Da Redação
A chegada a Cuiabá dos 300 anos é analisada nesta Entrevista da Semana ao FocoCidade, em críticas considerações pelo arquiteto e urbanista, José Antônio Lemos dos Santos, um dos profissionais mais experientes do setor e com expertise nesse cenário.
Lemos chama a atenção sobre falhas das gestões públicas acerca de planos voltados ao pleno desenvolvimento da Capital, e nesse aspecto, faz ressalva à letargia no mapa desenhado acerca da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá – com parcos avanços.
Nesse apanhado de apontamentos acentua a necessidade de um olhar especial em questões como a mobilidade urbana, representando um entrave entre a Capital e a cidade vizinha, Várzea Grande.
Lemos defende a continuidade das obras do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), sendo um desafio no Governo Mauro Mendes. “Uma vez decidido a favor do VLT e gasto mais de R$ 1 bilhão (sem atualização) entendo que o projeto deva ser concluído”, ressalta.
Na leitura sobre os modais de transporte, assinala perspectiva sobre a consolidação dos trilhos até a Capital. “É uma falácia dizer que não tem carga que viabilize a passagem da ferrovia. Quanto ao polo industrial, a ferrovia é que será um fator propulsor da Região Metropolitana de Cuiabá como principal polo verticalizador da economia mato-grossense.”
E na leitura da Cuiabá dos 300 anos, crava: “desafio das próximas gerações de cuiabanos será o aproveitamento racional dessas potencialidades de forma harmoniosa em um mesmo espaço urbano com as riquezas do passado”.
José Antônio Lemos dos Santos é conselheiro do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso), acadêmico da AAU (Academia de Arquitetura e Urbanismo) e professor universitário aposentado.
Confira a entrevista na íntegra:
Como está inserida Cuiabá no contexto da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá? Foram pontuados os esperados avanços na prática?
Não, apesar de ter sido elaborado um Plano Diretor para a Região.
Quais as maiores dificuldades para obtenção de melhores resultados?
Falta de interesse das autoridades políticas responsáveis pelas gestões públicas municipais e estaduais, exceto em alguns dos municípios menores integrantes da Região Metropolitana.
A mobilidade urbana é um entrave entre Cuiabá e Várzea Grande?
Sim, mas principalmente dentro de Várzea Grande e de Cuiabá, considerando a mobilidade urbana envolvendo desde o pedestre até o transporte coletivo de passageiros, passando pelas ciclovias e transporte motorizado individual, e inclusive o fluvial como alternativa espontânea de moradores para a travessia do rio ainda que precária em alguns de seus pontos.
Percebe-se uma tentativa do poder público de tentar adequar o município aos fatores de expansão, e nesse processo, existem dificuldades em razão de a Capital não ter sido planejada ao impulso da explosão demográfica. Essa chegada aos 300 evidencia os esforços devidos à adequação?
Não vejo qualquer esforço nesse sentido nas últimas administrações.
A evolução de Cuiabá e da Grande Cuiabá tem se dado apesar dos governos.
O plano diretor do município tem se mostrado instrumento eficiente diante das demandas da cidade?
O Plano Diretor de Desenvolvimento de Cuiabá perdeu sua estrutura técnica de planejamento, avaliação e monitoramento do desenvolvimento da cidade e assim está bem aquém das demandas da cidade.
A evolução de Cuiabá em relação ao pleno desenvolvimento socieconômico depende necessariamente do alinhamento de políticas entre a prefeitura e Governo do Estado?
A evolução de Cuiabá e da Grande Cuiabá tem se dado apesar dos governos. Seu desenvolvimento acontece por sua posição estratégica e pela economia de aglomeração que representa. É claro ser urgente esse alinhamento das políticas públicas municipais, estaduais e federais para a otimização de todas as potencialidades disponíveis.
Qual sua opinião sobre o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos? O Estado pediu prazo para apresentar posição, mas considerando valores já pagos sobre o modal e a demora para expansão do projeto, ainda seria viável?
Entendo que pelo volume de recursos já aplicado no VLT, o conjunto de obras já realizado e com o equipamento rodante estocado parado, inviável seria a não continuação do projeto. Esta posição pessoal minha manifestada em artigos se dá a despeito de eu ter sido favorável ao BRT quando se discutia a escolha entre os dois modais. Uma vez decidido a favor do VLT e gasto mais de R$ 1 bilhão (sem atualização) entendo que o projeto deva ser concluído.
Em relação ao eixo ferroviário, a sonhada chegada dos trilhos ao município, de fato pode se tornar uma realidade? Existe prós e contras – já que especialistas alertam que o modal só seria viável se o Distrito Industrial se tornar polo industrial, em razão da necessidade da “carga retorno” para baratear o transporte.
Existe uma parte significativa da produção do agronegócio no Médio-Norte e Norte de Mato Grosso que tem que ficar no Brasil com o consumo interno, e naturalmente tem que passar por Cuiabá. Se a ferrovia ficar em Rondonópolis essa carga vai ter que passar por Cuiabá por rodovia com destino ao terminal ferroviário de Rondonópolis. Portanto existe e sempre haverá uma carga com destino ao sudeste passando por Cuiabá. Por outro lado existe uma carga que vem do Sul/Sudeste com destino a Cuiabá, maior centro consumidor, distribuidor e produtor do estado para ser distribuída dentro do estado, parte de Rondônia, Sul do Pará e Nordeste da Bolívia, carga avaliada pela RUMO (sucessora da ALL) em 20 milhões de toneladas/ano, equivalente a toda produção de grãos do estado de Goiás no ano passado. É uma falácia dizer que não tem carga que viabilize a passagem da ferrovia. Quanto ao polo industrial, a ferrovia é que será um fator propulsor da Região Metropolitana de Cuiabá como principal polo verticalizador da economia mato-grossense.
Sua leitura sobre a Cuiabá dos 300 anos.
Cuiabá é uma cidade histórica plena, entendendo a história em seu fluxo total de passado presente e futuro, ao contrário de suas irmãs contemporâneas do ciclo do ouro que estagnaram. Aliás, entendo que o futuro tenha sido o principal legado histórico de nossos antepassados, não o único mas o principal. Viveram maus bocados para consolidar a posição da cidade em um lugar estratégico central cuja vocação natural é ser o grande encontro de caminhos do Oeste brasileiro e um dos principais no centro do continente, com todas as perspectivas e potencialidades que esta posição favorece. O desafio das próximas gerações de cuiabanos será o aproveitamento racional dessas potencialidades de forma harmoniosa em um mesmo espaço urbano com as riquezas do passado.
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