Antônio Carlos Paz
O colapso causado pela recente paralisação dos caminhoneiros de todo o país deu um duro recado aos gestores públicos. Ou eles modificam a forma como conduzem a Petrobras e tratam a questão dos combustíveis, ou muito antes dos que se espera serão registradas, novamente, as cenas dramáticas causadas pelo desabastecimento de itens essenciais nas grandes, médias e pequenas cidades.
A mudança na política de preços da Petrobras, marca da gestão de Pedro Parente à frente da empresa, trouxe danos altíssimos aos transportadores rodoviários, que em um país como o Brasil, que historicamente privilegiou as rodovias para movimentar suas riquezas, tem reflexos na competitividade do setor produtivo como um todo, inclusive no cenário internacional.
Só para se ter uma ideia, desde que a Petrobras adotou a chamada paridade internacional, ou seja, o preço dos combustíveis acompanhando o mercado internacional, a companhia reajustou os valores mais de 200 vezes. Só em abril foram 16 aumentos. Agora, imagine a seguinte situação: um transportador fecha um frete calculando gastar um determinado valor com óleo diesel, mas no meio da viagem há um reajuste. Pior, há casos em que, durante o transporte de determinada carga a Petrobras ter aumentado o preço do diesel mais de uma vez. Não há negócio que se sustente.
Mais do que isso, a forma como a Petrobras tem conduzido a questão fez com que muitos passassem a questionar a tão propalada autossuficiência na extração do petróleo, vendida pela empresa a todos os brasileiros. Como os números mostram que, de fato, a capacidade do país em produzir combustível está acima das necessidades, o ponto central do problema passa a ser forma como isso vem sendo gerido, especialmente nos últimos anos.
Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostram que em abril deste ano a produção do Brasil foi de 2,6 milhões de barris/dia, enquanto que o consumo doméstico ficou na casa de 2,2 milhões de barris/dia. Embora haja uma “sobra” de 400 mil barris, no mesmo período, foram importados para o Brasil 600 mil barris de derivados, o que é explicado pela necessidade da mistura dos tipos de petróleo a serem refinados. E é nas refinarias que está o ponto central do problema.
Isso porque, ainda no mês de abril, a Petrobras refinou somente 1,6 milhões de barris/dia, o que representa 68% da sua capacidade de processamento. Importando mais, mantendo a paridade imediata do preço do combustível com o mercado internacional e refinando menos, a Petrobras cria a tempestade perfeita, cuja conta é paga por toda a população. Ela deixa algo tão importante e estratégico para o país – e o caos gerado pela paralisação dos caminhoneiros é prova – suscetível a ataques especulativos.
É preciso mudar imediatamente a política de produção do petróleo, dando às refinarias mais capacidade de processar o combustível que extraímos no país e reduzindo o volume de exportações. Além disso, é fundamental criar um ambiente que torne mais previsível os preços cobrados nas bombas. Ou o Governo Federal entende que quando deixa a Petrobras agir desta forma prejudica a si mesmo, com prejuízos gigantescos na arrecadação, o que impacta a prestação dos serviços públicos, ou se tornará refém de ataques especulativos e os bloqueios que vimos recentemente se tornarão rotina.
Antônio Carlos Paz


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