Rafaela Maximiano - Da Redação
A ansiedade dos brasileiros, gostem ou não do governo federal, está em alta - todos estão à espera do que vai acontecer nos próximos meses.
Os impactos do 7 de Setembro para a economia, a sociedade, a agenda política e as eleições de 2022 foram o objetivo da Entrevista da Semana que conversou com os analistas políticos Onofre Ribeiro, João Edisom e Alfredo da Mota Menezes.
Para o jornalista Onofre Ribeiro as manifestações do dia 7 de Setembro não ocorreram isoladamente e têm origem em manifestações mais antigas com pautas não atendidas que “acabaram por abrir a torneira”. Ele avalia também que todo esse cenário pode ser visto “como um passo muito grande para o amadurecimento da democracia. "Acho que ganhamos muito e iniciou-se um ambiente novo para 2022 e para os próximos anos”.
João Edisom pontua que parte dos caminhoneiros brasileiros foram usados como “massa de manobra”, de um lado pelo presidente Jair Bolsonaro e por outro, porque os paga, o agronegócio. E acrescenta: “O presidente recuou de medo. Justamente por não ter conhecimento, o presidente Jair Bolsonaro é a pessoa errada no lugar errado. Ele não tem conhecimento, não tem preparação para o cargo”
Alfredo da Mota Menezes afirma que duvidava e duvida muito do rompimento, um golpe de estado, porque o PIB nacional formado pela Febraban, Fiesp e muitas Federações de Indústrias desembarcaram do governo Bolsonaro. Sobre a possibilidade de vivermos tempos mais estáveis, ponderou: “Será que Bolsonaro vendo tudo o que estava acontecendo e atrapalhando a economia e podendo fortemente atingir a reeleição dele, ele quer mudar? Sei não, vamos esperar um pouco para ver se surge aí um novo Bolsonaro”.
Confira a entrevista na íntegra e boa leitura!
Onofre Ribeiro:
Tendo em vista os acontecimentos do dia e pós o 7 de Setembro, qual sua avaliação desse momento vivido no país, estamos caminhando para uma ruptura política e democrática?
É preciso a gente olhar esse movimento do dia 07 Setembro não isoladamente, ele é uma sequência que começou em junho de 2013 com os estudantes em São Paulo e depois estendeu-se ao país todo, defendendo aí inicialmente R$ 0,20 centavos da passagem de ônibus. Foi um movimento muito grande, deu muito trabalho para a polícia, para o governo, a tal ponto que as manifestações fizeram com que a presidente Dilma, o presidente da Câmara, do Senado e o Ministro da Justiça, etc, reuniram-se em Brasília e prometeram aos estudantes uma série de medidas que não tomaram. A Dilma não tinha força política para isso e não levaram a sério; boicotou-se o movimento usando aqueles rapazes os black blocs para saírem no meio dos jovens fazendo quebra-quebra e aí o movimento parou. Parou, mas não morreu. Ele abril a torneira.
Em seguida, dois anos depois, vem o impeachment da Dilma, o povo foi para a rua e com muita clareza, foi para a rua defendendo o impeachment, contra a corrupção, a questão da copa do mundo e lembrando lá atrás os estudantes eles inicialmente começaram com R$ 0,20 centavos de ônibus e depois passaram para as pautas da Copa do Mundo, estádios em vez de hospital, a corrupção... então a corrupção é onipresente nos desabafos. Quando o Temer foi presidente, teve aquela história toda da JBS, teve mais movimento de rua, naquele momento surge uma pauta ou outra, mas todas esbarram sempre na mesma temática; corrupção.
Agora no governo Bolsonaro houve um monte de manifestações porque está muito claro que o Bolsonaro não se elegeu em cima de uma ideologia política e nem de bolsonaristas, ele não tinha conhecimento público nacional suficiente para se eleger, ele se elegeu numa onda anti--PT. Se a onda anti-PT falava de corrupção, o assunto continuou e as manifestações vieram e trazem sempre esse problema. Agora no governo do Bolsonaro teve um monte de manifestações e todas falando em corrupção. Nesse momento as manifestações do dia 07 de Setembro, elas falaram em corrupção mas vieram muito mais focadas e é aí que está a questão.
De 2013 para cá, a população aprendeu a focar nas manifestações e nesse momento, há uma série de questões no ar: uma é o discurso implantado pela esquerda de que as manifestações de camisa amarela são antidemocráticas. Isso é um jogo da política, é um discurso da política. Então, o pessoal de camisa amarela foi discutir pela democracia, foi discutir na visão deles pátria, Deus e família, outra coisa foi a corrupção, a liberdade de expressão que o STF está caçando regularmente... o STF tem uma leitura de que é preciso controlar profundamente a comunicação, o inquérito do fim do mundo que é da fake news, ele é um regulatório muito forte de uma corte que entendeu que ela é o Poder maior da República. Recentemente o juiz Ives Gandra Martins deu uma entrevista excelente para o Augusto Nunes na Jovem Pan, onde ele diz que o Supremo entendeu que ele é o Poder maior do País. E, não é. A Constituição diz que os Poderes são harmônicos e são iguais entre si.
Então a população veio com essa leitura de que o Supremo tem que ser posto no seu lugar porque ele está governando. O Supremo está governando, de maneira indireta, então a população teve esse foco. Para mim o 7 de Setembro foi isso, a população focada e nessa manifestação focou no STF e manteve a questão da corrupção, uma questão muito clara: a classe política brasileira é associada à corrupção.
Também tivemos diversos bloqueios de caminhoneiros pelos estados brasileiros. Os caminhoneiros foram usados como manobra política, um engodo para pressionar os demais Poderes?
Os caminhoneiros foram mobilizados e estão divididos em algumas alas. Uma das alas ela foi mobilizada com financiamento do agronegócio para a paralisação. Essa paralisação significaria o endurecimento de um momento qualquer. Na visão mais simples dos caminhoneiros era fechar o Supremo, etc. Essa é a visão mais simples. O Bolsonaro seria, como ele identifica com o movimento dos caminhoneiros porque é a linguagem da direita, a linguagem da camiseta amarela, que hoje representa a direita e está sendo muito demonizada pela esquerda que tem um discurso forte nessa direção - mas isso é do jogo político - os caminhoneiros, o agronegócio pretendia que o Bolsonaro fosse fortalecido pois ele tem uma identificação muito forte com o Bolsonaro porque o Bolsonaro representa algumas teses para o agronegócio. Por exemplo a questão dos índios, do marco regulatório, se o marco regulatório passar acaba 27% do país passa a ser de áreas indígenas. Para se ter uma ideia, o país campeão de alimentos no mundo numa área de 12%, se os indígenas chegarem a 27% o país está completamente inviabilizado, Mato Grosso nem se fala.
Bolsonaristas defendem que as decisões do Ministro do STF, Alexandre de Moraes, tem sido impositivas a exemplo de pedir a prisão de pessoas que segundo eles têm o direito de se expressar. Em que pese as declarações de ameaça contra o STF e seus Ministros, como avalia esse ponto de vista, faz parte da democracia ou extrapola esse conceito?
A esquerda e uma parte grande do Congresso – isso é jogo da política – tinha entendido que se o Bolsonaro partisse para esse discurso depois lá da Praça dos Três Poderes para a Avenida Paulista em São Paulo quando ele atacou o Supremo diretamente, esperava-se um golpe, e esse golpe justificaria imediato pedido de impeachment e com relativo apoio internacional, era muito possível que o impeachment passasse, haveria um clima de conflito de mentes armadas. Entra no circuito o ex-presidente Michel Temer com aquela carta e amansou o Alexandre de Moraes, pois foi ele que o indicou para o Supremo. O Supremo se assustou muito com aquele povão todo na rua atacando ele, o Congresso se assustou muito porque perderam o controle das ruas e o Bolsonaro fez aquela carta que apaziguou o mercado, apaziguou a relação entre os Poderes, e agora eles vão ter que se entender, vão ter que sentar para conversar. Mesmo que o Bolsonaro não consiga se sentar com o Fux ou com o Alexandre de Moraes, vai ter alguns interlocutores que sentarem e conversarem em nome deles tipo embaixadores porque não há mais clima dessa divisão de Poderes, e o Supremo já começou a ceder, ele fez uma série de concessões no acordo para que a carta saísse e uma delas é que param de governar em assuntos que não são da sua responsabilidade, ou seja, o Supremo para de governar o país. Então, a carta aparentemente, foi um recuo político e foi mesmo, porque sessou a ideia do confronto e depois entrou uma ideia nova muito mais interessante que é a ideia dos acordos, de conversar e de harmonizar as relações entre os Poderes, porque maior que os Poderes têm a nação, e, a nação, o mercado, as pessoas estão de “saco” muito cheio com o Estado Brasileiro.
Depois de acirrar os ânimos, o Presidente da República pediu desculpas e afirmou que não quis atacar os poderes com suas declarações. Essa mediação feita pelo ex-presidente Temer vai durar na sua opinião? Teremos uma relação menos conflituosa e mais respeitosa entre os Poderes?
Houve uma crise grande em 20013 com os estudantes que veio se perpetuando e chegou agora na maior de todas essas crises, e indica que a rua é o domínio das manifestações contra o governo, o Estado. O Estado percebeu que seja o Presidente, seja o Supremo, seja o Congresso, entenderam que agora tem o cidadão na rua, e é o cidadão pacífico que está lá defendendo o que ele acha que é justo.
A conclusão que se tem é que entramos em uma nova fase, a fase do diálogo e de que o Estado está sob julgamento popular. Isso é positivo porque obriga esse Estado canalha que o país tem a olhar para a sociedade e olhar para as suas obrigações e o guardião desses acordos é a população nas ruas através de manifestações. Foram pessoas de bem que foram para as ruas, uma parte foi de bolsonaristas e apaixonados por partidos, mas a maioria não, são pessoas de bem, classe média, classe C, D, E, que tem dificuldades em empregos, etc, e que precisam de viver. O país entrou numa fase quem sabe de harmonia, nem que seja uma harmonia de um ano e dois meses que faltam para a eleição do ano que vem, isso diminui um pouco o ânimo, o clima quente da eleição no ano que vem e indica que quem for eleito em 2022 é preciso ter espírito de diálogo, de paz, de conversa e não de radicalismos políticos.
Eu diria que somando tudo, o país evoluiu muito nesse dia 7 de Setembro, embora aparentemente os resultados sejam de que foi ruim e tal, mas não foi porque o Supremo teve que ceder para caramba pois ele é arrogante demais para ceder alguma coisa e cedeu com medo da rua, o Congresso cedeu com medo da rua, não fala mais em impeachment e uma série de coisas e o presidente também cedeu, isto foi um passo muito grande é o amadurecimento da democracia, acho que ganhamos muito e iniciou-se um ambiente novo para 2022 e para os próximos anos.
João Edisom:
Tendo em vista os acontecimentos do dia e pós o 7 de Setembro, qual sua avaliação desse momento vivido no país, estamos caminhando para uma ruptura política e democrática?
Passado o movimento do dia 7 de Setembro ficou muito claro que o movimento foi desnecessário, desproporcional e criminoso. Criminoso porque houve envolvimento do dinheiro público de uma instituição fazendo movimento contra outra instituição. O movimento foi claro, ninguém estava defendendo o Brasil, a democracia, liberdade, nada, estavam defendendo o presidente Jair Bolsonaro e contra, jogando o pais, contra uma outra instituição, que não importa se ela está errada o que não pode é ter lá nomeio gente pedindo ditadura, ditadura com o presidente, a dissolvição dos ministros, prisão dos ministros.
Então houve crime sim, foi desnecessária e o Brasil saiu muito pequeno. O presidente conseguiu apequenar o Brasil, ele com suas ações: o voo de helicóptero, aqueles discursos descontrolados, e prova que os discursos foram descontrolados que ele está voltando atrás. Foi um discurso de um louco... um discurso de Nero. Sete de Setembro foi a Roma de Nero (Imperador romano – apontado por historiadores como ‘insano’), o Brasil.
Ela saiu pequena, saiu queimada, saiu chamuscada e no olho desse furacão está o presidente e todas as pessoas vestidas de verde e amarelo, que não foi um verde e amarelo da pátria, foi um verde e amarelo do terror... toca o terror no país, destrói, acaba com tudo, tudo o que foi construído até hoje está perdido.
Então foi um dia que o país se apequenou diante do mundo e se apequenou diante de si mesmo. A própria história depois vai contar isso. Lógico que quem botou a sua camisa verde e amarela, gastou dinheiro e foi até Brasília, não vai pensar assim, até porque nós temos resistência em avaliar os nossos erros. Imagine os erros políticos onde tem gastos financeiros, envolve emoção, torcida, um controle de coisas e o pessoal não vai fazer essa avaliação e a história vai fazer essa avaliação e lá na frente vai trazer talvez apontando o dia que o Brasil foi menor em toda a sua história e tem consequências ainda para frente.
Também tivemos diversos bloqueios de caminhoneiros pelos estados brasileiros. Os caminhoneiros foram usados como manobra política, um engodo para pressionar os demais Poderes?
Quanto à questão dos caminhoneiros, primeiro a gente tem que ter uma clareza. Não há unanimidade entre os caminhoneiros. É verdade que muitos caminhoneiros são bolsonaristas, não são brasileiros, patriotas, nada disso. Se fosse teria sido em outros momentos e não foram. O movimento ele é puxado e esse movimento dos caminhoneiros foi trabalhado e coordenador pelo presidente. Muitos dos caminhoneiros defendem a questão do presidente, muito mais pela força do agronegócio, do que alguma vantagem em relação a isso. Combustível não está nada barato, não melhorou o frete para eles, então eles são usados nas duas pontas. Um lado pelo governo que eles ajudaram a eleger e fizeram movimento para isso e do outro as pessoas que pagam, que é a questão do Agro.
Para o Agro o presidente é bom, ele não é ruim. É só a gente olhar o preço que está o dólar para o Agro que vende em dólar. E, se a gente verificar durante os últimos governos, a começar com Fernando Henrique Cardoso e o governo Lula, a grande dor de cabeça do Agro era a invasão sobre suas terras e ninguém pode negar que nesse período do Jair Bolsonaro eles podem dormir tranquilo.
Então quando o Agro faz a defesa ele tem motivos e razões suficientes para fazer a defesa. Já o caminhoneiro nem tanto. O preço das coisas subiu, o frete dele não subiu tanto, mas ele é massa de manobra, não só do Presidente da República, eles são massa de manobra inclusive de quem paga para eles trabalharem e é muito difícil essa consciência, essa consciência custa dinheiro, então muitas vezes ficar ali no movimento não é nem defender o presidente é defender as suas próprias condições de trabalho, mostrar de que lado eu estou para que eu seja beneficiado do outro lado.
É um grau de consciência muito refinado que requer muito estudo, muita compreensão para isso e na média o brasileiro não tem. Os caminhoneiros que tem essa consciência não estavam lá, mesmo sendo bolsonaristas, que ser de direita não tem nada a ver com ser bolsonarista e muitas vezes por ser de direita também tem essa opção de votar no Bolsonaro e não estaria naquele movimento. Eles não só foram usados até agora, como estão sendo usados e vão ser usados muito porque eles mostraram bastante resistência de um lado e flexível na sua consciência, resistente na teimosia e flexível na consciência todos nós viramos massa de manobra.
Bolsonaristas defendem que as decisões do Ministro do STF, Alexandre de Moraes, tem sido impositivas a exemplo de pedir a prisão de pessoas que segundo eles têm o direito de se expressar. Em que pese as declarações de ameaça contra o STF e seus Ministros, como avalia esse ponto de vista, faz parte da democracia ou extrapola esse conceito?
Quanto a questão do ministro Alexandre de Moraes ou dos demais ministros, antes o Alexandre Moraes ir para lá já se brigava contra o Gilmar Mendes, contra o Marco Aurélio Mello ou Celso de Mello que nem estão lá mais. São 11 ministros e decisão judicial, quando a gente chega até o Tribunal Judicial para decidir significa que pessoas querem do mesmo objeto posições diferentes. A Justiça beneficia só um, nunca vai beneficiar o outro. Automaticamente fazendo isso uma parte fica contente e outra parte vai ficar triste e revoltada contra, isso é em toda circunstância.
Podemos dar um problema mais simples, um pai e uma mãe que briga pela guarda de um filho, um vai sair muito contente da decisão os dois felizes não vai sair nunca. O problema da Justiça é exatamente isso, o Alexandre de Moraes só acerta? Não, ele comete erros. Mas ele é um professor de Direito, tem um grau de formação e não chegou ali por acaso, aliás um grande professor de direito, um grande constitucionalista, tem grande domínio não só da área constitucional como da área criminal, e as pessoas que estão brigando contra eles não têm formação nem técnica para a relação da área criminal.
Embora isso não signifique que em dado momento não possa ter razão em elação as suas dúvidas. A questão é o seguinte, a sociedade entrou numa briga que não é dela, o nível de discussão do Poder Judiciário é para altos patamares em definição lei. A pergunta que eu faço: se trocar os 11 ministros vai baixar o preço do gás, da gasolina, da energia elétrica? Vai ter influência na bolsa? Não vai. O Poder que menos interfere na vida de cada indivíduo é justamente o Judiciário. Então o Judiciário hoje é problema único e exclusivo do grupo político Jair Bolsonaro, que precisa de liberdade para falar o que quer e manter nas redes sociais. Se ele estiver certo ou errado em relação a isso, tem que ser um debate de alta Corte com base na Constituição e na liberdade de expressão.
Isso não é um debate das ruas, isso não vai transformar o Brasil em Comunista ou num pais onde não se pode falar as coisas, toda a liberdade só é liberdade porque tem regramento. Se não tiver regramento quem mais poder se torna ditador. Então essa é uma discussão, um debate inócuo, tem coisa muito mais importante para fazer no país do que o país parar para discutir essa questão.
Uma das questões muito importantes que precisa se discutir no país por exemplo, é a inflação que está voltando, nós já fomos vítimas da inflação e o país tem aí dois séculos de atrasos por causa das inflações, nada foi pior nesse país do que isso. Também se debater questões econômicas, reformas que não foram feitas, desemprego aumentando, fome, preço da cesta básica, da condição de vida que envolve energia, casa, é a condição de vida. Isso está matando pessoas, sem falar da saúde da questão da pandemia que foge em relação ao controle. Então discutir o ministro, quem fica quem sai, não altera em absolutamente nada a vida das pessoas. A posição do ministro só altera a forma de fazer campanha política na próxima eleição, isso é muito pequeno para o Brasil parar e gastar tempo em relação a isso.
Depois de acirrar os ânimos, o Presidente da República pediu desculpas e afirmou que não quis atacar os poderes com suas declarações. Essa mediação feita pelo ex-presidente Temer vai durar na sua opinião? Teremos uma relação menos conflituosa e mais respeitosa entre os Poderes?
O presidente recuou de medo. Justamente por não ter conhecimento, o presidente Jair Bolsonaro é a pessoa errada no lugar errado. Ele não tem conhecimento, não tem preparação para o cargo, quer ou não queira falta isso, isso é visível quando ele fala, quando vai conversar, ele não consegue sequer ser o líder de uma reunião. Imagine uma reunião que envolva doutores em economia, ele não consegue ser o chefe da reunião, ele vai perder o controle da reunião. O linguajar dele, ele é uma pessoa que não tem a formação para isso. Embora tenha a intensão, mas só de intensão a gente não resolve as coisas, agente verifica a intensão quando ele coloca Deus, coloca a família, coloca o Estado de Direito, tem a intensão, mas não tem o conhecimento para percorrer esse caminho. Todos nós queríamos ir na ilha do tesouro, mas se a gente não tem o mapa não vai conseguir chegar lá, e esse mapa aí no caso do poder é o conhecimento e relações para estabelecer isso.
Em uma mínima reunião, alguém que coordena a reunião tem que ter capacidade para coordenar, nem sempre precisa saber, mas sim coordenar, e ele não tem isso. Quando eu falo que ele é a pessoa erra e também está no lugar errado é o posicionamento, o que ele fala tem resultado, tem impacto, apesar de não ter conhecimento a sua voz causa impacto na sociedade, causa seguidores raivosos – porque aí você sai da condição da consciência e do populismo, vira amor e quem é contra fica com ódio, você divide a sociedade e isso é terrível – quando a pessoa está no local errado, está implodindo pontes, um país que precisa de união para crescer não podemos ter no local nesse momento uma pessoa que impede as outras de conversar.
O que o ex-presidente Michel Temer fez.. foi lá e colocar algumas pontes de pé. Ele não se arrependeu de nada do que ele falou, ele apenas viu a bolsa explodindo, o dólar lá em cima, a economia caindo – o ministro deve ter dito para ele: olha a bagunça que você fez. Dinheiro saindo do Brasil, dólar saindo do Brasil aos montes, nós estamos perdendo divisas e alguém deve ter dito para ele: “olha tudo que você falou deu nisso, vai lá fala isso para acalmar”, ele falou e acalmou.
Eu não acredito que dure porque não é um estado de consciência é um estado de emergência.
Ele não tem conhecimento e ciência do que fala e da importância do que ele fala pelo cargo que ele ocupa, não tendo isso a durabilidade pode ser até essa entrevista ser publicada ou até alguém colocar um microfone na boca dele. Ele não tem consistência naquilo que ele diz, mas todas as pessoas sem consistência são as que conseguem o maior número possível de seguidores, e isso é um perigo, todos os desastres no mundo foram feitos por pessoas que tinham alta capacidade de divergir impondo força e criando seguidores e isso é muito perigoso para o país.
Alfredo da Mota Menezes:
Tendo em vista os acontecimentos do dia e pós o 7 de Setembro, qual sua avaliação desse momento vivido no país, estamos caminhando para uma ruptura política e democrática?
Eu sou daqueles que duvidava e duvido muito no rompimento, no golpe de estado, porque não há clima para isso, seja só o PIB nacional, Febraban, Fiesp, muitas Federações de Indústrias desembarcaram do governo Bolsonaro, vamos dizer assim.
Esse grupo do chamado PIB nacional é contra essas ameaças e tudo mais. Em 1964 o primeiro grupo a aderir o golpe para derrubar Goulart foi o chamado PIB nacional, dessa vez não existe isso. Lá atrás também em 64, parte da mídia aceitou o golpe militar, não existe isso agora de jeito nenhum.
E é preciso dizer que os Estados Unidos, de 20 em 20 anos, libera documentos que ficam guardados nesse período e eles mostram claramente como os Estados Unidos montaram o golpe. Não é teoria da conspiração não, montaram o Instituto Brasileiro de Ação Democrática, financiaram a eleição de muitos parlamentares, financiaram boa parte da mídia, criou o clima de marcha da família com Deus pela liberdade, etc.
Pintaram o Goulart como comunista e ele era latifundiário, estávamos em plena Guerra Fria União Soviética de um lado os Estados Unidos de outro, a coisa estava pegando mesmo.
Aí os Estados Unidos praticamente deram o golpe, do meu ponto de vista os militares só foram usados pelos Norte Americanos. Qual o clima que existe nesse momento para chegar a esse ponto?
As próprias Forças Armadas, na sua maioria, devem caminhar por aí e outra coisa devem pensar: “vamos dar um golpe, pegar o poder e a partir de amanhã resolve o problema do desemprego, da inflação, resolve o problema hídrico, a desigualdade social diminui”, ou seja, eles também pensam! E, além do mais, que daria apoio a um golpe de estado no Brasil, não vejo dessa maneira que haveria condições e clima para isso.
Também tivemos diversos bloqueios de caminhoneiros pelos estados brasileiros. Os caminhoneiros foram usados como manobra política, um engodo para pressionar os demais Poderes?
Parte de caminhoneiros apoia de fato o governo Bolsonaro isso é fato e eu acho que eles acreditaram que aquilo que aconteceu no dia 07 era uma sinalização para mais radicalização por parte do governo e por consequência eles aderiam a isso.
Eles partiram então para o bloqueio, aí o que viu o Bolsonaro, o óbvio: a economia está ruim, a inflação está chegando a 10%, se ele Bolsonaro pensa em reeleição a economia tem que ir bem esse ano e principalmente o ano que vem. Bloqueios, etc., crise hídrica e tudo mais poderia complicar ainda mais o meio de campo.
Bolsonaro pede então que o pessoal recue, e também Tarcísio de Freitas, agora o meu ponto de vista é que os caminhoneiros acreditavam que este era um momento maior não para ruptura, mas maior para pressionar o Supremo Tribunal Federal, inclusive voltar a defender a urna eletrônica auditável, etc., só faltaram pedir cloroquina (risos), as pautas do Bolsonaro.
Aí o presidente mandou recado e eles pararam. Volto a dizer que eles fizeram isso para dar suporte ao presidente, pensando que o presidente ia endurecer mais ainda o jogo.
Bolsonaristas defendem que as decisões do Ministro do STF, Alexandre de Moraes, tem sido impositivas a exemplo de pedir a prisão de pessoas que segundo eles têm o direito de se expressar. Em que pese as declarações de ameaça contra o STF e seus Ministros, como avalia esse ponto de vista, faz parte da democracia ou extrapola esse conceito?
Encontraram no Alexandre de Moraes um tal inimigo, e o que foi que este ministro fez que tanto desagrada, mandar prender Roberto Jefferson? Porque Roberto Jefferson tinha o direito de expressar e tudo mais, mas quem levantou os detalhes da atuação equivocada do Roberto Jefferson foi a Polícia Federal.
Ele estava passando dos limites, ou seja, fazendo notícias falsas, ameaças concretas a pessoas, e, em cima disso tudo o ministro pediu a prisão dele.
O direito de fala, o direito à liberdade de expressão tem um limite. Lá nos Estados Unidos, o dito país da alta democracia, etc., veja o que aconteceu com o Trump, tanto na Justiça quanto nas mídias sociais, eles cortaram o Trump quando ele era presidente e cortaram depois que ele deixou a presidência, porque o cara estava mentindo demais.
Então pode mentir o tanto que quiser e não pode falar nada e escolheram o Alexandre de Moraes e o ministro Barroso também como inimigos do governo aquela coisa toda, no geral os populistas sejam de esquerda ou de direita têm que ter “inimigos” com aspas.
Eles inventam e aí os seguidores seguem, como se o populista estivesse do lado do bem da verdade e tudo o que ele fala é correto e os outros que são contra, que se colocam em outra posição, são os errados.
Depois de acirrar os ânimos, o Presidente da República pediu desculpas e afirmou que não quis atacar os poderes com suas declarações. Essa mediação feita pelo ex-presidente Temer vai durar na sua opinião? Teremos uma relação menos conflituosa e mais respeitosa entre os Poderes?
Primeiro nessa do Temer e do Bolsonaro mostra um aspecto que acho que a mídia está explorando muito pouco, é o isolamento político do Bolsonaro.
Qual é o grupo político do presidente Bolsonaro? Qual? Ele não tem nem partido político, eu acho que na história do Brasil é a primeira vez que alguém está no poder e não tem um grupo político, quando se está num partido político tem algumas lideranças e esse presidente não tem isso.
Não tendo partido qual o grupo dele? As pessoas, nós saberíamos, aí ele chamou o Temer que nem faz parte do círculo dele para conversar, porque ele só conversa com os filhos praticamente.
E aí assinou essa nota que eu tenho que aplaudir, eu li a nota com cuidado, aí surge a dúvida: o presidente muda o seu comportamento a partir dessa nota? Ou é a dúvida nacional principalmente das análises.
Isso não dura muito tempo que o velho Bolsonaro volta daqui há pouco. A nota foi interessante, chamou a atenção, ponderada, como se disse vamos para o diálogo, inclusive ele conversou por telefone com o Alexandre de Moraes, mas tem aquela dúvida mas torcemos para ter algo diferente, um Bolsonaro diferente com diálogo e tudo mais, ou ele pode estar fazendo isso para diminuir a fricção política que atinge a economia e ele que busca a eleição, se a economia não for bem este ano principalmente o ano que vem, ele perde a eleição e ele sabe, os dados mostram que cada briga política entre os Poderes atinge a economia, o dólar, a bolsa, por isso que o PIB nacional está preocupado soltando nota porque sabem que isso atrapalha ganhar mais dinheiro.
Será que Bolsonaro vendo tudo isso atrapalha a economia e pode fortemente atingir a reeleição dele, ele quer mudar? Sei não, vamos esperar um pouco para ver se surge aí um novo Bolsonaro.
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