Sonia Fiori – Da Editoria
Paulo Lemos, advogado, defensor de Direitos Humanos, palestrante, articulista, escritor, professor e filiado no PT de Mato Grosso é o entrevistado da semana do FocoCidade.
Lemos é ex-secretário adjunto da Secretaria de Estado de Segurança Pública – exercício 2015, então sob comando do promotor de Justiça, Mauro Zaque.
É referência na advocacia – com destaque à ocupação de postos como o de presidente do Colégio de Ouvidorias das Defensorias Públicas do Brasil.
Já integrou os quadros do PSB, gestão Valtenir Pereira, como secretário de Formação Política, mas comunicou sua desfiliação em 2017 – depois da delação do ex-governador Silval Barbosa sobre suposto envolvimento de membros da legenda.
Aderiu ao PT em maio deste ano – pontuando o olhar de “luta pelos direitos do povo”.
Mas chama a atenção, desta vez, a batalha dentro do próprio partido, ao discordar e denunciar suposta fraude no processo de eleição interna do PT (sendo negada pela direção estadual), a sua decisão de permanecer na agremiação – e mais uma vez, assumindo a árdua missão de fazer valer a premissa da defesa da instituição partidária sobre os fundamentos da Justiça Social.
“A força vital do Partido dos Trabalhadores não vem da conciliação de classe com os donos do poder, virá da radicalização na aliança inquebrantável com o povo”, assevera.
Confira a entrevista na íntegra:
Sua luta à justiça social, se aplicando em todos os eixos de atuação, também é uma de suas defesas na militância política. Após tantos anos de experiência, acima de tudo e dos contratempos, pode afirmar que a causa compensa?
Compensa! No meu caso, posso afirmar que essa luta é como oxigênio para os meus pulmões. Dá ânimo para minha vida. Um propósito para viver. Porém, os sobressaltos existem, como incompreensão, preconceito e julgamento, sobretudo na área dos direitos humanos, ante muita desinformação, fruto da enorme defasagem em educação em direitos humanos e fundamentais, além da violação sistêmica deles. Quando, porém, fazemos enfrentamos diretos a casos de corrupção e o crime organizado, como já fiz, daí são ameaças, veladas ou mais proclamadas, contra a vida mesmo, como já enfrentei. Entretanto, morrer, todos morreremos um dia. Melhor em pé, do que de joelhos. E os responsáveis sofrerão as consequências. Todavia, aprendi a me defender ao longo do tempo, me preparei para isso, e não temo a vilania dos covardes, que se escondem atrás de armas, sendo inseguros e medrosos de outras formas.
Entretanto, morrer, todos morreremos um dia. Melhor em pé, do que de joelhos.
Recentemente, o senhor publicou um artigo – “carta aos petistas de verdade”, e considera um contexto que é contrário aos preceitos da instituição partidária, e a direção estadual nega supostas fraudes. E em que pese sua frustração, há um fator que chama a atenção quando decidiu manter a posição de continuidade da batalha. Por quê?
As fraudes existiram e são incontroversas. Todos dentro do partido sabem disso, embora o campo majoritário, do qual faz parte o presidente e deputado estadual Valdir Barranco, ignora o assunto como não existente, fazem ouvidos moucos e olhos de morcego, com o sonar desligado, já que foram os principais beneficiados. Desafio o presidente Valdir Barranco a me processar na esfera cível e criminal dizendo o contrário. E não foi fato isolado. Mas, de todos, o mais libertinoso e inconsequente deles, que ganhou notoriedade nacional, trata-se da eleição do Diretório em Terra Nova do Norte/MT, exatamente onde o candidato a presidente municipal, sem concorrentes, praticamente fabricou uma lista de presença inteira, para que pudesse inserir os votos fantasmas nas urnas, pois sem fiscalização, de pessoas que não foram votar e tiveram suas assinaturas adulteradas. A estimativa é de aproximadamente 100 assinaturas fraudadas. Sônia, a razão de ser e existir da luta é precisamente dar combate aos malfeitos, denunciar os malfeitores e dar cabo a estas práticas nefastas, de bandidismo mesmo. E se houver muita gente envolvida, cúmplice, por ação ou omissão, é formação de quadrilha, são bandidos quadrilheiros, que merecem ser presos. No entanto, quando decido permanecer nas fileiras do PT, é porque sei que entre seus três milhões de filiados a maioria absoluta, qualificada, é de gente de esquerda, que defende e acredita na possibilidade de cidades, estados, um país e mundo mais justo e solidário, com as liberdades fundamentais asseguradas a todos. O PT é patrimônio do povo brasileiro, instrumento de defesa dos trabalhadores, miseráveis, marginalizados, excluídos e discriminados, enquanto que Lula é um fenômeno mundial, principalmente no combate à fome, cravou seu nome para história dos maiores líderes que passaram pela Terra, no caso dele, de pau de arara à presidência da República.
O PT é patrimônio do povo brasileiro, instrumento de defesa dos trabalhadores, miseráveis, marginalizados, excluídos e discriminados.
Em trecho, destaca que “não darei uma de Dom Quixote ou Grilo Falante, por um lado, prepotente, em achar que sozinho partirei para a esgrima com toda máquina partidária, ou ingênuo, em achar que pulando e falando sozinho vou converter o partido ao socialismo, seus valores e princípios, quando hodiernamente mais se aproxima do neoliberalismo”. É um grito da alma ou de alerta?
De ambos. Escrevi o artigo com o coração na ponta dos dedos, contudo mediado pela razão que sempre me acompanha, a capacidade de pensar, de refletir criticamente, mesmo que nem sempre esteja certo. O que quis dizer é que da sua fundação, até aqui, com a experiência de ter permanecido no governo federal durante mais de uma década, optando por uma política conciliatória com as velhas oligarquias brasileiras e com a estrutura burguesa, sem falar no núcleo duro do neoliberalismo, o rentismo, com Henrique Meirelles no Banco Central, alguns comportamentos e práticas, também valores, foram adquiridos, ou aderidos, contaminando parte da cultura popular e democrática do partido, mudando sua organicidade, de mais horizontal e programática, para outra verticalizada, em que as instâncias partidárias passaram a fazer sombra aos núcleos de base e tendências dentro da agremiação, quando não simplesmente ignorá-los. E isso só vai mudar pelas bases, não pela classe dirigente que concentra o poder em suas mãos, de definir os rumos do PT, que não é propriedade privada de alguns seres "iluminados", e, sim, de todos filiados, de todo povo brasileiro.
Uma flor para viver precisa de terra, água e sol. Elementos vitais para que não morra e apodreça.
Contextualizando partido (PT) e Direitos Humanos – quais os avanços e como avalia essa seara no Governo Bolsonaro?
O governo do PT avançou muito na área social e econômica, com um Estado de bem-estar, especialmente nas condições materiais de um mínimo existencial para sobreviver, assim como uma existência digna, inclusive no campo de uma moral inclusiva e celebradora da diversidade. O governo Bolsonaro é a negação a tudo isso, retira direitos, neoliberal em última potência, como laboratório dos EUA, entreguista de todo e qualquer patrimônio que assegure a soberania nacional e encara os direitos humanos como inimigo mortal, e idolatra o Ustra e festeja a ditadura e a tortura, tendo fortes ligações com grupos paramilitares, como na Colômbia, as milícias, tendo milicianos amigos de todos os seus filhos, até mesmo já condecorado solenemente a pedido da família Bolsonaro. Algo surreal. O tratamento deles para com os direitos humanos, é semelhante ao que a ex-vereadora do PSOL do Rio, Marielle Franco, recebeu, execução a céu aberto, no centro da cidade, em horário de grande fluxo.
Sintetizando sua análise em “sinto que há algo de podre na Dinamarca, e o Brasil precisa mudar, a começar pelo PT”. De que forma?
Uma flor para viver precisa de terra, água e sol. Elementos vitais para que não morra e apodreça. O PT se quiser continuar sendo a primavera que os poderosos não podem impedir de chegar, precisa dar um cavalo de pau e se voltar para sua base social e organizações de esquerda, envolvendo-as no processo construtivo e decisório, permanentemente, não apenas de dois em dois anos como cabos eleitorais. A força vital do Partido dos Trabalhadores não vem da conciliação de classe com os donos do poder, virá da radicalização na aliança inquebrantável com o povo.
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