• Cuiabá, 04 de Setembro - 2025 00:00:00

Cenário de incêndios no Pantanal está sob controle, aponta coordenador do Ciman-MT


Rafaela Maximiano - Da Redação

Os incêndios que assolam a região do Pantanal há dois meses são os maiores da história. Dados do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) apontam que 15% do Pantanal foi consumido, uma área equivalente a 2,2 milhões de hectares. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), neste ano, foram identificados 15.756 focos de calor no Pantanal. Antes disso, o maior número tinha sido registrado em 2005, 12.536 focos.  

Mais do que números, no entanto, os incêndios na maior planície alagada do mundo são uma tragédia devastadora para a fauna e a flora de um dos biomas até então mais preservados do país, e abrigo de animais em extinção, como a onça-pintada.  

Para falar sobre o assunto na Entrevista da Semana, o FocoCidade conversou com o tenente-coronel Dércio Santos da Silva que atualmente exerce as funções de diretor operacional adjunto do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT) e coordenador geral do Comitê Temporário Integrado Multiagências de Coordenação Operacional do Estado, o Ciman

De acordo com ele, mais de 800 homens e mulheres trabalham diretamente na Operação Pantanal II e mais de 6.500 mil agentes, já atuaram no combate aos incêndios florestais em todo Estado. 

Uma notícia positiva informada pelo tenente-coronel Dércio que está na região de Poconé acompanhando de perto os trabalhos, é de que na última semana, entre os dias 19 e 25 de setembro, houve uma redução de mais 90% dos focos de calor. 

Com 49 anos de idade, o TC BM Dércio Santos da Silva acumula a experiência de ter estado à frente do Comando Regional Bombeiro Militar I, do 3° Batalhão de Bombeiros Militar de Rondonópolis, da 2ª Companhia Independente de Bombeiros Militar de Cáceres e da 10ª Companhia Independente de Bombeiros Militar de Sorriso. No Corpo de Bombeiros já desempenhou as funções de corregedor-geral adjunto, diretor adjunto de ensino, diretor adjunto de Segurança Contra Incêndio e Pânico, e diretor adjunto de administração institucional. Também atuou na SEMA como secretário Executivo de Gestão do Fogo. 

Confira a entrevista na íntegra: 

Desde quando o Corpo de Bombeiros está atuando no combate aos incêndios no Pantanal e como está sendo o trabalho desenvolvido pela corporação frente as queimadas no Pantanal: qual as principais dificuldades e estratégias já usadas que se apresentaram efetivas? 

O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso atua no pantanal desde o dia 17 de julho deste ano em resposta aos primeiros incêndios registrados na região. No dia 07 de agosto foi iniciada a Operação Pantanal II que conta com a participação de diversas instituições Federais, Estaduais e Municipais.  

As dificuldades nos combates estão ligadas ao terreno, tipo de vegetação, falta de acessos e as condições climáticas de temperatura, umidade e ventos que tem potencializado o avanço dos incêndios. Esses fatores têm dificultado e em alguns pontos tornado inviável o combate direto pelas equipes. A construção de aceiros e linhas de defesa tem se mostrado mais eficiente.  

Quantos homens atuam no combate ao incêndio e como está sendo realizada a integração com outros parceiros? 

Já passaram pela operação ao todo mais de 800 homens e mulheres trabalhando diretamente na Operação Pantanal II. Atualmente existe 290 pessoas trabalhando diretamente no combate às chamas na Operação Pantanal. A interação entre as instituições foi instituída pelo Comando Unificado e está sendo gerenciada pela ferramenta do Sistema de Comando de Incidentes, o SCI. Ao todo já atuaram no combate aos incêndios florestais em todo Estado mais de 6.500 mil agentes, pois existem outros focos de incêndio sem ser na região do Pantanal. 

O que pode ser atribuído a esse recorde de queimadas? Será possível identificar os causadores e puni-los? 

O incêndio florestal depende de alguns fatores para ocorrer, tais como, temperatura, baixa umidade, matéria orgânica – que acaba sendo combustível para o incêndio. Quando todos esses fatores se reúnem, aliados a outros elementos como fortes ventos e dificuldade do terreno para o combate, a tendência é que os incêndios ganhem ainda mais proporção. 

Esse ano enfrentamos uma grande estiagem, o acúmulo de material combustível, principalmente no pantanal é notório e tudo isso contribui para que esse ano esteja sendo registrado mais focos de calor que nos anos anteriores. 

Já foram realizadas cinco perícias na região do Pantanal. Assim, é possível identificar as causas do incêndio e posteriormente a responsabilização dos causadores. Lembrando que essas ações vêm sendo realizadas em conjunto com outros órgãos como a POLITEC, a DEMA e o IBAMA. 

Além dos fatores naturais e climáticos faltou prevenção para impedir incêndios dessas proporções? 

Quando falamos de aspectos ligados aos incêndios florestais, a discussão deve ser mais ampliada. A prevenção é um dos pontos e sabemos que várias agências fizeram, só que as complexidades que os incêndios florestais nos desafiam envolvem vários fatores relacionados: prevenção é um deles. Sabemos da dificuldade que é combater e nós entendemos como um complexo maior: formulações estruturais e não estruturais, orçamento, recursos gerais, equipamentos, materiais. Todo esse complexo que pode definir o êxito ou o fracasso. Se falarmos apenas de prevenção ou algo pontual fica difícil de dizer com efetividade se faltou prevenção. Vemos nas grandes cidades e países no mundo, por exemplo, muita atividade, mas os fatores adversos são maiores e os incêndios acabam ocorrendo. 

Como está a atual situação no Pantanal? Há risco de o fogo se alastrar para outras localidades? 

Entre os dias 12 a 18 de setembro deste ano foram registrados pelo satélite de referência do INPE, 2.145 focos de calor no Bioma Pantanal de Mato Grosso. Entre os dias 19 e 25 do mesmo mês foram registrados pelo mesmo satélite 212 focos, uma redução de mais 90% dos focos de calor. Mesmo diante dessa expressiva redução; efetivo de homens, viaturas e aeronaves da operação foram incrementados para evitar um novo aumento. Portanto, a situação é estável com uma tendência de diminuição dos focos ativos na região gradualmente.

O senhor é diretor geral do Comitê Temporário Integrado Multiagências de Coordenação Operacional de MT, o Ciman-MT. O que é este comitê e como ele atua neste momento? 

O Ciman tem o objetivo de fortalecer as ações de monitorização, prevenção, preparação e resposta rápida às queimadas e incêndios florestais de forma integrada com demais órgãos do Governo. O Centro é constituído pela Casa Civil, Secretaria de Estado de Segurança Pública e de Meio Ambiente, sendo coordenado pelo Corpo de Bombeiros Militar. 

Além desses, fazem parte do Ciman, como instituições convidadas, mais quinze órgãos que possuem afinidades com a área, como o Exército Brasileiro, Ibama, ICMBIO, Delegacia de Meio Ambiente, Polícia Militar de Proteção Ambiental, organizações não governamentais, dentre outros. 

O comitê foi Instalado pelo Decreto nº 568 em julho deste ano e tem o objetivo de oferecer instrumentos que integram de forma harmônica as instituições constituídas, visando o objetivo comum que é a mitigação das queimadas e incêndios florestais, que tanto prejudicam a todos no Estado. 

Qual a importância das ações desenvolvidas pela Corporação, pelo Governo do Estado e pelo efetivo de Bombeiros Militares empenhados na Operação? 

As ações têm sido fundamentais para o sucesso da operação mesmo diante da dificuldade imposta pelos fatores climáticos e pelo terreno. São realizadas de forma planejada com acompanhamento de ferramentas de geomonitoramento. O Governo do Estado tem envidado esforços no emprego de suas forças, e na solicitação de reforço da União, quer seja de recursos quer seja de apoio operacional com tropas e viaturas. Mesmo diante dos números que apontam uma expressiva redução dos focos ativos no Estado e no Pantanal a ordem é intensificar todos os recursos. 

Quanto à saúde dos profissionais que estão atuando no combate aos incêndios. Existe equipamento adequado, houve algum acidente? 

Até o presente momento não houve intercorrência que afetasse a saúde dos combatentes. Eles são treinados e fazem uso de equipamentos de proteção Individual para garantir uma atuação segura e eficiente. 

Há uma perspectiva para o fim das queimadas?  

Todo o esforço está sendo empregado com o intuito de finalizar os incêndios no pantanal. Hoje estamos intensificando a implementação das equipes em campo, com ações em Barão de Melgaço e Porto Jofre. Recebemos 48 militares da Força Nacional. Também fazemos o monitoramento e vigilância das áreas onde o fogo já foi combatido e temos uma tropa que atuará em conjunto próximo à divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que passa pela mesma situação de incêndios florestais. Mesmo com a redução dos focos, ainda é necessária uma força-tarefa para que o estágio de controle total do fogo seja alcançado. Contudo, uma avaliação mais precisa quanto ao término da operação será feita quando houver estabilização positiva dos fatores que contribuem para o controle e extinção. 




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