analisa Rubens Carlos de Oliveira Júnior.  

Vítima da covid, Rubens Carlos de Oliveira Júnior que passou 18 dias em UTI e teve 93% dos pulmões comprometidos, pontua que os profissionais da saúde “foram heróis por combaterem essa doença sem ter todas as premissas de conhecimento. É algo difícil. Eu vivenciei isso enquanto médico e também como paciente, não foi fácil. Vi pessoas do meu lado morrendo por algo que não era conhecido”.  

Rubens Carlos de Oliveira Júnior é médico patologista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com residência médica na Faculdade de São José do Rio Preto em anatomia patológica e citopatologia. Possui MBA em Gestão Empresarial pela UFMT, MBA pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro e MBA pela Universidade Católica de Lisboa.  

Boa Leitura!  

Tendo em vista esse novo cenário da pandemia, onde não temos números elevados de mortes, somente de contágio com casos menos graves da doença, qual avaliação desse novo quadro, ainda vivemos a pandemia?  

O processo pós-pandemia não terminou. Tivemos um número de vidas ceifadas dentro da sociedade brasileira, hoje em torno de 670 mil pessoas casos de morte em decorrência da Covid. Eu fui um dos casos muito graves, tive 93% do pulmão comprometido, isso no início da pandemia, em julho de 2020. Fiquei em torno de 18 dias dentro de uma UTI e com certeza esse pós–pandemia está trazendo consequências em todos os níveis, tanto a nível sanitário em decorrência da gravidade da pandemia que nunca foi vista pela nossa geração, pela geração dos nossos pais talvez a dos nossos avós e bisavós, como a grande pandemia mundial que foi em 1918, da gripe espanhola que ceifou mais de 50 milhões de pessoas.   

Isso traz consequências em um mundo globalizado tanto na questão sanitária de saúde, pois nós não temos ainda o conhecimento da profundidade das sequelas da Covid, nesse sentido como doença. Temos altos índices hoje de doenças relacionadas às questões mentais de depressão, questões de saúde. A Covid é uma doença multissistêmica, ela não ataca somente os pulmões, ataca todos os órgãos, tem uma tendência de atacar questões musculares, são alguns pontos do ponto de vista médico.  

Em questões de economia, dois anos parados, a economia mundial também teve consequências, e traz consequências sociais muito grandes. E, também a questão de desemprego. A pobreza aumentou muito. Então, as consequências são muito nefastas, mas a sociedade, o ser humano é muito resiliente, forte, então eu vejo que apesar de todas as intempéries nós sairemos mais fortalecidos nesse pós-pandemia.  

As doenças vão e voltam e a gente tem que se precaver e sempre estar na ponta com os investimentos tecnológicos.

Durante a pandemia vimos um ‘esgotamento’ dos sistemas público e privado de saúde no país pela quantidade de pessoas contaminadas. Olhando para trás como avalia que os sistemas se saíram?  

Nós entramos num colapso de saúde como um todo. Ninguém espera uma pandemia e não é simplesmente uma pandemia, ocorreu uma catarse social, um colapso social com a doença. De uma hora para outra não se pode trafegar dentro da sua cidade, do seu estado, do seu país, e, não tem como evidenciar uma situação como esta ou de se preparar pois uma pandemia ou colapso não são previstos, mas eu acredito que foi um ensinamento social do qual podemos sair fortalecidos.  

Evoluiu-se muito na questão de vacinas que foram preparadas muito rapidamente. Tivemos algumas alquimias – como sempre falo – com relação a tratamentos sem embasamento, mas isso é um aprendizado social.  

Essa nova onda de aumento de contaminação/transmissão e uma certa estagnação na vacinação causa preocupação ou já estamos mais preparados?  

É muito complexo, não temos bola de cristal para falar o que poderia acontecer, é muito difícil. Nós somos um país continental, de vários estados, especificamente aqui em Mato Grosso na década de 70 tivemos grandes problemas com a malária por exemplo. E, de lá para cá evoluímos muito o tratamento, a profilaxia, etc. Eu vejo através do pensamento holístico e filosófico que a sociedade vai crescer, vai ter que entender as suas dificuldades no mundo globalizado e sem muros, com muita tecnologia e isso vai ser o novo caminho para qualquer melhoria.   

Hoje é a Covid 19, amanhã pode ser a Covid 23 ou a dengue hemorrágica que está a mais de 40 anos aí, tem o sarampo. As doenças vão e voltam e a gente tem que se precaver e sempre estar na ponta com os investimentos tecnológicos.  

Como a Unimed especificamente se preparou durante a pandemia e como ficou a estrutura agora?  

A Unimed Cuiabá e demais operadoras de planos de saúde, a saúde suplementar, sofreu consequências de adaptações a este momento. A gente conseguiu num primeiro momento ser reativo e num segundo momento estratégico, no sentido de dar o suporte para a população, dar suporte para o médico.

Evoluiu-se na telemedicina, algo que estava muito distante.  Antes, por exemplo, essa nossa entrevista seria presencialmente, e hoje fazemos por vídeochamada e a três ou quatro anos teríamos que estar em um estúdio, com equipamentos, equipe. Eu vejo como evolução e para a medicina, os planos de saúde, não foi diferente, nós tivemos que nos adaptar à evolução tecnológica, à teleimagens.  

Uma coisa que ajudou muito a sociedade brasileira, apesar de alguns percalços: o Brasil sempre foi um país muito estruturado quanto à vacinação. Quando do rumo já mais cristalizado das vacinas que eram necessárias, o Brasil saiu na frente, tanto é que não teve consequências como os Estados Unidos, por exemplo, que há pouco mais de um ano, estava em um processo de aumento de casos. Temos aumento de casos, mas não tão grave aqui no Brasil, a China fechou de novo nesses últimos dois meses, então, eu vejo que nesse campo foi uma evolução.  

Eu vejo que os profissionais de saúde foram heróis, porque combater essa doença sem ter todos as premissas de conhecimento é algo difícil.

O senhor acredita que há necessidade agora de uma avaliação e nova formulação de estratégia de como fazer saúde no país tendo em vista tudo o que vivemos?  

Falar no contexto de políticas públicas, não que eu não seja político pois fui eleito como presidente da Unimed Cuiabá e não renego discutir política, é muito complexo em todos os contextos mundiais, e no Brasil não é diferente. Hoje nós temos uma polarização de ideias, um fica de um lado e outros de outro. Mas eu vou ser bem sincero enquanto cidadão, sobre as premissas de saúde pública, de saúde no contexto de investimentos tecnológicos, contexto financeiro e social, eu não vejo diferença nos discursos.

Se faz um discurso de polarização, eu sou vermelho ou sou azul, ou eu sou rosa e eu sou amarelo, e, quando você via no cerne entender quais são as premissas, as bases de discussões técnicas, filosóficas, de base, eu não vejo muita diferença e isso me preocupa bastante.   

Eu gosto muito de uma passagem bíblica que diz: “Orai e vigiai”, estou nessa fase, orando bastante e vigiando, para ver se a luz chega até a nossa classe política para que eles possam tentar entender que nós somos um país continental, um país jovem, um país que tem muito futuro, porém um país que tem muita pobreza, com políticas sociais de difícil compreensão e que não dão sustentabilidade para o ser humano poder crescer. Estamos sempre nas bolsas e a transformação do ser humano enquanto procurar a se conhecer e trazer benefícios para a sociedade está aquém. 

Os problemas econômicos pelo qual o mundo e o país passam, depois da pandemia veio a guerra e aqui no Brasil a alta de inflação, a Unimed também sentiu? De que forma e o que está fazendo para driblar a crise?  

É uma pergunta pertinente, não vou responder somente como Unimed, vou falar também da saúde suplementar.

Atualmente, além de presidente da Unimed Cuiabá sou diretor de mercado da Unimed Brasil. Nós temos uma população em torno de 220 milhões de pessoas, sendo que 49,9 milhões são da saúde suplementar, ou seja 27% da população tem plano de saúde.

E, as consequências dessa guerra atinge não só a saúde pública, mas a saúde como um todo. Estamos falando da segunda ou terceira potência mundial que é a Rússia, com poder econômico e bélico. E um outro país que também é um celeiro de grãos e energia, a nível mundial, que é a Ucrânia. Costumo dizer que estamos vivendo uma tempestade perfeita, imperfeita. Tudo o que pode ocorrer de ruim para o ser humano estamos vivendo. Saímos de uma pandemia da covid, vivemos uma pós-pandemia e uma guerra mundial, isso tem consequências na macroeconomia, na economia mundial e traz consequências de desemprego, aumento de pobreza, consequentemente a diminuição do PIB, aumento da inflação, fecha empregos e o empresário não consegue pagar o plano de saúde ou o indivíduo perdeu o emprego e não paga seu plano.  

Estamos sofrendo consequências muito graves. Nesse primeiro trimestre foi muito difícil para a saúde suplementar. Grandes operadoras, pequenas e médias operadoras tiveram viés de dificuldade de inadimplência, de resultados negativos. Porém, eu sou brasileiro e acredito que Deus é brasileiro e talvez ele vá colocar a mão sobre nós. Mas nós – a sociedade – tem que começar a entender que esse jargão de que “Deus é brasileiro”, tem que começar a ser mitigado, e nós temos que ser uma nação diferente, estruturada e sem isso será impossível melhorar.  

Todo o sistema suplementar está passando por um momento de dificuldade, acredito que vá sair desse quadro por premissas, mas com outro olhar de entendimento. 

Como profissional da Saúde como foi fazer parte desse momento de pandemia que o mundo e o país viveram? E, quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde na sua opinião?  

Eu vejo que os profissionais de saúde foram heróis, porque combater essa doença sem ter todos as premissas de conhecimento é algo difícil. Eu vivenciei isso enquanto médico e também como paciente ficando 18 dias dentro de uma UTI, não foi fácil. Pessoas do seu lado morrendo por algo que não era conhecido. Eu vejo que os profissionais também saíram fortalecidos, onde esse fortalecimento de entendimento causa um impulsionamento de tecnologia e de saber, conhecer, é o mais importante nesse momento.   

O que a Unimed está oferecendo para as classes mais baixas ou limitadas, muita gente tem priorizado a saúde após a pandemia...  

Primeiro é importante destacar que nós mantivemos nossa política de prevenção, ações preventivas na área de saúde durante toda a pandemia.  Sempre pensamos em todas as classes, em toda a população, nós temos a Unimed fácil que é um plano para as classes D e E, onde nós temos um índice de satisfação muito grande. Nós sempre tivemos na vanguarda com nossos clientes, já temos isso e inovamos a cada dia.  

Estamos com uma contextualização de laboratórios próprios e o hospital da Unimed sendo inaugurado em janeiro de 2023 com 143 leitos, centro cirúrgico de alta tecnologia, ou seja, um hospital de referência para o Centro Oeste. Essa estrutura será inaugurada dentro do nosso Pronto Atendimento, onde tínhamos o Espaço Cuidar que foi implementado.  

Uma mensagem para os nossos políticos que fazem e são responsáveis pelas políticas públicas em saúde no país... 

“Orai e vigiai-vos”, é passagem bíblica e a Bíblia não erra: “Orai e vigiai-vos”. 




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