Paulo Lemos
Na contemporaneidade, observa-se uma imposição social da felicidade como obrigações, ao passo que a dor é frequentemente tratada como sinal de derrota pessoal.
As redes sociais exibem imagens de conquistas e sorrisos impecáveis, enquanto, nos bastidores, muitos enfrentam batalhas subjetivas e silenciosas: despertam sob o peso da existência, vestem máscaras sociais e perseveram, mesmo quando a exaustão emocional sugere a desistência.
Convém explicitar uma verdade relatada: a coragem autêntica não se manifesta nos holofotes da exposição pública, mas, sim, nos recessos mais íntimos da psique humana. Ela se revela no esforço cotidiano de enfrentar a depressão, no controle das emoções antes de compromissos profissionais, e na decisão solitária de persistir, apesar do esgotamento.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 280 milhões de pessoas convivem com depressão globalmente.
Muitas delas desenvolveram estratégias sofisticadas de adaptação social: são produtivas, aparentam normalidade, e até sorriem, enquanto, internamente, lidam com intensos sofrimentos emocionais.
O paradoxo contemporâneo é notório: vivencia-se uma hiperconexão tecnológica, mas, simultaneamente, uma solidão afetiva sem precedente.
Compartilha-se a rotina superficialmente, mas oculta-se a vulnerabilidade autêntica.
A cultura da autoajuda e individualismo é exaltada, ao invés de mútua ajuda e cooperativismo, enquanto sentimentos legítimos de tristeza são patologizados.
A transformação significativa ocorre quando se compreende que:
"A vulnerabilidade não é sinônimo de fracasso, mas sim uma expressão da condição humana."
Solicitar auxílio não representa fraqueza, mas evidencia confiança.
A sobrevivência, diante da adversidade, já constitui um feito notável.
Como já proferiam os estoicos, não se controla o que acontece, mas é possível escolher as próprias respostas.
Neurocientificamente, a resiliência é fortalecida a cada decisão de perseverar.
Os verdadeiros heróis raramente figuram em narrativas cinematográficas:
A mãe que se mantém ativa após noites de insônia. O docente que continua a ensinar, mesmo desmotivado. O jovem que resiste à ansiedade. O idoso que reencontra sentido após perdas significativas.
Cada trajetória é relevante, não pelo destino final, mas pelo processo contínuo, passo a passo.
Cicatrizes não são sinal de fracasso, mas registros de experiências superadas.
Este manifesto destina-se àqueles que persistem.
A sociedade não cuida de super-heróis idealizados, mas de indivíduos autênticos, com medos e coragem verídica.
O mundo necessita de narrativas reais, não versões editadas e filtradas para limites sociais, mas relatos genuínos, singulares e impactantes.
Enquanto houver vida, subsiste a possibilidade de esperança. A jornada persiste. E cada pessoa, mesmo sem plena consciência, pode ser mais resiliente do que imagina.
A existência é desafiadora, mas a capacidade humana de enfrentá-la é, por vezes, ainda maior.
Paulo Lemos é advogado, psicanalista, filósofo e escritor.
paulolemosadvocacia@gmail.com


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