Rafaela Maximiano - Da Redação
Enquanto os casos de coronavírus continuam a aumentar no mundo todo – leia-se no Brasil, também se consegue verificar uma crescente ansiedade e até um certo pânico surgindo no comportamento das pessoas. Isso fica evidente, por exemplo, no aumento vertiginoso na busca por máscaras cirúrgicas e álcool em gel. A Itália impôs quarentena em todo o seu território em uma tentativa de barrar a proliferação do vírus, e diversos países europeus fecharam universidades e escolas. Eventos que aglomeram grande número de pessoas estão sendo cancelados por conta da ameaça do covid-19.
O FocoCidade conversou com o secretário de Saúde de Várzea Grande, Diógenes Marcondes e pontua na Entrevista da Semana medidas especiais que o município já realizou para, se for necessário, agir com urgência em casos de suspeita/ou confirmação de coronavírus, além é claro de sanar dúvidas sobre esta nova doença.
Acumulando a experiência de ser funcionário de carreira do Estado desde 2004 e do Sistema Único de Saúde desde 1997, Diógenes Marcondes explica que a Saúde do município é a responsável pelos atendimentos de casos suspeitos do covid-19 no Aeroporto Marechal Rondon e afirma que Várzea Grande quer atuar de forma preventiva para tomar medidas rápidas diante de qualquer suspeita.
Confira a entrevista na íntegra:
Apesar de se tratar de uma doença ainda pouco conhecida, o senhor acredita que o Brasil tem condições de diagnosticar e tratar seus pacientes?
O Sistema de Saúde no Brasil por ser diferente da estratégia na maioria dos países leva vantagens no monitoramento e no tratamento do coronavírus. O Sistema Único de Saúde, o SUS, tem uma capilaridade muito grande, as vezes chega em lugares que nem a Educação chega, chega em lugares que às vezes nem existem escolas. Como é o caso por exemplo do programa de agentes comunitários rurais. Usando esse sistema, o Brasil consegue se proteger mais de epidemias como esta, do que outros países. O novo vírus é apontado como uma variação da família coronavírus e nomeado oficialmente pela Organização Mundial de Saúde como covid-19. Por enquanto não existem medicamentos e vacina específica para o covid-19, o tratamento hoje é feito similar à de uma infecção respiratória.
Quais as medidas que o município de Várzea Grande está tomando contra o coronavírus?
Várzea Grande já se preparou desde as primeiras notícias do novo vírus. Realizamos capacitações ainda em fevereiro. Várzea Grande e Cuiabá foram chamados para reuniões junto com a Secretaria de Estado de Saúde para dar início a ações e poder realizar planos emergenciais de contingenciamento de uma possível epidemia. Uma preparação. Então o município de Várzea Grande possui um plano de contingência com todas as ações previstas e insumos necessários. Já realizamos capacitação de toda rede pública e privada do município de Várzea Grande. Nós também já fizemos o nosso fluxo de atendimento e o fluxo de manejo clínico para toda nossa assistência. A prefeita Lucimar Campos já se reuniu com todos os secretários municiais para pedir a parceria de todos em caso de emergência. Estamos realizando palestras sobre o assunto em eventos das secretarias que tenham público significativo e iremos nas pastas conversar, principalmente na rede de Educação e de Assistência Social porque são áreas que têm muitos grupos de pessoas, muitos alunos. Além da prevenção estamos orientando esses alunos a levar orientações e informações sobre o que é a doença, principais sintomas, modos de transmissão e também as formas de prevenção para suas famílias. Estamos fazendo panfletos que iremos distribuir simultaneamente com essas ações. Entendemos que temos de trabalhar principalmente na prevenção da doença.
O que uma pessoa deve fazer se apresentar algum sintoma? A quem ela deve recorrer?
Se a pessoa apresentar sintomas gripais, ou se ela viajou para algum país ou estado que está com transmissão local, a primeira atitude a fazer é de procurar uma unidade de saúde mais próxima de sua casa. Não precisa ser o pronto-socorro nem as unidades de pronto atendimento, podem ser as UBS mesmo. Nossas equipes estão capacitadas para atender, notificar, acompanhar e orientar, toda a população em Várzea Grande, todos os profissionais de saúde estão treinados para atender as pessoas. Mesmo que seja um sintoma gripal é bom procurar uma unidade de saúde, por que somente o médico poderá avaliar.
E, se algum caso for confirmado qual o procedimento? O que vai acontecer com esse paciente? Isolamento em hospital ou na sua residência?
A conduta com o paciente quando este chega na unidade de saúde é de que ele receba uma classificação caso possua os sintomas do convid-19. Precisamos saber se ele é um caso leve, moderado ao grave. E frente a cada classificação nós vamos ter uma conduta. Um exemplo, um caso classificado como leve pode ser atendimento na unidade de atenção básica. Esse paciente será isolado e colocado máscara nele. O profissional de saúde que vai fazer a coleta, também usará máscara, e mandará esse material para o laboratório do Lacen. Em seguida é feita a notificação e esse paciente vai para isolamento domiciliar. Damos todas as orientações quanto ao cuidado com a máscara, com a lavagem das mãos, utensílios que não podem ser compartilhados com outras pessoas, além de se evitar sair de casa e ir a locais de aglomerado de pessoas. Mas em todas as classificações o paciente será avaliado terá o material coletado que é a secreção das narinas e faringe, são três cotonetes um em cada narina e um na garganta, caso o paciente esteja entubado é feito aspiração. Todos vão ser tratados pelos sintomas por que não tem uma medicação específica.
Nas redes sociais surgiram notícias que haviam casos de pessoas com coronavírus em Várzea Grande. Essas pessoas com suspeitas procuraram a rede pública de saúde? Já existe algum caso confirmado?
Em Mato Grosso não há nenhum caso confirmado de coronavírus (até a última sexta-feira 13), nós temos casos suspeitos. Na semana passada tivemos 11 casos suspeitos de H1N1, sendo cinco descartados e seis em investigação, estamos monitorando os casos aguardando os exames definitivos que podem confirmar ou descartar o H1N1 nesses pacientes. Mas, Várzea Grande não possui nenhum caso confirmado do coronavírus bem como em todo Mato Grosso.
Várzea Grande acaba sendo a porta de entrada do Estado com o aeroporto Marechal Rondon em seu território. A Secretaria de Saúde de Várzea Grande possui alguma responsabilidade em casos suspeitos ou é o Estado que realiza essa investigação?
Várzea Grande tem essa responsabilidade estabelecida em reunião com as secretarias de saúde de Cuiabá e do Estado. Nós também temos um planejamento. Temos contato direto com a ANVISA que fica dentro do aeroporto. Tivemos várias conversas e estabelecemos um fluxo de atendimento lá dentro. Então, assim que eles sabem de qualquer caso suspeito eles ligam para gente, fazem o contato, e, a gente vai até lá e faz toda a investigação no paciente para confirmar o caso ou não. Estamos diretamente ligados ao aeroporto e temos uma boa relação com eles.
O que é exatamente o coronavírus e como fazer para se prevenir?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em dezembro do ano passado. Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. Para se prevenir orientamos a lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool. Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas. Evitar contato próximo com pessoas doentes. Ficar em casa quando estiver com alguma suspeita. Cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo. Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência. Os profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas: máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção. Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
Como ocorre a transmissão do covid-19?
As investigações sobre as formas de transmissão do coronavírus ainda estão em andamento, mas a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por gotículas respiratórias ou contato, é o que ocasiona a transmissão. Alguns vírus são altamente contagiosos, como por exemplo o sarampo, enquanto outros são menos. Ainda não está claro com que facilidade o coronavírus se espalha de pessoa para pessoa. Apesar disso sua transmissão deve ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como: saliva, espirro, tosse, catarro, aperto de mão ou ainda por objetos ou superfícies contaminadas. Sabemos que o período médio de incubação por coronavírus é de 5 dias, com intervalos que chegam a 12 dias, período em que os primeiros sintomas levam para aparecer desde a infecção.
Máscaras são eficazes para proteção contra esse novo vírus?
Apesar de muita gente ter passado a usar máscaras para tentar se prevenir do covid-19 o uso delas não é necessário para a população em geral no atual estágio da epidemia no país. A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que somente pessoas que estão doentes usem máscaras. Isso para que estas pessoas que tiverem sintomas de infecção respiratória evitem a transmissão para outras pessoas. Também deve usar as máscaras quem tiver contato com alguém infectado ou com suspeita. A recomendação para quem usa máscara é de usá-la bem justa ao rosto sem vãos laterais que permitam a circulação de gotículas que possam estar contaminadas.
Secretário, Várzea Grande tomou medidas para dar mais transparência ao atendimento à saúde pública no município, principalmente nas três unidades de urgência e emergência que funcionam 24 horas. Quais foram?
As informações sobre doenças respiratórias graves e os atendimentos de urgência nas unidades de saúde são disponibilizadas online para que toda a sociedade acompanhe pelo portal da prefeitura. No site estão todos os atendimentos de urgência e emergência. É possível checar diariamente como está o movimento no Pronto Socorro e nas UPAS. Inclusive antes de ir à unidade de pronto atendimento a pessoa pode checar qual está com menor atendimento naquele momento, para se dirigir até lá e não precisar ficar esperando. O objetivo é dar transparência, pois lá estão todos os casos seja de acidente, traumas, complicações clínicas, além disso também disponibilizamos on-line a escala médica, ou seja, é possível acessar e ver quais médicos estão atendendo e os horários em todas as nossas unidades.
Neste mês de março, foi concluída a reforma e ampliação do Pronto Socorro de Várzea Grande, que teve início em 2015. São cinco anos de reformas, o que mudou para a população que é atendida nesta nova estrutura?
A população tem agora 100% do Pronto Socorro e Hospital para atendê-lo de forma humanizada. A última etapa concluída por exemplo foi a readequação da ala infantil. A enfermaria e a recepção do atendimento infantil não estão mais separados, tudo passou a funcionar em uma ala única e com uma brinquedoteca. São três consultórios, 12 leitos, box de emergência, um leito de isolamento e três enfermarias com 25 leitos. Unimos toda a enfermaria e o pronto atendimento infantil em uma única ala, além do isolamento, isso garante para a população um ambiente organizado para que as pessoas possam de forma humanizada serem atendidas. Investimos durante esses cinco anos a média de R$ 3 milhões por ano, totalizando aproximadamente R$ 15 milhões em reformas, infraestrutura, mobiliários e aumento de leitos. Todos os blocos, do A ao E, passaram por reformas. Houve mudanças também no atendimento de pré-natal e na estrutura para fazer os partos. Chama-se Rede Cegonha, que é o centro de parto normal. Que só o Hospital e Pronto Socorro de Várzea Grande tem esse centro de parto normal no Estado, por isso nós conseguimos inverter o que foi divulgado pela imprensa neste mês de março, que Mato Grosso realiza mais cesárias do que partos normais. Aqui em Várzea Grande nós temos uma inversão, em torno de 60% são de partos normais e 40% de cesárias. Hoje nós temos cerca de 120 nascimentos por mês e 60% deles são normais. Também houve adequação e reforma no pronto atendimento geral, box de emergência, sala de emergência, setor de coleta de sangue. Tudo foi reformado. A demanda de atendimentos a traumas ocasionados por acidentes é muito grande para isso traçamos uma meta inclusive com o TCE de ampliamos a capacidade de atendimento. Para isso, inauguramos a UPA do Ipase e a UPA do Cristo Rei, inauguradas nesta gestão. Elas desafogaram o Pronto Socorro para fazer a sua vocação que são os traumas mais complexos. Tínhamos somente um centro cirúrgico com uma sala de cirurgia funcionando durante o processo da reforma, hoje temos um centro cirúrgico com três salas todas equipadas para as cirurgias de urgência e emergência. A saúde avançou muito, atualmente Várzea Grande oferece serviços de qualidade e tem estrutura para isso.
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