• Cuiabá, 05 de Setembro - 2025 00:00:00

Principais analistas políticos de MT e as eleições 2022 x Economia


Rafaela Maximiano

Como será o cenário eleitoral de 2022 para o Brasil e para Mato Grosso? Esse foi o foco da Entrevista da Semana que buscou a opinião dos analistas políticos Onofre RibeiroAlfredo da Mota MenezesLourembergue Alves e João Edisom

Quase sempre a eleição presidencial no Brasil guarda semelhanças com as anteriores. Contudo, a de 2022 ainda é incerta para os analistas entrevistados. Três temas foram destacados em todas as conversas: a economia, a pandemia e a grande polarização entre os dois atuais ponteiros da disputa: Bolsonaro e Lula.    

Até mesmo o nome do ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro, que ganhou notoriedade durante a operação Lava Jato, e se filiou ao Podemos, Sergio Moro, não deve ser decisivo nas disputas, segundo eles.  

No fim das contas, as pautas de política e social, temas sempre presentes nas eleições não servirão de ponte para que um candidato alternativo transite com sucesso em meio à polarização. A pauta decisiva, apostam os olhares críticos dos analistas, será a que trouxer soluções para a economia do país.  

Boa leitura e como citaram os entrevistados, “fiquemos de olho nas pesquisas”!   

Onofre Ribeiro  

Como avalia o cenário pré-eleitoral no contexto nacional? O atual presidente Jair Bolsonaro tem chances de se reeleger?  

Na questão nacional é muito delicado comentar o hoje. Estamos discutindo entre o grupo Bolsonaro e o grupo do PT, esquerda de um modo geral, mas não é só isso. É o que vemos na primeira gravura, as gravuras seguintes mostram que o país está vivendo uma crise econômica, uma ressaca que vem consequência da pandemia. É uma ressaca que vem da recuperação da economia após aquela recessão que ficou em 3,5% negativo no último ano do segundo governo da Dilma. Seis, sete anos depois, isso toma forma e o país está enfrentando uma falta de definição econômica. Eu estou dizendo isso porque independente da polarização entre os grupos de direita e de esquerda o que nós temos na realidade é uma grande questão nacional e mundial vai dominar o cenário das eleições em 2022 para presidente da República, para renovação no Congresso, na Câmara dos Deputados, nas Assembleias legislativas e nos governos estaduais.  

Quem tiver uma pauta econômica ganha a eleição. É simples assim. Lá no passado por exemplo, o Lula se elegeu com uma pauta política e social, mais social do que política. Já em 2018, Bolsonaro se elegeu numa pauta de renovação política. Mas a pandemia trouxe uma profunda deterioração da economia mundial ao mesmo tempo que trouxe a necessidade de uma grande renovação dos sistemas de produção, altíssima tecnologia, brigas de mercados mundiais, etc. Então, a pauta que vai eleger um presidente este ano, não é política e nem é social, é uma pauta econômica. Como se traduz uma pauta econômica? É aquela que é capaz de diagnosticar com exatidão o que acontece no país e que tipo de ação se tomará para que a pauta econômica traga as soluções que o país precisa para: desemprego, inflação, juros altos e a ineficiência do Estado brasileiro.   

É uma eleição complexíssima. Tem-se a certeza hoje no mundo que a eleição brasileira é a segunda mais importante no mundo, pelo papel que o Brasil tem diante do mundo. Na Cop26 na Escócia ficou muito claro, não haverá acordos econômicos mundiais, nem ambientais que não incluírem o Brasil. O mundo sai da pandemia dividido em duas vertentes: uma que produz tecnologia e uma que produz alimentos. E fica claro aí o papel do Brasil.  

Então, dizer que as pesquisas estão mostrando números, e dizer que esses números significam o resultado da eleição é sonho absoluto. Esses números não significam o resultado da eleição, porque a hora que a eleição virar campanha política, pois por enquanto é só especulação dos dois lados, aí o que vem para as ruas são as necessidades da pauta econômica. Eu não estou vendo nenhum dos dois lados com pauta econômica. O PT está vindo com uma pauta que é exatamente igual de 2002, fazem 20 anos, isso passou. Se o Bolsonaro vier com a mesma pauta de três anos atrás de mudança, também já passou, três anos é muito tempo. O cenário está em branco, a gravura da eleição está em branco, não há candidato possivelmente vencedor, olhando a partir de agora. Está tudo no zero a zero.  

A entrada de Sérgio Moro – o que significa eleitoralmente?  

Eu vou dar números. O teto de votos do PT é na faixa de 35%. A faixa do Bolsonaro também é na faixa de 35%. Então você tem 70% de teto das duas vertentes popularizadas. Esses 30% que sobram eles não estão de um lado nem do outro, mas se eles penderem para um lado ou para o outro eles são capazes de criarem uma onda e ela é quem vai dizer quem vai ganhar essa eleição.  

Se o Moro for capaz de entrar no meio desses 30% e convencê-los com uma pauta política interessante e econômica – no caso do Moro, ele tem que trazer uma pauta política também porque ele não tem experiência. Se ele conseguir criar uma onda, gente dos dois lados irão para ele e aí ele tem chances de ganhar a eleição, mas o que eu vejo a pauta dele é indefinida, de lava-jato. A lava-jato foi muito importante, mas já passou, não é mais importante como fato decisivo de uma eleição. Então a entrada do Moro vai depender exclusivamente de uma coisa: se ele conseguir seduzir dos 30% que estão indecisos entre um lado e outro e puxar eleitores dos dois lados. Essa é a única chance dele. Mas, é bom que ele venha porque despolariza um pouco, fica essa coisa de Lula e Bolsonaro, o país é muito maior do isso, muito maior do que Lula e Bolsonaro separados e maior do que os dois juntos.  

Qual sua análise do quadro eleitoral em Mato Grosso? Mauro Mendes deve levar a reeleição com folga tendo em vista ele ter pago dívida de quase R$ 4 bilhões e ter ações como a redução de impostos?  

Dificilmente surgirá um candidato para concorrer com o Mauro Mendes. Não se criou candidatura ao longo desses três anos de mandato dele. A política um pouco parada. Temos cinco ou seis nomes no cenário: o próprio Mauro, Wellington Fagundes, Neri Geller, que são os nomes mais fortes, mas tem nomes secundários de pequena expressão política como Jayme Campos e Carlos Fávaro. Não dão conta de organizar uma corrente, até porque uma corrente não se organiza em dez meses. O que há hoje são tentativas desses jogadores de organizar um espaço. O senador Wellington Fagundes, cujo mandato vence este ano – e ele terá dificuldades de se eleger porque tem muitos desgastes e é líder da região de Rondonópolis que já teve seu tempo de fazer política, Blairo Maggi foi quem descolou Rondonópolis, depois o vice-governador, e, lá não tem mais esse prestigio. Por isso que o senador Wellington Fagundes lutou tanto para trazer o presidente Bolsonaro para o partido dele, para o PR, trazendo Bolsonaro ele teria uma possibilidade de candidatura para ganhar ao Senado com facilidade, na visão dele com o apoio do Bolsonaro, faz sentido. E, ao mesmo tempo ele está tentando tirar o Neri Geller da tentativa de senado para jogar o Neri Geller de vice do Mauro, e, ser vice do Mauro é interessante na medida que daqui há quatro anos o Mauro Mendes se decida a candidatar ao Senado fica o suplente, como foi com Silval, fica dois anos e depois se reelege e fica quatro.

Então, esse é único movimento inteligente que tem no cenário político de Mato Grosso. Se o Wellington Fagundes vier para governador, ele também tem essa possibilidade e ele não quer porque ele corre muito risco e fica sem mandato completamente. Mas se ele vier candidato a governador, ele não tem penetração estadual, é muito identificado com Rondonópolis. Nunca fez questão de se desidentificar com Rondonópolis, daí para ser candidato a governador concorrendo com Mauro que está muito consolidado, a chance é muito pequena.

O Mauro não tem desgaste, somente no funcionalismo público, setor que está muito desacreditado aos olhos da sociedade. Funcionalismo público não define mais eleições, como definiu contra Pedro Taque e a favor do Mauro em 2018. O funcionalismo público está desgastado e desacreditado, são sindicalistas que brigam entre si por salários e direitos e a sociedade de fora está muito sofrida e não aceita essas bolhas dizerem a essa sociedade real aqui de fora dizer como é. Tirando isso o Mauro tem muito boa aceitação e é um governador muito interessante no cenário brasileiro. Sintetizo, a reeleição do Mauro Mendes é muito certa, ele não tem riscos, mesmo que o Wellington seja candidato a governador, o Wellington não traz riscos ao Mauro mesmo que o Bolsonaro esteja como candidato que o apoie. Aqui no Estado as pessoas vão dizer que nós cuidamos da nossa vida, o Bolsonaro não manda aqui. Mas o Wellington foi o único que fez um movimento mais forte no tabuleiro, o restante está rigorosamente fora do tabuleiro de xadrez da política de Mato Grosso, são jogadores menores, só os peões.  

Alfredo da Mota Menezes  

Como avalia o cenário pré-eleitoral no contexto nacional? O atual presidente Jair Bolsonaro tem chances de se reeleger?  

Sim, o Bolsonaro tem chances de ser reeleito, mas me encabula – eu e toda a torcida do Flamengo, que todo dia ele arruma confusão para a tentativa de reeleição dele. Por exemplo essa condução da pandemia, posso falar as frases do Bolsonaro que são impressionantes, ele caminha só no sentido contrário: a vacinas das crianças, o passaporte da vacina, vai virar jacaré, porque vacinar criança, vacina obrigatória só para o Faísca – Faísca é o cachorro dele – ou seja, está aprovado hoje nos Estados Unidos que o motivo principal da derrota do Donald Trump foi a condição desastrada feita por aquele presidente.

Porque um presidente candidatando à reeleição e a economia estando ok, como estava ok no governo Trump, ele não perderia a reeleição. Cita-se que o motivo principal tenha sido a condução desastrada que ele fez da pandemia da covid.  

O Bolsonaro é candidato à reeleição e encontra pela frente um candidato muito forte que é o Lula e as pesquisas mostram um dado preocupante para o Bolsonaro que é um número muito alto daqueles que dizem que não votam nele de jeito nenhum. Esse dado é sempre muito importante e passa da metade do eleitorado. Como ele vai reverter isso?

O Auxílio Brasil vai reverter até a eleição essa tendência para o Lula e não Bolsonaro? O Nordeste é a parte que tem maior número de bolsa família e esse novo Auxílio Brasil turbinado saindo dos R$ 192,00 para R$ 400,00 pode melhorar a imagem do Bolsonaro? Eu estou maluco – no bom sentido – para ver as pesquisas daqui a uns três ou quatro meses para ver como está Bolsonaro no Nordeste e em outros lugares do Brasil.  

Tem gente até que diz que Bolsonaro lá na frente pode, se as coisas não melhorarem, ele desistir da reeleição. Tem essa versão que corre também. Mas eu acredito que ele é candidato e ele nesta altura do campeonato, ele perderia a eleição para o Lula.  

A entrada de Sérgio Moro – o que significa eleitoralmente?  

Essa entrada do Moro é mais um nome da terceira via. É interessante porque as pesquisas já mostram que ele vai ter mais voto na terceira via. Seria a Marina Silva da terceira via que tinha mais votos. O Moro já passou inclusive o Ciro Gomes. Ele atrapalha mais o Bolsonaro do que o Lula e as candidaturas do centro. Ele tira algum voto do Bolsonaro que de vez enquanto dá umas cutucadas nele, porque o Bolsonaro homem político sabe ele está atrapalhando e vai tirar eleitores dele.  

Agora, não acredito que Moro possa ir para segundo turno. A eleição está polarizada entre Lula e Bolsonaro, Bolsonaro e Lula, nenhum nome da terceira via poderia chegar a isso. O que se pergunta e eu fiz um levantamento um dia desses é se a terceira via, com todas as suas candidaturas, conseguiria desta vez algo como 30% dos votos. Será? Até agora historicamente falando não conseguiu. Porque no brasil a eleição é sempre polarizada, e, neste ano o Moro com Ciro e tudo mais, esta terceira via poderia ter 30% dos votos? Outra pergunta: esses leitores da terceira via, no segundo turno, entre Bolsonaro e Lula, votaria em quem? Essa é uma pesquisa interessante que deveria ser feita. Falando aleatoriamente, sem base de pesquisa eleitoral, talvez a maior parte desse eleitorado da terceira via caminharia para o lado do Lula, aliás, as pesquisas mostram que se a eleição fosse hoje o Lula ganharia com tranquilidade. Até uma pesquisa sinalizando que poderia ganhar, hipoteticamente, em primeiro turno.  

Qual sua análise do quadro eleitoral em Mato Grosso? Mauro Mendes deve levar a reeleição com folga tendo em vista ele ter pago dívida de quase R$ 4 bilhões e ter ações como a redução de impostos?  

Ele tem chance de reeleição muito forte, sem dúvida nenhuma. Porque vem realizando obras, no aspecto físico com asfalto, hospitais e tudo mais, e, tendo apoio dos prefeitos porque o governador tendo dinheiro em caixa beneficia o município e acaba beneficiando a imagem desse ou daquele prefeito. Este fato de o governo Mauro ter recurso deveria até ser mais explorado pelo próprio governo, porque vem desde a metade do segundo mandato do governo Blairo que vem o Estado capengando com as suas contas, depois veio o governo do Silval, o governo Pedro, todos pagando as suas contas, mas não tendo recursos para investimentos. E, o Mauro conseguiu com apoio da Assembleia Legislativa recursos para fazer os investimentos que tem feito. A redução dos impostos, do ICMS, vai ter repercussão? Sim vai ter, sem dúvida nenhuma, principalmente porque os adversários futuros não podem alegar que o governo está fazendo investimentos porque aumentos impostos. A redução derruba esse discurso da oposição.  

Tem um dado do governo Mauro que está pouco explorado pela mídia, nesta questão de realização, que é esse acordo com a Fundação Getúlio Vargas por durante alguns anos, de dar uma chacoalhada no ensino médio estadual na parte que compete ao Estado e vai trazer resultado futuro, não para a administração neste momento, porque os jovens podem receber materiais e educação de melhor qualidade, o que é melhor para o jovem, para a família e para o Estado. 

Até o momento, indo para o viés da eleição, não apareceu ainda um nome para enfrentar o Mauro. Ele diz que vai tomar essa decisão em abril, mas a maioria das pessoas acredita que ele caminha para a reeleição. Além disso, apareceu um nome rapidamente, o Odílio Balbinotti e em dez dias sumiu. O Emanuel Pinheiro estava ensaiando isso e aquilo, mas tudo mostra que deu uma recuada, principalmente porque o partido do Emanuel, o MDB, está buscando ser vice na chapa do Mauro.  

Outro detalhe é que a aliança feita pelo partido do Mauro, tem um tempo no horário gratuito da propaganda eleitoral muito alto, talvez o mais alto de todos os partidos, só o PT que deve estar encostando por aí. Com tudo isso, se acredita que o Mauro Mendes venha para uma tentativa de reeleição e sem dúvida nenhuma tendo enormes chances tendo em vista tudo isso que comentei e muito mais coisas que podiam ser comentadas. 

 

João Edisom  

Como avalia o cenário pré-eleitoral no contexto nacional? O atual presidente Jair Bolsonaro tem chances de se reeleger?  

Para falar do contexto pré-eleitoral do Brasil, me permita fazer um preâmbulo. A gente vive a maior onda populista que o país já teve, porque nós temos populismo dos dois lados. A gente criou uma política binária, com dois elos populistas brigando ao mesmo tempo. É bom pontuar que não existe na história da humanidade, populismos que não deixaram rastros de morte em seu país. E estamos entre dois elos extremamente populistas. Tanto que não existe espaço para pensamento racional, vivemos uma irracionalidade de uma decisão de campeonato brasileiro entre duas torcidas, onde os times estão representados pelo Bolsonaro e pelo Lula.

E, como uma partida de futebol, todos os resultados são possíveis nesse caso. Porque o jogo que vai permear essa pré-campanha, não é o jogo daquilo que se está nos tribunais jurídicos, que está no diário oficial, daquilo que realmente aconteceu. Serão jogos de retóricas vazias de quem inventar as melhores frases, quem dar as melhores respostas para a sua torcida inflamar e buscar a questão do voto.

Dentro desse contexto não pode ser descartada a possibilidade de nenhum nem de outro. Não pode ser descartado também que seja uma reeleição que apresente coisas absurdas, envolvendo inclusive atentados. Pelo tamanho do acirramento, da conjuntura, onde as pessoas inventam as mentiras e acreditam nelas de uma forma absurda, ao ponto de agredir pessoas quando as pessoas falarem que aquilo não é verdade. Então, vivemos uma espécie de transe no país, aonde as pessoas estão acreditando em coisas imateriais, na verdade é isso mesmo, as pessoas estão acreditando em fantasia, historinhas, nós chamamos de fake news mas elas são um pouco mais profundas que as fakes news. São desejos internos se manifestando nas pessoas colocando num grau muito alto. Então devemos ter uma eleição muito impactante.  

Nós temos que considerar alguns fatores: a figura do Presidente da República, ela começa a se descaracterizar da figura do responsável desde o episódio dos cheques do Fernando Henrique Cardoso para comprar o Congresso para a reeleição. Dali para cá o vale tudo começou a entrar na política brasileira, e a figura do presidente serve muito mais como se fosse um reinado, como se tivesse aqui um rei às avessas, uma rainha Elizabeth às avessas. Alguém que está na presidência para a sua torcida, para os seus aficcionados e que pode fazer tudo, absolutamente tudo, inclusive até matar, que será justificado, vão passar pano, uma série de coisas.

Criamos uma relação proximal no sentido afetivo e distante no sentido esperar resultados do presidente. O presidente serve para satisfazer o meu ego em um debate aqui e ali, até porque não enxergo nele a responsabilidade de um buraco aberto na estrada, na criança que morre de fome, na fila dos ossinhos; não enxergo responsabilidade dele na ausência de casas, não enxergo responsabilidade dele na questão indígenas que estão morrendo, não enxergo responsabilidade do presidente na questão empresarial onde os impostos sobem todos os dias, no preço do gás, da gasolina.

Só enxergo quando ele for contra mim. Mas se ele for a favor, não é ele que fez isso é culpa do prefeito, da população, é culpa dos governadores, do dólar, de outra coisa, ou seja, essa ausência total de noção, de estruturação, de quem manda no quê, de como funciona a máquina pública, faz com que a eleição brasileira um filme de horrores. Há uma tendência de uma crença nas ficções e não na realidade que o cara passa no dia a dia. Eu não tenho esperança que a gente tenha uma eleição tranquila, ao contrário, a pior eleição talvez que eu tenha que assistir na minha vida para presidente, e, o presidente Jair Bolsonaro, ele tem chances sim porque num filme de ficção e num jogo de futebol tudo pode acontecer.  

A entrada de Sérgio Moro – o que significa eleitoralmente?  

Primeiro eu tenho sérias dificuldades de acreditar que ele vai ser candidato realmente a presidente. Nessa polarização não existe espaço para um terceiro nome e ele tem densidade eleitoral suficiente para chegar ao Senado ou Deputado Federal e aí tem um poder, melhor do que perder para presidente, ele nunca disputou uma eleição. O Sergio Moro está para o Bolsonaro e para o Lula, como está a Rede Globo, como eles odeiam notícia contra ele, ambos chamam a Rede Globo de lixo. Como o Sérgio Moro foi aquele que, não vou aqui discutir juridicamente os métodos até porque não é a minha área, colocou o Lula na cadeia, mas também foi o cara que saiu denunciando o Bolsonaro num punhado de coisas, ele está para os dois como a Globo, assim como tem a Globo Lixo, tem o Sergio Moro Lixo. Ele vai ser massacrado por essas duas torcidas, o maior fato dele foi dizer que ia filiar a um partido e entrar para a política para o nome aparecer e pontuar nas pesquisas. Mas eu não o vejo, a não ser que ele venha compor uma chapa, mas mesmo assim vejo com muita pouca probabilidade. Para mim vais ser surpresa se ele for candidato a Presidente da República. Nesse embate que existe aí não há espaço nem para Sergio Moro, nem para outras pessoas, nem para Deus. Pode ter certeza de uma coisa: para os aficionados do Lula e do Bolsonaro, Deus não é maior que nenhum deles.  

Qual sua análise do quadro eleitoral em Mato Grosso? Mauro Mendes deve levar a reeleição com folga tendo em vista ele ter pago dívida de quase R$ 4 bilhões e ter ações como a redução de impostos?  

A reeleição do Mauro Mendes poderia ser muito, mas muito mais tranquila do que tende a ser. A questão é muito simples: se a gente contar o curto espaço de tempo que o Mauro pegou o Estado, com a pandemia no meio tendo que mudar todos os planos, implementar a Saúde, e, de repente você chegar no ano de 2022 com o orçamento de R$ 26,5 bilhões, ele deve entrar para a história como até agora o melhor governador administrativo que Mato Grosso já teve. Só que a gente divide político em duas canoas, a canoa da gestão e na gestão o Mauro vai bem, e a canoa política. São as conversas, os acordos, a vaselina... Se nessa canoa de gestão o Mauro está próximo à nota 10, nessa outra canoa ele está muito abaixo da nota sete ou da nota seis que é a prova.

Então, ao mesmo tempo que as pessoas têm todo o respeito e reconhecimento pela organização do Estado, não têm por ele a simpatia política que muitas vezes na eleição conta mais. Até porque o brasileiro não busca alguém que administre bem, ele busca alguém que ele tenha proximidade e que ele possa levar vantagem. E, o mauro cortou muito essa possibilidade de vantagem aqui e ali e, não deu muita conversa.

A pandemia também prejudicou porque ele não viajou o Estado, não pode andar, não pode aglomerar, então foi o governador mais distante. Isso faz dele favorito e ao mesmo tempo vulnerável. Se tiver um candidato que tenha uma boa densidade eleitoral o apoio do bolsonarismo em Mato Grosso que é muito forte, não é suficiente para eleger alguém mas dá bastante voto, e, se essa pessoa também tiver uma densidade que justifique, a eleição do Mauro será difícil. Continua favorito, mas será uma eleição pegada, disputada, talvez até mais disputada que a primeira eleição dele.  

Agora se você me perguntar nesse momento, ele é amplamente favorito porque ele está disputando contra quem? Nós não temos esse nome. Então ele precisa cuidar bastante, medias populares estão sendo tomadas, inclusive agora esse último projeto que chegou na Assembleia Legislativa e foi aprovado, em relação ao ICMS dos municípios, é um projeto impopular, aonde principalmente os municípios mais populosos que tem maior recurso nesse primeiro momento vão reagir contra ele. Tem parte do funcionalismo público, que apesar de nesse momento estar recebendo em dias e ter uma série de vantagens gostaria de ter muito mais, tem uma parte comercial que realmente recebeu um pisão no pé e ficou complicada, então necessariamente ele não tem esses dois grupos, lembrando que o grupo do agro é bolsonarista.

Então é uma eleição que ele tem que ter muitos dedos, muito cuidado. Ela não é tão simples e não é tão fácil porque existe uma dessas canoas como falei, que é extremamente vulnerável. Se por um lado tem um administrativo que tem muito a mostrar, muito a dizer, tem um cabedal de coisas para ser dita e ser defendida, não tem aquilo que os políticos têm, a vaselina política.  

 

Lourembergue Alves  

Como avalia o cenário pré-eleitoral no contexto nacional? O atual presidente Jair Bolsonaro tem chances de se reeleger?  

As eleições de 2022 serão bastante diferentes das de 2018. Em 2018, muitos dos que votaram nele, sequer, o conheciam. Não tinham noção de suas realizações na Câmara Federal, durante 28 de mandatos. Ele veio para a disputa como estilingue, apontado para todo lado, e se beneficiou da onda anti-PT, anticorrupção, e, ao sofrer o atentado, ficou longe dos debates, não ficou vulnerável. Elegeu-se. Agora, o ex-deputado e presidente Jair Bolsonaro é vidraça, tem escancarado uma série de situações negativas, ainda que venha, e provavelmente virá trazendo seus feitos na presidência da República, como auxílios emergenciais na pandemia, que contou com a pressão e a ajuda do Congresso Nacional, com o Bolsa Família transformado em Auxílio Brasil, com o pagamento de R$ 400,00 até dezembro de 2022, e a conclusão de algumas obras, iniciadas e bastante avançadas nos governos anteriores.

Poderá evitar os debates. Mas não por todo tempo. E, ao vir para os debates, aí as coisas podem, e serão bastante adversas, pois tem certa dificuldade em convencer ou persuadir a outrem através de suas ideias, e de seu discurso. Mas ele está no poder, e, esta condição, pode certamente lhe favorecer, pois tem a chave do cofre e a caneta. Isso, sem dúvida, pesa na balança durante uma campanha eleitoral.

Contudo, não terá facilidades, até porque muitos que votaram nele em 2018, já disseram que irão votar em candidato diferente. Mas, até agora, não há possibilidades de uma disputa em segundo turno, sem a presença do presidente Jair Bolsonaro. O segundo turno é sempre uma nova eleição, nova disputa. É o confronto direto entre os dois oponentes que se sobressaíram no primeiro turno. As dificuldades ditas lá atrás podem se tornar bem maiores quando o confronto é direto.   

O quadro no contexto nacional, assim como os regionais, ainda está em construção. Muita coisa pode acontecer. Inclusive desistência de um ou outro postulante. A composição definida pelas pesquisas de intenção de votos pode ser outra. As tendências de perdas de pontos, e, em outros momentos, de ganhos, são constantes em uma disputa, em especial a presidência da República. Tem igualmente as costuras das alianças. Coligação não é permitida apenas para a proporcional. Na majoritária, ainda vale as alianças. Assim, os candidatos poderão contar com apoios até agora não ventilados, ou, sequer, pensados, até porque muita coisa pode acontecer depois de março. Uma distância enorme separa os partidos e os políticos do início da campanha eleitoral. Existem muitas incertezas. Certezas são bastantes poucas.   

A entrada de Sérgio Moro – o que significa eleitoralmente?  

O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro já era esperado na disputa. Pensou-se que ele pudesse sair candidato ao Senado, depois como candidato a presidência da República. Ele fez a opção que lhe pareceu razoável, embora tenha se cercado de alguns auxiliares que supostamente conhecem o lidar político-eleitoral-marketing, o seu percurso está longe de ser fácil, até em razão do seu distanciamento do presidente da República e do ex-presidente Lula, levando-se em consideração as pesquisas de intenção de votos.

Assim que se declarou postulante a disputa, logo na sua filiação ao PODEMOS, as pesquisas o colocaram em terceiro lugar, ora com certa dianteira, ora com nem tanta dianteira do Ciro Gomes (PDT), que aparece à frente dos demais, a exemplo do governador de São Paulo, Dória (PSDB). O ex-juiz vem em destaque neste pelotão, mas muito aquém, ao menos por ora, do que se esperava. A partir de março ou abril, esse quadro poderá vir a ser outro, e, certamente, será, porém não se sabe ainda se o ex-juiz tem fôlego suficiente para brigar pelo segundo lugar, desbancando o presidente da República, e saindo para a disputa no segundo turno com o ex-presidente Lula. Tarefa bastante difícil. Complicada. Mas nada é impossível.

No jogo político-eleitoral, a impossibilidade inexiste. Embora haja muita dificuldade. Até por conta de sua alta rejeição. Índice percentual variando entre 60% ou 63% de rejeição. Se este índice for verdadeiro, o que é pouco provável de não ser, essa rejeição dificulta bastante o avançar do ex-juiz, pois tem um espaço bastante curto de crescimento. Agora, diminuir essa rejeição é perfeitamente possível, ainda que bastante difícil, mas a história das eleições tem trazido exemplo de superação muito expressivo, e este é o caso do prefeito Murilo Domingos, que, na disputa a reeleição, tinha em desfavor mais de 70% de rejeição. Número que foi demolido, e o prefeito foi reeleito prefeito de Várzea Grande. O próprio deputado Jair Bolsonaro, em 2018, tinha alta taxa de rejeição, e não era um dos mais cotados a vencer as eleições. E, quando a urna foi aberta, sagrou-se vitorioso.

Qual sua análise do quadro eleitoral em Mato Grosso? Mauro Mendes deve levar a reeleição com folga tendo em vista ele ter pago dívida de quase R$ 4 bilhões e ter ações como a redução de impostos?  

Com certeza, o governador Mauro Mendes tem grandes chances de ser reeleito. Tudo contribui para isso. As contas públicas do Estado, aparentemente, estão em ordem, equilibradas. Claro que tal equilíbrio se deve a muitos fatores, entre os quais as próprias iniciativas do governador e do governo, como o envio, logo no início da gestão, de cinco projetos para a Assembleia Legislativa, no finalzinho da legislatura passada, que, sensibilizada, os aprovou. Soma-se a isso a aprovação, também pelo Legislativo estadual, já na atual legislatura, da Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei que regulamentou a RGA e o projeto do novo FETHAB. A Reforma da Previdência entra nesse lote.

Teve um peso importante o decreto de calamidade financeira no âmbito da administração do Estado, de dezessete de janeiro de dois mil e dezenove, igualmente aprovado pela Casa de Leis regional, sob a justificativa de que o endividamento era superior a R$ 2 bilhões de restos a pagar, sem disponibilidade financeira. O que possibilitou ao governo priorizar as prioridades. Situação que foi ampliada com a pandemia, pois a União destinou a cada município e a cada Estado uma quantia expressiva como compensação da baixa arrecadação. Dívidas do Estado para com a União foram jogadas para frente.

Tudo isso contribuiu para o equilíbrio das contas públicas mato-grossenses. Permitindo ao governo a reinvestir na infraestrutura. Cenário altamente favorável a reeleição do governador. Torna-se ainda mais com a ausência de nomes competitivos de outras siglas. Falou-se em candidatura vinda do agronegócio, ou do meio empresarial, ou de profissional liberal, ou, até mesmo, de alguém do meio político. Movimentos nessa direção foram feitos, contudo, os que apareceram não reúnem os dividendos eleitorais necessários, nem a capacidade política ou eleitoral suficiente para fazer frente ao governador. Isso pode mudar? Claro que pode. Ninguém ganha uma eleição com tanta antecedência, nem mesmo na véspera.

A literatura está cheia de exemplos de políticos que dormiram abraçado a vitória, e acordaram em meio a derrotas. Aliás, em 1988, todas as pesquisas de intenção de votos davam vitória para Roberto França, porém o resultado das urnas foi outra muito diferente, com a eleição de Frederico Campos, que chegou de última hora para a disputa: Frederico Campos (PFL), 44.747 votos, Roberto França (PTB), 34.309 votos, José Meireles (PMDB), 30.882 votos, Serys Slhessarenko (PV), 5.984 votos. Este exemplo serve como reflexão. Reflexão necessária.

Ninguém vence uma disputa antes dessa disputa terminar. Isso não significa que inexista favorito. Tem sim. O governador Mauro Mendes tem tudo para se reeleger. Seu favoritismo nada tem a ver com o pagamento de dívidas no valor de “quase R$ 4 bilhões”, até porque este pagamento é total desconhecimento da imensa maioria do eleitorado mato-grossense. Tampouco por conta da redução de ICMS sobre a energia elétrica (de 27% para 17%), comunicação (30% para 17%), gás industrial (17% para 12%), gasolina (25% para 23%) e diesel (17% para 16%). Estas reduções podem até surtir efeito no bolso do contribuinte, e provavelmente surtirão, entretanto não na mesma proporção da propaganda oficial, nem no tamanho do eco que vem do Palácio, replicado pela imprensa. Isso ajuda na campanha eleitoral. Mas o favoritismo do governador se deve a outros fatores, já mencionados lá atrás, até porque o custo da cesta básica não caiu, nem abaixou o valor do transporte público, muito menos irão se reduzir, mesmo com a entrada em vigor da lei que permitiu tais reduções. Favoritismo que não serve de guarda-chuva para encobrir os erros cometidos pelo governador e pelo seu governo.

Erros que se agigantam quando se coloca na balança a insensibilidade governista frente às questões sociais, a exemplo da insistência e aprovação da cobrança de 14% de previdência dos aposentados e pensionistas, bem como a inexistência de políticas públicas tão necessárias para combater a fome, a pobreza e a desigualdade social e regional. Ainda que tenham adotados algumas iniciativas, a exemplo do Cartão Emergencial Familiar, no valor de R$ 200,00 a cada dois meses, que contempla, segundo as contas governistas, 100 mil famílias.

Por outro lado, pecam todas as agremiações partidárias, afinal, não construíram suas candidaturas ao governo do Estado, nem possuem discurso contundente para a disputa, tampouco projeto alternativo de governo. Isto, claro, dificulta e muito o impulsionar de um nome da oposição. Mesmo que esse nome venha com o apoio do presidente da República, que tem um peso eleitoral bastante forte no Estado.

O presidente Jair Bolsonaro deve sair candidato à reeleição, e, por conta disso, claro, precisa de um palanque em terras mato-grossenses, o que leva o grupo de apoiadores a pensarem em uma candidatura ao governo. O problema é que não existe esse nome com desenvoltura político-eleitoral, densidade eleitoral a altura da disputa. O que torna mais fácil a briga do governador, que, mesmo assim, não deve se descansar, até porque não se obtém vitória eleitoral antes do tempo.   

Tem-se, portanto, um quadro eleitoral em Mato Grosso ainda em construção, embora com algumas poucas definições, até porque a disputa pela única vaga do Senado deve ser bastante acirrada. Muito mais que a disputa pelo governo. E, nesta sim, o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro pode influenciar bastante. Daí a briga pelo seu apoio. O fato de estar filiado ao PL não faz do candidato Wellington Fagundes, pelo menos por ora, o seu candidato. Políticos ligados ao Movimento “Direita Mato Grosso”, criado em 2021, já abrem um longo sorriso ao presidente, defendem-no e dizem buscar votos para a sua vitória do Estado. Dizem que o deputado federal José Medeiros seria quem reúne mais condições para ter o seu apoio. Mas isso não está bem certo.

A costura disso pode passar um pouco mais distante, pois o presidente carece de palanque por aqui, e esse palanque poderia se desdobrar em dois ou até três, e, nessa condição, o candidato com o apoio do presidente seria bem outro, e é nesta brecha que corre o deputado Nery Geller, com o fim de atrair também a simpatia do governador do Estado, cujo apoiamento está sendo igualmente cobiçado pelo Wellignton Fagundes. Não é por acaso que a União Brasil, fusão do PSL com o DEM, ao menos parte de suas lideranças regionais, já trabalha com a possibilidade de se juntar ao presidente da República. O que leva alguns dos outros partidos a pensarem em alternativas, e que venham fazer frente a essa possibilidade.

Portanto, o quadro ainda está em construção. Certamente com traços bem mais claros a partir de março, ou meados de abril. De todo modo, as movimentações se dão, ainda que meio capenga, mas se dão. Políticos vão de um lado para outro, recuam, e até avançam, mas com atenção para não queimar a largada. Aí a coisa complicar de vez. Até porque tem também a feitura das chapas para a Assembleia Legislativa e para a Câmara Federal, cujas disputas não mais contarão com alianças, coligações, ainda que haja possibilidade de uma federação, que carece de um parecer do STF, em razão de questionamentos que lhe chegaram às mãos. Pode não dar em nada. É o que esperam as pequenas siglas, que, sem a chamada federação, podem correr sérios riscos. Por outro lado, os grandes partidos no Estado, evidentemente, também têm lá os seus problemas. Problemas de não conseguirem eleger o número de parlamentares que almejam e desejam, e, desse modo, ficarem de fora da lista dos eleitos nomes de peso, que tinham por certo suas eleições ou reeleições. Isto explica o porquê alguns deles já pensam em buscar outra agremiação, e, então, estão à espera da chamada janela partidária, pois não querem perder o mandato, que pode lhes ser bastante útil na campanha eleitoral. Situação bastante igual em outros Estados. 




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