Morgana Moura
No mês de janeiro há uma movimentação maior no sentido de pensarmos sobre o cuidado em saúde mental. Mobilização essa que emergiu de um grupo de profissionais, em sua maioria psicólogas(os), que se uniu com o intuito de construir uma sensibilização maior a respeito dos sofrimentos emocionais.
Com tais intenções de divulgação sobre as estratégias de cuidado de si e do outro, o movimento proliferou sem autocríticas no que diz respeito a seus propósitos e como poderiam (ou não) acrescentar às ações já existentes em torno da saúde mental no país. Motes tais como “atendimento psicológico não é só para louco” ou afirmar que não há ações voltadas para os cuidados em saúde mental como nos demais nichos de saúde acabam por reforçar estereótipos sobre adoecimento mental e desqualificar ações já existes desde as primeiras mobilizações nacionais do Movimento de Luta Antimanicomial e os serviços específicos existentes.
Cumpre destacar que a proposta de um “Janeiro Branco”, mesmo com “boas intenções”, acaba por promulgar estereótipos higienistas, desconsiderando a saúde enquanto direito humano ou o sofrimento em sua natureza sociopolítica.
Por que será que o movimento, neste ano, não apresentou um posicionamento crítico sobre o corte de quase R$ 78 milhões para os serviços de saúde mental realizado pelo Governo Federal no final de 2018 (portaria nº 3.659, 14/11/2018)? Esse corte comprometerá os atendimentos das Redes de Atenção Psicossocial em 22 estados e no Distrito Federal.
Toda campanha pensada com a finalidade de divulgar informações sobre autocuidado é mais do que bem-vinda, desde que não protagonize ações que reforcem modelos de uma pseudo pureza, distinguindo sofrimentos emocionais e desconsiderando os processos históricos sociais e políticos que contribuem para o adoecimento mental.
Entendendo que o foco é desmistificar os padrões construídos em torno da saúde mental e lutar para garantir a devida assistência em saúde para toda a população, convidamos todas e todos a cuidar da saúde mental tendo a multiplicidade das cores como potência de vida, produzindo saúde para si e para os outros. Vamos cuidar de janeiro a janeiro e, se necessário, procurar ajuda de profissionais para nos orientar nesse processo.
Morgana Moura é psicóloga, mestre em Psicologia Social pela PUC São Paulo e presidente do Conselho Regional de Psicologia de Mato Grosso.
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