• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

Marcelo Sandrin: é um absurdo pensar em festa de passagem de ano ou Carnaval


Rafaela Maximiano

No mês passado, a Organização Mundial da Saúde OMS classificou a B.1.1.529 como variante de preocupação e batizou de “Ômicron”. Com essa classificação, a nova variante foi colocada no mesmo grupo de versões do coronavírus que já causaram impacto na pandemia: alfa, beta, gama e delta.   

“A Ômicron é considerada de preocupação, pois tem 50 mutações na proteína 'spike', a 'chave' que o vírus usa para entrar nas células e que é o alvo da maioria das vacinas contra a covid”. A pontuação é do médico, Hélio Marcelo Pesenti Sandrin.   

Em entrevista para o FocoCidade, Sandrin detalha o que já se sabe sobre a nova variante, se as vacinas são eficazes contra ela e se os testes existentes a detectam. Porém, quando o assunto são as festas de final de ano e o Carnaval, Marcelo Sandrin afirma que precisa ser enfático: “é um absurdo pensar em festa de passagem de ano ou Carnaval”.  

Experiente, elogia a decisão de Cuiabá não realizar o Carnaval e espera “que o Mato Grosso inteiro tome esta atitude: não ao Carnaval”.  

Clínico geral desde 1987, é também professor de medicina, presidente do Hospital e Maternidade Santa Helena e ex-presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Mato Grosso.   

“Peço aos gestores públicos que façam a sua parte e não deixem ocorrer o carnaval ou a passagem de ano... Seria expor a sociedade a grande risco. Convoco a população que também tem responsabilidade”, avisa Sandrin. 

Confira a entrevista na íntegra: 

Por que a nova variante detectada na África do Sul pode ser a 'pior já existente'?  

Não existe indícios ainda de que ela seja a pior existente. Ela tem o problema de que tem mutações múltiplas e ela não é tão recente. Ela foi anunciada agora, porque estão havendo casos e temos que ficar de sobre aviso. Me parece até que ela é menos importante que outras variantes pois há indícios de que as vacinas têm influência sobre ela, porém, ela é mais infectante. Se transmite mais facilmente pelas mutações terem ocorrido na proteína Spike do vírus, justamente a parte considerada "a chave" para entrar na célula humana. É ela que conecta o microrganismo para iniciar a infecção.   

Ainda vamos ver o que vamos fazer, mas não vai ser a pior das piores. Não tem como afirmar isso.   

O que já se sabe sobre a variante Ômicron?  

Ela é uma mutação massiva, existe até 50 lócus, ou seja, 50 alterações genéticas que são pequenos detalhes no genoma do vírus, que ao criar suas cópias no corpo humano, pode passar por essas mudanças, e, isso é muito raro e difícil até de se observar – se é que tinha sido observado - que isso poderia aumentar e parece que aumentou o potencial de infectividade desse vírus. Mas quanto à agressividade, quanto ao potencial principalmente o que nos interessa que é a resistência às diferentes vacinas que a gente tem disponível – o mundo tem um monte, nós temos aqui no Brasil basicamente quatro. Mas ela (a variante Ômicron) me parece não é resistente às vacinas. 

E, aqui gostaria de fazer uma observação interessante quanto às vacinas, pois sumiu a Coronavac, a AstraZeneca está por aí e agora virou império da Pfizer. Tivemos uma passagem rápida da Janssen que não voltou. Mas é só uma observação.    

A variante afeta de forma mais grave crianças?  

Não há evidencia nenhuma, nem comprovação nenhuma, não existe até o momento relatos de que a Ômicron afete especificamente com maior gravidade crianças. Aliás, nem afetando crianças. Vamos acompanhar a evolução.  

Os testes que existem hoje, a exemplo do PCR, do teste rápido, identificam essa nova variante?  

Sim a nova variante é identificada pelo exame PCR e obviamente tem modificações a testar que indicam a cepa. Isso é feito quase que automaticamente e vai sendo adaptado para identificar a presença do vírus é identificada.   

O PCR é aquele no qual é colocado um cotonete na boca ou no nariz da pessoa que vai ser testada. Depois, a amostra é examinada em laboratório e o teste consegue dizer se o vírus está ou não ali. Ele leva cerca de quatro horas para mostrar o resultado.  

Me perdoem, mas eu acho que essa pessoa deve ser levada à Justiça e presa. Porque é indigno expor pessoas em ambientes fechados sendo suspeita de portar qualquer tipo de coronavírus.

As mesmas regras de prevenção para o contágio – uso de máscaras, lavar as mãos, desinfecção de objetos pessoais, evitar aglomeração, etc. – servem para a nova variante ou existem outros cuidados?  

Sim, elas valem e valerão por muito tempo, durante muitos anos. E, eventualmente, vai ser o calvário que nós vamos ter que suportar durante décadas.  

Mas, por um ponto foi bom. Hoje nós somos mais prevenidos, socializamos um pouco menos. E, tem parcelas da população que não segue regra alguma. E, temos um problema importante que é o distanciamento social que está sendo esquecido. Vale a regra de um metro e meio a dois metros, não devemos ficar tão perto das pessoas. E, existe também o consenso de que se você estiver num lugar distante das outras pessoas e em lugares abertos não necessariamente precisa usar as máscaras. Mas é bom lembrar: as máscaras de boa qualidade, bem ajustadas, conseguem fazer até 53% de proteção da transmissão do vírus. Bloqueia mesmo, é bom que a gente reflita sobre isso.  

Vamos falar a verdade, um ano e oito meses, todo mundo já sabe o que precisa fazer. Tem gente que está fazendo de conta que não sabe e aí é ridículo.  

Já se sabe a eficácia dos atuais imunizantes contra essa variante e como ela surgiu?  

Já estão aparecendo alguns casos de pessoas que não estavam vacinadas e que foram inoculadas, ou seja, contaminado pelo vírus. Mas inicialmente foram pessoas que tinham tomado a vacina. O primeiro casal sul-africano que foi diagnosticado aqui no Brasil, já haviam tomado a vacina e estão com uma forma leve da doença. Mas infelizmente temos o outro lado, pessoas que testaram positivo e estavam isoladas por virem da África do Sul, estava assintomática e enquanto aguardava a confirmação de exames burlou o isolamento, foi ao shopping. Me perdoem, mas eu acho que essa pessoa deve ser levada à Justiça e presa. Porque é indigno expor pessoas em ambientes fechados sendo suspeita de portar qualquer tipo de coronavírus. Agora, especialmente com a possibilidade de ser uma nova cepa que ainda está sob estudos. Lembremos que tudo isso ainda está sob estudos.  

Nós não temos certeza, mas parece que os imunizantes são eficazes contra a variante Ômicron. Agora, nós não temos um número de pessoas infectadas que possam ser comparadas e fazer um trabalho ético e moralmente aceito para nos trazer orientações. O melhor é prevenir mesmo com as medidas que a gente já citou e que as pessoas continuem se imunizando de acordo com as regras que estão estabelecidas com o Ministério da Saúde.  

Quanto às festas de final de ano e depois o Carnaval, podem aumentar novamente o contágio e de pessoas infectadas e em UTIs, e até mortes no país?  

Eu acho que não precisaria ser tão dramático, mas preciso ser bastante enfático. É um absurdo pensar em festa de passagem de ano ou Carnaval. Graças a Deus parece que já foi abolido aqui em Cuiabá. E, nisso eu parabenizo as autoridades e outras cidades deveriam tomar essa atitude. Eu espero que o Mato Grosso inteiro tome esta atitude: não ao Carnaval, de forma alguma, absolutamente, e, também não à passagem de ano e diversos. Peço também cautela às famílias porque o Natal é uma festa familiar, onde as pessoas têm que se cuidar muito mais e vão haver adolescentes e pessoas que transigem as regras. Se for possível realizem em ambiente aberto com todos os cuidados necessários para a prevenção de disseminação no seio familiar.  

Vamos falar a verdade, um ano e oito meses, todo mundo já sabe o que precisa fazer. Tem gente que está fazendo de conta que não sabe e aí é ridículo.  

Defender Carnaval e passagem de ano, festas que têm limites morais e de segurança baixíssimos, não é digno.  

Qual a mensagem do Dr. Marcelo Sandrin as pessoas e gestores públicos?  

Aos nossos gestores eu peço encarecidamente que reflitam, que não nos levem de novo para a sinuca de bico onde a classe da saúde toda foi coloca à mercê da exposição durante tempos brutais. Se tivermos um novo pico, nós não vamos fugir da raia, mas nós estaremos chegando ao limite da estafa, porque foi muito duro para todos, assim como foi duro para a população em geral as perdas que tiveram e o sofrimento que foi imposto.

E, está nas mãos dos gestores fazer isso. Temos que pensar na economia é obvio, não fazer bobagens que foram feitas anteriormente, mas defender Carnaval e passagem de ano, festas que têm limites morais e de segurança baixíssimos, não é digno.  

Há meses atrás a classe da saúde era aplaudida, hoje já fomos esquecidos. Pela melhoria que ocorreu na pandemia nós já somos quase “carta fora do baralho”. Ninguém houve mais a área de saúde. Os gestores é que têm de tomar providência, eles não falam mais sobre estes profissionais e a população nos esqueceu. Mas nós não esquecemos da população. Estou falando isso não porque queremos elogios, os profissionais que ficaram à frente desse atendimento ao coronavírus, passaram por momentos muito sofridos e dolorosos, e pedimos encarecidamente para a população não se expor, escutem bons conselhos, não politizem essa doença, a tratem como uma doença perigosa e que precisa de cuidados, de intervenção precoce.   

Vale ressaltar que intervenção precoce não é tratamento precoce – para não começar o bate-boca – se trata de jamais ficar em casa esperando a falta de ar, qualquer sintoma procure um serviço médico de imediato. E, todos nós estaremos à disposição.  

Peço mais uma vez aos gestores encarecidamente, se for possível, façam sua parte e não deixem existir o Carnaval ou a passagem de ano da forma como tem sido sugestionado. Isso seria o cúmulo do absurdo. Seria expor a sociedade a grande risco e obviamente também convoco a população que também tem responsabilidade. Se nossos gestores não fizerem o serviço deles é só as famílias de bem, as pessoas de bem, devem sair às ruas exigindo que isso não venha a acontecer.   




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